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Macaúba pode ser um dos vetores de desenvolvimento do Distrito Federal
Palmeira nativa do Brasil, a macaúba é encontrada em quase todo o território nacional, inclusive no Distrito Federal (DF). Cultura extremamente versátil, tanto a polpa quanto a amêndoa do fruto são comestíveis e geram óleo em quantidade semelhante ou superior ao da palma de óleo (dendê). Esse óleo é insumo para indústrias de cosméticos, farmacêutica e química, com potencial, inclusive, para produção de biocombustível para aviação. Além disso, os coprodutos podem ser usados para geração de energia, fibras, materiais para a construção civil e muitas outras aplicações. A farinha da polpa é um produto muito nutritivo para uso culinário e pode ser uma alternativa de renda para a agricultura familiar e de diversificação da alimentação escolar.
Sendo assim, a macaúba é um recurso valioso para o DF, oferecendo benefícios ambientais, sociais e econômicos. Sua preservação e utilização podem contribuir significativamente para o desenvolvimento da região, de maneira responsável e sustentável.
Visando discutir as potencialidades da palmeira para a região do DF, a Embrapa Agroenergia realizou, no último dia 7, o workshop “O potencial da macaúba para o desenvolvimento do Distrito Federal e entorno”, na Embrapa Sede. O evento contou com a presença de representantes do setor produtivo e da indústria, técnicos e gestores públicos, produtores rurais, técnicos de ATER e especialistas em macaúba.
Na cerimônia de abertura, o chefe-geral da Embrapa Agroenergia Alexandre Alonso deu as boas-vindas aos convidados falando da importância da construção da cadeia da macaúba para os novos biocombustíveis e de como a ela reúne os pré-requisitos de sustentabilidade para atender a esse mercado. Alonso citou também a importância da inclusão da cultura da macaúba para a agricultura familiar.
Já o secretário de Agricultura do Distrito Federal Rafael Borges Bueno destacou a importância do evento, afirmando que o que se vê no workshop é fundamental. “É a pesquisa junto com a extensão trabalhando o conhecimento para levar ao produtor rural, para que ele possa enxergar a potencialidade e mostrar que é muito mais vantajoso manter a cultura em pé”, salientou.
Selma Beltrão, diretora-executiva de Administração da Embrapa, encerrou falando do papel Embrapa nesse processo de ajudar no desenvolvimento local e afirmou que o evento é uma oportunidade para se explorar tanto o potencial dessa espécie como também discutir as possibilidades para enfrentar os desafios propostos, visando fortalecer a cadeia produtiva da macaúba.
Apresentações técnicas
No workshop, durante a manhã foram feitas apresentações técnicas, abordando desde os aspectos agrícolas da produção até como a inteligência artificial é uma poderosa ferramenta para a cadeia produtiva da macaúba.
Em sua apresentação, a pesquisadora da Embrapa Agroenergia Simone Favaro apresentou um panorama sobre a macaúba, com seus usos em alimentos, cosméticos, produtos de limpeza e biocombustíveis, entre outros.
O engenheiro agrônomo Leonardo Pimentel, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), destacou os “Sistemas de produção e avanços tecnológicos na cultura da macaúba”. Segundo ele, há oportunidades para a cultura de macaúba no mercado de biocombustíveis, com investimento privado, tecnologia e cultivos em expansão. “Há experiências em empresas privadas que têm norteado a pesquisa agronômica”, afirmou.
Pimentel também falou sobre avanços regulatórios importantes, como o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) e as certificações de crédito de carbono, entre outros. Para o engenheiro agrônomo, os principais desafios da cultura são a ampla variabilidade e a desuniformidade de produção. “O material genético selecionado e adaptado é o gargalo principal à expansão rápida da cadeia em larga escala. Além disso, a defesa fitossanitária tem avançado pouco. Faltam estudos em entomologia e fitopatologia”, alertou.
A adequação do imóvel rural à legislação e as oportunidades para o cultivo da macaúba foram o tema da palestra de Marcos de Lara Maia, gerente de Meio-Ambiente da Emater-DF. Em sua fala, ele explicou o plantio de macaúba conforme a exigência legal e falou sobre o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que é o registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais.
Na sequência, Vítor Salomão, gerente de Sustentabilidade da Inocas, apresentou o case “Inocas: construção da cadeia produtiva da macaúba e inclusão da agricultura familiar”. Fundada em 2011, a Inocas é pioneira no Brasil no desenvolvimento da cadeia produtiva da macaúba, com plantações próprias e parcerias em mais de 3,5 mil hectares de macaúba distribuídos em 90 fazendas e três biomas brasileiros (Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica).
Salomão afirmou que, atualmente, a geração de combustível verde a partir de óleos vegetais é uma alternativa viável ao combustível fóssil. Entretanto, a produção de óleos vegetais para combustíveis e muitas outras aplicações é uma das principais causas do desmatamento. “Há uma grande necessidade de uma alternativa aos óleos vegetais não sustentáveis. A macaúba permite a produção de óleos vegetais e ração animal sem desmatamento ou mudança no uso da terra”, disse.
Para encerrar o ciclo de palestras, o analista da Embrapa Agroenergia Wellington Rangel dos Santos discorreu sobre “IA como ferramenta para a cadeia produtiva da macaúba – MacaúbaView”. Segundo ele, “a aplicação da inteligência artificial (IA) em cadeias produtivas agrícolas e florestais oferece transformações, objetivando eficiência e sustentabilidade, conectadas com as demandas modernas de mercado e preservação ambiental.”
Santos falou sobre como aplicar essas inovações à cadeia produtiva da macaúba. “O MacaúbaView é um sistema web desenvolvido pela Embrapa Agroenergia, utilizando IA para identificar, contar e classificar palmeiras macaúba. Essa tecnologia permite diferenciar as macaúbas de plantas semelhantes, inicialmente, palmeiras como o babaçu”, explicou. Ainda, o MacaúbaView pode fornecer estimativas de acúmulos de carbono em macaúbas. “É uma ferramenta importante para programas de crédito de carbono, especialmente considerando o grande potencial da macaúba de sequestrar carbono em áreas de ocorrência natural”, concluiu o analista.
Ciclo de debates
Na parte da tarde, os participantes foram divididos em dois grupos e conduzidos na discussão dos desafios e das oportunidades para incluir a macaúba no mercado local.
O grupo 1 destacou a necessidade de convergência de atores e de levantamento de informações mais palpáveis.
“No DF não conhecemos ainda o tamanho dos mercados. Sabemos que somos importadores de tudo. Temos um mercado potencial de alto poder aquisitivo, que procura produtos com apelos ambientais e está disposto a pagar por produtos melhores. Por outro lado, como atrair investidores para começar um negócio?”, questionou a pesquisadora Simone Favaro, afirmando que a sugestão de sua turma foi a criação de um Grupo de Trabalho (GT) multidisciplinar focado mais nos agentes privados e menos nos agentes públicos. “Acreditamos que a formação de um GT seria o próximo passo depois desse evento.”
Outra parte destacada pelo grupo é como comunicar para a sociedade sobre o que é a macaúba e seus produtos. “A questão do marketing é muito importante. Ele é um elo para minimizar as ameaças e potencializar as forças e oportunidades”, afirmou Favaro. Ainda em relação ao DF, o grupo verificou que, ao mesmo tempo que existe uma mão de obra potencial, ainda falta informação de base. “É preciso capacitação nesse processo”, disse a pesquisadora.
Já o grupo 2, apresentou a discussão do ponto de vista mais agronômico. “Tivemos uma discussão muito rica. Em linhas gerais trabalhamos na lógica de mapear a matriz SOWT (forças, oportunidades, ameaças e fraquezas). O que ficou claro quando mapeamos o primeiro conjunto, de forças e oportunidades, é que a macaúba nos traz muitas possibilidades, como desenvolver um cultivo perene, com a perspectiva de longevidade muito grande, com uma espécie muito resiliente”, disse o pesquisador, lembrando que ainda há, também, muitos desafios a serem superados.
“Talvez a maior dificuldade seja o fato de a macaúba ainda não ter sido domesticada. Ainda temos que ganhar muito conhecimento sobre a variabilidade disponível. Há fraquezas e ameaças que precisam ser superadas. Para viabilizar a macaúba precisamos ter mais estudos e mais análises”, ponderou Lopes.
Pensando na realidade do DF, o grupo achou interessante investir em algum tipo de estudo que se baseie na força da macaúba. “Que a gente trabalhe, levando em conta a realidade do Distrito Federal, caminhos possíveis para viabilizar a macaúba comercialmente”, finalizou o pesquisador.
O workshop foi realizado com apoio técnico da Emater-DF e viabilizado por recurso de emenda parlamentar concedido pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF).
Márcia Cristina de Faria (MTb 24.056/SP)
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