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Relatório da Embrapa reforça que faltam mudas para restauração florestal no RJ
Faltam mudas florestais e viveiros para suprir toda a demanda de restauração e reflorestamento existente no Estado do Rio de Janeiro. Esta é uma das conclusões apontadas no recém-lançado Diagnóstico da cadeia de produção de mudas florestais para restauração no Estado do Rio de Janeiro – 2010-2020, publicado pela Embrapa em parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e a Secretaria de Ambiente e Sustentabilidade do governo estadual. “Pensando nas áreas com alta ou altíssima prioridade, a gente produz mudas em quantidades suficientes para suprir 1% dessa demanda, o que é muito pouco”, relata a pesquisadora da Embrapa Agrobiologia Juliana Freire.
Os levantamentos começaram em 2018, e o estudo teve como foco os viveiros da cadeia produtiva de mudas florestais nativas do Rio de Janeiro. “Diagnósticos de outros estados apontaram para uma retração no número de viveiros e uma dificuldade dos produtores, então nós queríamos saber se isso também acontecia aqui”, explica Juliana, que esteve à frente das pesquisas desde o início. Segundo ela, entender como está o cenário viveirista é fundamental para orientar políticas estaduais de restauração, fornecendo informações sobre a diversidade de mudas nativas, a capacidade de produção e a localização onde cada tipo de muda é produzido.
O relatório foi importante para auxiliar um novo edital do Fundo Brasileiro para Biodiversidade (Funbio), que abriu inscrições para instituições que atuam no reflorestamento e fortalecimento da cadeia produtiva da restauração de regiões hidrográficas do Estado. “Nosso documento é um suporte para consulta de projetos que visam a fortalecer a cadeia produtiva, já que ele descreve como é sua situação atual”, detalha Juliana.
O diagnóstico dividiu o Estado em nove regiões, seguindo a hidrografia do território fluminense, a fim de delimitar a quantidade de viveiros de cada área e o fluxo de produção, comparando-os à necessidade de produção de mudas para restauração. Foi utilizado como base um diagnóstico do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) sobre a quantidade de mudas demandadas para restaurar cada região hidrográfica do Rio de Janeiro. “Nós pegamos as áreas com alta ou altíssima prioridade e nos perguntamos: qual é o número de mudas necessário para restaurar essas áreas?”, conta a pesquisadora.
É possível observar que a exigência de restauração das áreas é muito maior do que o número de mudas produzido pelos viveiristas atualmente. A região do Guandu, por exemplo, possui 15 viveiros ativos, que, somados, produzem 898.038 mudas ao ano, mas necessita de cerca de 101 milhões de mudas para recompor sua cobertura vegetal. Juliana reafirma a importância da construção de um cenário de restauração efetiva através de políticas públicas e preços justos para os viveiristas. “É preciso ter uma demanda contínua de plantio”, observa, a fim de chegar a resultados mais favoráveis de recuperação desses territórios.
Viveiristas de todo o RJ foram entrevistados
A pesquisadora explica que este é o terceiro diagnóstico lançado, sendo o segundo a catalogar especificamente os viveiros. Para a realização da pesquisa, foram entrevistados 73 dos 81 viveiristas ativos registrados, por meio de formulário on-line com 69 perguntas. As questões tinham como objetivo entender melhor o perfil dos viveiros, a distribuição deles pelo Estado e a diversidade de espécies produzidas. Além disso, foi questionada a quantidade de espécies endêmicas e ameaçadas cultivadas nesses viveiros, o número de mudas totais produzidas, o nível de tecnologia adotada pelos viveiros e o cumprimento da legislação. A pesquisa procurou investigar as principais mudanças dos últimos dez anos e entender se a produção dessas mudas atende às demandas de restauração.
Dos 73 viveiristas entrevistados, 46 retornaram o formulário com a listagem das espécies produzidas, que, ao todo, somam 977. Juliana aponta que as plantas foram separadas e classificadas de acordo com sua origem, sendo que 55% (539) são nativas da Mata Atlântica estadual, cerca de 25% (241) são nativas de outros biomas ou não são nativas do Estado do Rio e 20% (197) são exóticas, ou seja, originárias de outros países.
Os viveiros foram classificados como privados, públicos ou ONGs, e, segundo a pesquisadora, houve um aumento de 8% na presença dos viveiros públicos desde o último diagnóstico, o que se deu tanto por estabilidade do setor público quanto pela queda da presença dos viveiros privados. No total, foi observada uma retração do setor viveirista de 29%, com maior fluxo de fechamento no setor privado (27 viveiros fechados). Além disso, foi constatado que apenas 16% dos viveiristas são mulheres.
Os viveiros também foram classificados em relação à quantidade de mudas produzidas por ano: viveiros pequenos (até 10.000 mudas), médio-pequenos (10.001 - 50.000 mudas), médios (50.001 - 100.000 mudas), médio-grandes (100.001-300.000 mudas) e grandes (a partir de 300.001 mudas). Foi constatada uma presença maior de viveiros pequenos (14) e médios-pequenos (12), e apenas dois viveiros grandes. Embora a produção dos pequenos seja menor e não contribua tanto com o percentual de restauração, Juliana destaca seu papel na propagação da diversidade de espécies. “A grande maioria das espécies registradas é produzida exclusivamente pelos pequenos viveiristas”, explica, destacando que devem ser pensados projetos que favoreçam esses viveiros.
A quantidade total de mudas produzidas por ano por todos os viveiros ativos do Estado foi contabilizada e soma cerca de 4.851.814 mudas, o que corresponde a menos da metade da capacidade total estimada pela pesquisa, 11.566.500. Como gargalos enfrentados pelos produtores para atingirem a capacidade máxima de produção, foram destacados os preços não compensadores, o custo de produção elevado em relação aos preços do mercado, a baixa disponibilidade de sementes de qualidade e a falta de mão-de-obra especializada, além dos gastos para adequação à legislação vigente.
A publicação do diagnóstico pretende contribuir com o conhecimento da cadeia produtiva e de restauração florestal do Estado, além de cooperar com políticas públicas para o setor.
Giovana Barbieri (Estagiária de Jornalismo)
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Liliane Bello (MTb 01766/GO)
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