Veterinários discutem doenças infecciosas de equídeos
Mais de 100 pessoas participaram das atividades promovidas pela primeira Capacitação de Médicos Veterinários do Programa Nacional de Sanidade Equídea (PNSE), realizada esta semana em Campo Grande (MS). O evento abordou temas importantes para a atuação dos profissionais que lidam com a saúde de cavalos e outros equídeos – como a anemia infecciosa equina (AIE), mormo, legislação do PNSE, diagnósticos laboratoriais e outros – de forma a aumentar a conscientização sobre esses assuntos dentro e fora do campo.
"Nós esperamos, a partir desta capacitação, realizar outras e estar cada vez mais próximos do setor privado e dos produtores rurais. Dessa forma, queremos conseguir, de fato, prevenir que doenças como a AIE e o mormo se disseminem no rebanho do nosso estado, por exemplo", afirma Luciano Chiochetta, diretor presidente da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro).
Para a chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Pantanal, Aiesca Pellegrin, a interação entre pesquisadores e veterinários enriquece o trabalho de ambos. "A medicina veterinária é um serviço público em todas as suas instâncias. Independentemente do indivíduo estar na iniciativa privada, em uma empresa pública ou no serviço oficial, devemos atuar de forma conjunta para debelar essas doenças – que não só causam problemas para os nossos rebanhos, mas são motivo de grande preocupação para a saúde humana", afirma.
AIE, mormo e a legislação
Durante a capacitação, os participantes conversaram sobre as providências a serem tomadas no caso de diagnóstico de doenças como o mormo, por exemplo. "Assim que se confirma o diagnóstico, é obrigatória a eutanásia desse animal pela legislação. Depois, essa propriedade entra em saneamento – ou seja, elimina-se os animais positivos. Então, são feitos vários exames até que se tenha dois testes negativos consecutivos de todo o plantel daquela propriedade", esclarece Kelly Noda Gonçalves, fiscal agropecuária da Iagro e coordenadora estadual do PNSE.
Ainda de acordo com Kelly, o diagnóstico de anemia infecciosa equina também exige a eliminação dos animais infectados em Mato Grosso do Sul. "Porém, na região do Pantanal, não é necessária a eutanásia – nós realizamos a marcação e o isolamento desses animais, que não podem transitar para fora da propriedade e devem ficar isolados na propriedade de origem", afirma.
A fiscal relembra que a melhor forma de evitar consequências como essas é investir em educação, realizando o manejo sanitário adequado. "Tanto a anemia quanto o mormo são doenças infecciosas. A prevenção é a melhor forma de controlar, assim como sempre realizar os exames da tropa e evitar o trânsito clandestino", diz. "Os animais que estão no mesmo ambiente ou que entrem em contato com indivíduos infectados podem se contaminar. É muito mais fácil prevenir do que entrar em regime de saneamento".
Quando fazer os testes?
Segundo o diretor presidente da Iagro, a necessidade de realizar os exames nas tropas varia de acordo com a enfermidade em questão. "Para qualquer trânsito de animais que ocorrer aqui em MS, seja interno ou interestadual, o exame de anemia infecciosa equina deve ser feito obrigatoriamente – independentemente da finalidade desse trânsito", afirma. "Já no caso do mormo, o exame é exigido apenas em situações que envolvam aglomerações de animais, como provas de laço e leilões. É nesses casos que existe o maior risco de transmissão e disseminação da doença", completa Luciano.
O veterinário Diego Ferreira de Souza, que participou da capacitação, ressalta que, às vezes, encontra resistência em relação à realização dos exames. "A rejeição se dá pela questão financeira. Também há polêmica no caso de animais que foram diagnosticados como positivos, já que eles precisam ser eutanasiados", diz. "Mas a preocupação do produtor em manter a qualidade do plantel está aumentando. Muitas vezes, a gente precisa atuar como técnico e fazer uma reuniãozinha, esclarecer e explicar o que é o correto".
Jéssica Teles Echeverria, residente em medicina veterinária preventiva pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, fala da importância de conhecer e prevenir a transmissão dessas enfermidades para evitar as consequências de se ter um animal contaminado na propriedade. "Como o mormo é uma doença nova aqui, há muita desinformação e, às vezes, até alguns mitos. É muito importante participar de palestras como essas para poder nos atualizar e estar mais preparados para casos como esses".
Para o professor Fernando Leandro dos Santos, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, a prevenção compensa. "Eu não sei quanto custa um exame aqui no estado, mas sem dúvida nenhuma ele é mais barato do que o valor de um cavalo". Márcia Furlan, pesquisadora da Embrapa Pantanal que ministrou uma palestra sobre anemia infecciosa equina no evento, incentiva a troca de experiências como forma de conscientizar veterinários, técnicos e, consequentemente, produtores rurais. "Poderia haver mais eventos como esse, com uma frequência maior e com outros profissionais convidados para falar. A gente tem muita gente boa trabalhando nessa área".
Nicoli Dichoff (MTb 3252/SC)
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