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Seminário capacita multiplicadores para estimular turismo gastronômico
Foto: Nadir Rodrigues
O supervisor do Setor de Inovação e Tecnologia da Embrapa Alimentos e Territórios, Aluísio Goulart, apresenta o projeto Paisagens Alimentares
Com o objetivo de formar multiplicadores para atuarem dentro das diretrizes do Plano Nacional do Turismo e estimular a aquisição de conhecimentos e a integração regional, foi realizado, no Museu da Gente Sergipana, em Aracaju (SE), o 1º Seminário para Multiplicadores do Programa Nacional do Turismo Gastronômico 2022. O evento ocorreu em 24 e 25 de novembro e reuniu representantes de associações, cooperativas e faculdades de gastronomia, chefs, jornalistas e técnicos de órgãos de turismo municipais e estaduais e da Região Nordeste.
A organização foi da Secretaria de Estado do Turismo de Sergipe (Setur-SE), em conjunto com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-SE) e o Ministério do Turismo (MTur). A Embrapa Alimentos e Territórios (Maceió, AL) foi uma das instituições apoiadoras do evento, que contou também com a colaboração de universidades, institutos de ensino e empresas locais.
Durante a abertura do seminário, o secretário de Turismo de Sergipe, José Sales Neto, destacou a riqueza e o potencial da gastronomia do estado. “O turismo é feito de diversos setores, e a gastronomia é um setor muito importante porque envolve questões culturais, o fazer popular do alimento, e segmentos importantes como o agricultor familiar. Portanto, é toda uma cadeia de produção de alimentos que chega na mesa dos sergipanos e turistas”, enfatizou.
O secretário nacional de Desenvolvimento e Competitividade do Turismo do MTur, Fábio Pinheiro, em participação virtual, também lembrou que a gastronomia é uma forte indutora da atividade turística mundial. Ele falou sobre as Experiências do Brasil Rural, coordenadas pelo MTur em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e destacou o roteiro sergipano Caminhos da Serra de Itabaiana. “Temos um país fortemente agro e é importante consolidar o turismo com essas rotas”, disse. Pinheiro ainda reforçou que o MTur tem o papel de apoiar as ações de estados e municípios voltadas ao desenvolvimento turístico.
Representando o prefeito Edvaldo Nogueira, o secretário municipal da Indústria, Comércio e Turismo, Jorge Fraga, falou da necessidade de se valorizar “a rica gastronomia brasileira”. Ele a exemplificou destacando a maniçoba, prato típico de origem indígena preparado à base de maniva – folhas de mandioca moídas – que só existe em três estados brasileiros: Sergipe, Bahia e Pará, e a importância de preservar a culinária tradicional para fortalecer ainda mais o turismo na região.
O diretor técnico do Sebrae-SE, Breno Barreto, lembrou que a instituição tem a missão de apoiar as pequenas e micro empresas que atuam na temática, contribuindo também para impulsionar o turismo sergipano. “A realização deste seminário, que envolve e trata de forma ativa os atores desse segmento, proporciona um elo com essa cultura empreendedora”, observou.
Além do prato – pessoas, histórias e cultura
O Plano Nacional do Turismo Gastronômico, implementado em 2022, foi tema da palestra ministrada pela gerente de projetos do MTur, Anna Modesto, com mediação da assessora especial de turismo, Léa Duarte, da Setur-SE. A gerente informou que o turismo gastronômico gera um impacto econômico mundial de 150 bilhões de dólares anuais, conforme dados da Organização Mundial de Turismo.
A cadeia produtiva inclui o produtor local e vai além do prato, abrangendo a cultura e o patrimônio imaterial, conforme Anna Modesto. “O que o Plano propõe é promover estratégias e práticas que garantam a valorização dos produtos, saberes locais e o consumo responsável.” Ela ainda destacou que o Brasil já tem quatro redes de cidades criativas – Belém, Belo Horizonte, Florianópolis e Paraty. Maceió também já está se preparando e em breve deve integrar essa rede.
Turismo, cultura, patrimônio e gastronomia sustentável foram o tema da palestra de Monique Badaró, assessora do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac Bahia), e coordenadora do Observatório do Patrimônio Gastronômico do Nordeste e Espírito Santo (Opanes). Ela abordou ações desenvolvidas para difundir a gastronomia baiana e promover a educação patrimonial, a partir de práticas agrícolas sustentáveis, valorização de produtos locais e regionais, aproveitamento integral de alimentos e aquisição de insumos diretamente de agricultores familiares.
Dênio Azevedo, professor da Universidade Federal do Sergipe (UFS) e colaborador do Instituto Federal de Sergipe (IFS), que mediou a palestra, falou sobre os trabalhos feitos no estado pelo Senac e as instituições de ensino para incentivar a cadeia produtiva do setor. Léa Duarte também destacou essa iniciativa, mas pontuou que ainda há poucas cidades integrando o atual mapeamento da cadeia, realizado pela Setur. “É preciso incluir mais municípios”, alertou a assessora.
Experimentando e desvendando a história por trás do prato, tema de um bate-papo com o chef Zeca Amaral e o influenciador digital Thiago Paes, do programa PaesPeloMundo, trouxe experiências culinárias registradas por esses profissionais durante viagens pelo País e exterior. “A cultura ancestral mantém viva a identidade de um povo”, enfatizou Paes, retomando a importância da regionalidade, além da união entre os setores público e privado.
Já o chef Amaral, que é consultor do Projeto das Experiências do Brasil Rural, coordenado pelo MTur, fez questão de destacar que, por trás dos pratos preparados, há história, conceito, responsabilidades e, principalmente, pessoas. Para ele, “o brasileiro tem que construir a própria cultura gastronômica”, valorizando suas peculiaridades e identidade.
Impactos sociais e econômicos
O supervisor do Setor de Inovação e Tecnologia da Embrapa Alimentos e Territórios, Aluísio Goulart, apresentou o mais novo centro de pesquisa da Embrapa, criado em 2018, para fortalecer as pesquisas relacionadas à alimentação e ao desenvolvimento territorial sustentável. Ele também abordou os impactos sociais e econômicos do turismo, que emprega 330 milhões de pessoas e responde por 10,3% do produto interno bruto (PIB) mundial e por 7,7% do nacional, de acordo com dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC).
Apesar disso, o setor é um dos mais frágeis em cenários de crises e desastres naturais. O projeto Paisagens Alimentares, coordenado pela Embrapa Alimentos e Territórios nos estados de Alagoas, Sergipe e Bahia, apoia o desenvolvimento de estratégias de valorização ambiental e social das paisagens alimentares, de forma sustentável e com segurança exigida no cenário pós-pandemia.
As ações têm como base a multifuncionalidade da agricultura e as conexões entre territórios, alimento e patrimônio gastronômico em suas dimensões sociocultural, econômica e ambiental. “O turismo associado à gastronomia é uma das estratégias mais eficazes para a retomada nesse cenário”, disse Goulart. “A gastronomia pode ser considerada uma ferramenta de desenvolvimento e posicionamento de um destino turístico”, observou. Na mediação, Azevedo ressaltou a necessidade do respeito à dinâmica das comunidades, valorizando os saberes e fazeres locais.
Empreendedorismo e gastronomia regional
Uma roda de conversa sobre empreendedorismo e gastronomia regional, mediada pelo professor da UFS Joab Almeida, trouxe a visão de empresários e empreendedores da economia criativa sergipana. Diego Freitas, agente local de Inovação do Sebrae-SE, enfatizou a relevância das ações conduzidas pelo órgão visando promover a integração entre empresas para fomentar rodadas de negócios.
Alguns desafios do setor foram abordados pelo presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SE), Bruno Dórea, que também salientou os trabalhos do Sebrae na formação de profissionais do setor. Um conjunto de ações para apoiar e valorizar os artesãos locais foi tema da exposição da analista técnica do Sebrae-SE Bianca de Faria.
A capacitação de empreendedores regionais é uma das importantes contribuições do Senac destacada pelo professor Alberto Correia, gerente do Restaurante Bistrô Senac Cacique Chá. Já o diretor da empresa Toca Ambiental (BA), Rafael Brasileiro, tratou do turismo de experiência aliado à gastronomia regional.
Políticas públicas, alimentos identitários e saberes e fazeres foram tema de outra roda de conversa, também mediada por Azevedo. O prefeito de lndiaroba (SE), Adinaldo Nascimento, contou sobre as iniciativas para fortalecer a economia local, como a criação do aratu, moeda social adotada no município que estimula a circulação de recursos no comércio local.
A mestra em Turismo pelo IFS Luara Lázaro falou do potencial da cidade histórica de São Cristóvão (SE), o quarto município mais antigo do Brasil, e mostrou a proposta que ela desenvolveu para fortalecer o turismo cultural. Para ela, é fundamental “dar voz e vez às pessoas que produzem os alimentos”, incorporando-as ao turismo gastronômico e ao processo de desenvolvimento. “O valor da comida está intrinsecamente atrelado ao saber humano”, frisou.
Um relato das experiências das mulheres catadoras de mangaba que integram a Rede Solidária de Mulheres foi exposto pela turismóloga Patrícia Santos de Jesus. Ela, também uma das catadoras ao lado da mãe, falou com orgulho das atividades participativas conduzidas pelo projeto da Associação das Catadoras de Mangaba e Indiaroba (Ascamai) para criação do roteiro comunitário Cauã, na Barra dos Coqueiros (SE).
Outra experiência inovadora foi trazida de Canindé de São Francisco (SE) pelo chef da Gastrotinga, Timóteo Domingos, especialista na criação de receitas com ingredientes típicos do sertão sergipano, como cacto, fruto do mandacaru, umbu e ouricuri. Nos livros “Reinventando o Sertão” e “Subsistência: a natureza, o alimento e a seca”, o chef promove uma reflexão sobre o papel da Caatinga como uma base extremamente importante para o Nordeste, que precisa ser valorizada.
O seminário também teve apoio da Prefeitura Municipal de Aracaju, Instituto Banese, Museu da Gente Sergipana, Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-SE), Sergipe Trade Tur e Del Mar Hotel Aracaju. Os participantes ainda visitaram a Feira de Artesanato e da Economia Criativa, o Mercado Municipal de Aracaju e a cidade de São Cristóvão, na qual puderam conhecer a produção artesanal dos biscoitos finos conhecidos como bricelets e das queijadinhas, além de apreciar uma sessão da dança samba de coco apresentada por mulheres da comunidade de Ilha Grande.
Nadir Rodrigues (MTb 26.948/SP)
Embrapa Alimentos e Territórios
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Colaboração: Assessoria de Comunicação da Secretaria de Turismo de Sergipe
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