Tecnologia usa fibra de coco, resíduo do processamento da fruta, o que agrega valor à cadeia e melhora a sustentabilidade. Embalagem é voltada para frutos minimamente processados: cortados, sem casca e sem caroço. Mistura de polímeros utilizada é degradada em menos de seis meses após o descarte. Solução deve ser estendida a outras frutas. Trabalho é um dos resultados do GestFrut, projeto da Embrapa para apoiar a fruticultura baiana. Cientistas aguardam parceria com setor produtivo para levar novo produto ao mercado. Uma embalagem biodegradável para exportação de manga está entre as soluções tecnológicas geradas pelo projeto GestFrut, coordenado pela Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA). Projetada para a manga fresh-cut (minimamente processada: sem casca e sem caroço), a nova embalagem é mais sustentável e agrega valor ao utilizar matérias-primas nacionais. Ela foi desenvolvida no Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-Cimatec), um dos parceiros da Embrapa no GestFrut. Os autores procuram parceiros do setor produtivo para concluir o desenvolvimento e levar a solução ao mercado. O produto é composto por nanocristais de celulose que dão maior resistência à embalagem. Os pesquisadores usaram a mistura de dois polímeros, chamada de blenda polímera. A substância é totalmente biodegradável e emprega na formulação o amido de mandioca e a fibra de coco, produtos tipicamente brasileiros. Segundo a pesquisadora do Senai Bruna Machado, líder do projeto, o diferencial da embalagem é justamente a sua composição. “Usamos os nanocristais da celulose oriunda de uma fonte que chamamos de resíduo, a fibra de coco, que tem aproveitamento muito menor que a sua real capacidade. Além disso, é uma matéria-prima abundante e de baixo custo, encontrada no Nordeste. E também usamos como fonte a mandioca, igualmente de fácil acesso e barata, o que dá uma valorização regional ao produto”, salienta. A pesquisadora conta que o processo de desenvolvimento da embalagem levou ainda em consideração outras questões que pautam o mercado atual, como a demanda do consumidor por uma alimentação prática e saudável e a otimização do produto para a exportação. “A Bahia é um grande produtor de manga, em especial o Vale do São Francisco e o sudoeste do estado, nos municípios de Dom Basílio e Livramento de Nossa Senhora. As frutas minimamente processadas têm um apelo muito grande para a exportação,” relata a cientista. Ela conta que os contêineres vão cheios de mangas para o exterior e, chegando lá, casca e o caroço são retirados e a fruta é cortada para consumo imediato. “Então por que não fazer isso no Brasil e exportar já preparado? E por que não utilizar também uma embalagem biodegradável? Foram vários problemas que nós quisemos solucionar”, recorda Machado. Ela destaca que a tecnologia cumpriu as determinações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para produtos biodegradáveis, que pressupõe a decomposição no lixo orgânico em até seis meses. O objetivo é estender essa solução para outras frutas. “Por se tratar de um projeto de inovação, fizemos alguns ajustes nas rotas tecnológicas inicialmente previstas e tivemos o apoio fundamental da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) para o desenvolvimento das embalagens pelo processo de extrusão em menor escala”, acrescenta. Hoje a equipe chegou a um protótipo funcional e em escala industrial, mas é necessário ampliar a escalabilidade e fazer melhorias nas formulações para que alcance o mercado. Para o coordenador do GestFrut, Domingo Haroldo Reinhardt, pesquisador da Embrapa, a embalagem é um ativo tecnológico interessante. “Ela se enquadra nas demandas atuais por produtos ambientalmente corretos, por ser biodegradável, usar resíduos e contribuir para o consumo conveniente de fruta pronta para comer, reduzindo o desperdício. Com essas vantagens, tem boas perspectivas de viabilidade econômica, podendo atrair parceiros da iniciativa privada para concluir o processo de inovação”, salienta. Um trabalho para apoiar a fruticultura baiana O projeto GestFrut, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), nasceu em 2014, de demandas do setor produtivo para fortalecer a fruticultura na Bahia. Em seis anos, além das tecnologias já disponíveis para as cadeias produtivas, há outras em fase adiantada de pesquisa e iniciativas que embasam políticas públicas municipais e estaduais. “A Embrapa foi assertiva na proposição de um edital voltado à fruticultura, tendo em vista o desempenho da Bahia na produção de frutas e o nosso objeto de financiar projetos de pesquisa e finalização tecnológica para o desenvolvimento de soluções que respondessem aos principais problemas do setor no estado”, declara a gestora da Coordenação de Fomento da Fapesb, Talita Assis. Segundo maior produtor de frutas do Brasil, a Bahia apresenta enorme potencial de expansão da cadeia produtiva, mas enfrenta dificuldades de ordem tecnológica - associadas ao incremento do rendimento físico das culturas (manejo de pragas e doenças, variedades e material de plantio, manejo de água, conservação pós-colheita etc.) - e não tecnológicas, referentes à gestão e planejamento da produção, custos, assistência técnica e transferência de tecnologias. Suas ações alcançaram os nove principais polos de produção do estado - Piemonte do Paraguaçu, Velho Chico, Litoral Sul, Litoral Norte e Agreste Baiano, Baixo-Sul, Recôncavo, Extremo Sul e Costa do Descobrimento, Sertão do São Francisco e Sertão Produtivo – e 12 cadeias produtivas: abacaxi, banana, banana-da-terra (plátano), cacau, coco, graviola, laranja, limão, mamão, manga, maracujá e uva. “Ao longo da execução do projeto percebeu-se que havia muito mais demandas do que se imaginava porque a fruticultura é muito dispersa e dinâmica no estado da Bahia”, explica o coordenador do GestFrut, Domingo Haroldo Reinhardt. De acordo com o professor Manoel Abílio de Queiroz, da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), o projeto apresenta ainda forte contribuição para a formação e capacitação de pessoas. “Foram treinados vários estudantes em atividades de iniciação científica e de mestrado. Também foi ministrado um curso de empreendedorismo na Uneb, com boa participação da comunidade acadêmica interna, da Embrapa e da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), além de egressos do curso de mestrado em Agronomia,” frisa o docente, que também atua na Univasf e coordena o Núcleo do Submédio São Francisco do GestFrut. Outra instituição de ensino superior que teve forte participação na rede foi a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), sediada em Cruz das Almas. O professor Carlos Alfredo Lopes de Carvalho acredita que muitos resultados desse trabalho ainda serão colhidos no futuro. “Certamente novos frutos direta ou indiretamente vinculados ao GestFrut ainda serão conhecidos, de forma a alimentar a rede formada e o fortalecimento da nossa fruticultura,” declara.
Foto: Bruna Machado
Nanocristais de celulose dão maior resistência à embalagem, totalmente biodegradável
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Tecnologia usa fibra de coco, resíduo do processamento da fruta, o que agrega valor à cadeia e melhora a sustentabilidade. -
Embalagem é voltada para frutos minimamente processados: cortados, sem casca e sem caroço. -
Mistura de polímeros utilizada é degradada em menos de seis meses após o descarte. -
Solução deve ser estendida a outras frutas. -
Trabalho é um dos resultados do GestFrut, projeto da Embrapa para apoiar a fruticultura baiana. -
Cientistas aguardam parceria com setor produtivo para levar novo produto ao mercado. |
Uma embalagem biodegradável para exportação de manga está entre as soluções tecnológicas geradas pelo projeto GestFrut, coordenado pela Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA). Projetada para a manga fresh-cut (minimamente processada: sem casca e sem caroço), a nova embalagem é mais sustentável e agrega valor ao utilizar matérias-primas nacionais. Ela foi desenvolvida no Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-Cimatec), um dos parceiros da Embrapa no GestFrut. Os autores procuram parceiros do setor produtivo para concluir o desenvolvimento e levar a solução ao mercado.
O produto é composto por nanocristais de celulose que dão maior resistência à embalagem. Os pesquisadores usaram a mistura de dois polímeros, chamada de blenda polímera. A substância é totalmente biodegradável e emprega na formulação o amido de mandioca e a fibra de coco, produtos tipicamente brasileiros.
Segundo a pesquisadora do Senai Bruna Machado, líder do projeto, o diferencial da embalagem é justamente a sua composição. “Usamos os nanocristais da celulose oriunda de uma fonte que chamamos de resíduo, a fibra de coco, que tem aproveitamento muito menor que a sua real capacidade. Além disso, é uma matéria-prima abundante e de baixo custo, encontrada no Nordeste. E também usamos como fonte a mandioca, igualmente de fácil acesso e barata, o que dá uma valorização regional ao produto”, salienta.
A pesquisadora conta que o processo de desenvolvimento da embalagem levou ainda em consideração outras questões que pautam o mercado atual, como a demanda do consumidor por uma alimentação prática e saudável e a otimização do produto para a exportação. “A Bahia é um grande produtor de manga, em especial o Vale do São Francisco e o sudoeste do estado, nos municípios de Dom Basílio e Livramento de Nossa Senhora. As frutas minimamente processadas têm um apelo muito grande para a exportação,” relata a cientista.
Ela conta que os contêineres vão cheios de mangas para o exterior e, chegando lá, casca e o caroço são retirados e a fruta é cortada para consumo imediato. “Então por que não fazer isso no Brasil e exportar já preparado? E por que não utilizar também uma embalagem biodegradável? Foram vários problemas que nós quisemos solucionar”, recorda Machado.
Ela destaca que a tecnologia cumpriu as determinações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para produtos biodegradáveis, que pressupõe a decomposição no lixo orgânico em até seis meses.
O objetivo é estender essa solução para outras frutas. “Por se tratar de um projeto de inovação, fizemos alguns ajustes nas rotas tecnológicas inicialmente previstas e tivemos o apoio fundamental da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) para o desenvolvimento das embalagens pelo processo de extrusão em menor escala”, acrescenta. Hoje a equipe chegou a um protótipo funcional e em escala industrial, mas é necessário ampliar a escalabilidade e fazer melhorias nas formulações para que alcance o mercado.
Para o coordenador do GestFrut, Domingo Haroldo Reinhardt, pesquisador da Embrapa, a embalagem é um ativo tecnológico interessante. “Ela se enquadra nas demandas atuais por produtos ambientalmente corretos, por ser biodegradável, usar resíduos e contribuir para o consumo conveniente de fruta pronta para comer, reduzindo o desperdício. Com essas vantagens, tem boas perspectivas de viabilidade econômica, podendo atrair parceiros da iniciativa privada para concluir o processo de inovação”, salienta.
Um trabalho para apoiar a fruticultura baiana O projeto GestFrut, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), nasceu em 2014, de demandas do setor produtivo para fortalecer a fruticultura na Bahia. Em seis anos, além das tecnologias já disponíveis para as cadeias produtivas, há outras em fase adiantada de pesquisa e iniciativas que embasam políticas públicas municipais e estaduais. “A Embrapa foi assertiva na proposição de um edital voltado à fruticultura, tendo em vista o desempenho da Bahia na produção de frutas e o nosso objeto de financiar projetos de pesquisa e finalização tecnológica para o desenvolvimento de soluções que respondessem aos principais problemas do setor no estado”, declara a gestora da Coordenação de Fomento da Fapesb, Talita Assis. Segundo maior produtor de frutas do Brasil, a Bahia apresenta enorme potencial de expansão da cadeia produtiva, mas enfrenta dificuldades de ordem tecnológica - associadas ao incremento do rendimento físico das culturas (manejo de pragas e doenças, variedades e material de plantio, manejo de água, conservação pós-colheita etc.) - e não tecnológicas, referentes à gestão e planejamento da produção, custos, assistência técnica e transferência de tecnologias. Suas ações alcançaram os nove principais polos de produção do estado - Piemonte do Paraguaçu, Velho Chico, Litoral Sul, Litoral Norte e Agreste Baiano, Baixo-Sul, Recôncavo, Extremo Sul e Costa do Descobrimento, Sertão do São Francisco e Sertão Produtivo – e 12 cadeias produtivas: abacaxi, banana, banana-da-terra (plátano), cacau, coco, graviola, laranja, limão, mamão, manga, maracujá e uva. “Ao longo da execução do projeto percebeu-se que havia muito mais demandas do que se imaginava porque a fruticultura é muito dispersa e dinâmica no estado da Bahia”, explica o coordenador do GestFrut, Domingo Haroldo Reinhardt. De acordo com o professor Manoel Abílio de Queiroz, da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), o projeto apresenta ainda forte contribuição para a formação e capacitação de pessoas. “Foram treinados vários estudantes em atividades de iniciação científica e de mestrado. Também foi ministrado um curso de empreendedorismo na Uneb, com boa participação da comunidade acadêmica interna, da Embrapa e da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), além de egressos do curso de mestrado em Agronomia,” frisa o docente, que também atua na Univasf e coordena o Núcleo do Submédio São Francisco do GestFrut. Outra instituição de ensino superior que teve forte participação na rede foi a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), sediada em Cruz das Almas. O professor Carlos Alfredo Lopes de Carvalho acredita que muitos resultados desse trabalho ainda serão colhidos no futuro. “Certamente novos frutos direta ou indiretamente vinculados ao GestFrut ainda serão conhecidos, de forma a alimentar a rede formada e o fortalecimento da nossa fruticultura,” declara. |
Léa Cunha (MTb 1633/BA)
Embrapa Mandioca e Fruticultura
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Mariana Medeiros (Tradução - Inglês)
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