Parceria favorece a formação estudantil na área de aquicultura e alimentos
Foto: Nicoli Dichoff
Pesquisadores ministram palestras e supervisionam atividades de alunos de cursos técnicos
Mesmo sob a máscara e a touca usados no trabalho, era possível ver os sorrisos de Cesar Ferreira Neto e Queila Dias Pereira, dois estagiários que visitaram os laboratórios da Embrapa Pantanal na última semana. Eles e outros alunos do Curso Técnico Subsequente em Aquicultura e do Curso Técnico em Alimentos do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) vieram de Coxim (MS) até a unidade pantaneira em Corumbá para um dia de palestras e atividades.
A visita foi realizada graças a um convênio firmado entre as instituições no final do último ano, de acordo o pesquisador Jorge Lara. "Esses estudantes estão sendo preparados para um futuro desenvolvimento da área de alimentos aqui no estado. Nós somos, tradicionalmente, produtores de matéria prima – o que é apenas um elo da cadeia. Para que haja o desenvolvimento de MS, é muito importante buscar as indústrias de transformação: não apenas os frigoríficos ou prensas de soja, mas aquelas indústrias de alimentos que transformam a matéria prima em processados e obtêm proteínas de qualidade para várias utilizações. Tudo isso faz parte do plano de desenvolvimento estadual", afirma.
Para os estagiários, que aprenderam como realizar a separação mecânica da carne da carcaça de piranhas, a visita à Embrapa Pantanal representou uma oportunidade para colocar em prática o que eles aprendem na teoria. "Lá na nossa cidade, temos uma colônia de pescadores. Para eles, pescar piranha dá prejuízo. Eles querem pegar os peixes nobres, como o dourado, o pacu e o pintado. Por isso, a gente decidiu fazer um projeto para agregar valor a esse peixe, explicando para os pescadores como eles podem fazer novos produtos e aproveitar essa matéria prima", diz Queila.
Perspectivas de produção
De acordo com os estudantes, a equipe do projeto desenvolveu formulações para linguiças, quibes, nuggets, hambúrgueres e patês feitos com a carne da piranha. "Seria uma boa forma de aproveitar esse material. Na nossa cidade, não temos muito processamento industrial e o peixe é consumido in natura em pratos prontos. Esses produtos seriam uma outra forma de vender e aumentar a vida útil dessa carne, que é um produto tão perecível", afirma Cesar. Sidnei Klein, que coordena o eixo de recursos naturais do IFMS em Coxim, ressalta a importância de uma ação como essa para um município que possui cerca de 500 pescadores profissionais registrados.
"Podemos ver que a demanda por pescado é crescente ao observar o crescimento no consumo alimentar. Nós tínhamos, em 2005, 6 kg consumidos em média por habitante/ por ano no Brasil. Depois, em 2010, esse valor estava em torno de 9 a 10 kg. Nós estamos hoje com 14 kg consumidos por habitante/ano. Ainda não chegamos na média mundial, que está em 19 kg, mas já ultrapassamos a média recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 12 kg. Segundo informações do extinto Ministério da Pesca e Aquicultura, em 2050 há uma grande possibilidade desse consumo chegar a 22 kg por habitante/ano. A aquicultura pode contribuir nesse cenário, somando-se à pesca", diz Sidnei.
Para Jorge, que também é responsável por um projeto que elaborou receitas para alimentos processados de pescado pantaneiro com o Centro de Pesquisa do Pantanal (CPP), a participação de estudantes e agentes da comunidade local no desenvolvimento de produtos feitos a partir do pescado favorece a elaboração de alternativas que atendam a esse mercado. "Esses alunos irão atuar junto ao setor produtivo, com os pescadores e com a indústria. O MS está deixando de ser um estado exclusivamente produtor de animais ou vegetais, buscando – ainda inicialmente, mas com uma boa perspectiva futura – trabalhar com a transformação de produtos de origem vegetal e animal. O que nos falta, realmente, é gente qualificada e oportunidades de negócio. Contribuir para superar essas lacunas é um dos objetivos da nossa parceria com o IFMS".
Nicoli Dichoff (MTb 3252/SC)
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