Embrapa aposta na adequação de seus bancos genéticos às normas internacionais de qualidade
Iniciativa garante confiabilidade e rastreabilidade à produção vegetal, desde os bancos genéticos até o produto final.
Especialistas de seis unidades de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) se reuniram na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília nos dias 8 e 9 de novembro de 2017 para trocar experiências sobre a implementação da gestão da qualidade em seis bancos vegetais mantidos pela Empresa em diferentes regiões: Arroz e Feijão (Goiânia, GO); Abacaxi e Mandioca (Cruz das Almas, BA); Caju (Fortaleza, CE), Capsicum (pimentas e pimentões) e o Banco Genético da Embrapa, em Brasília, DF. Esses bancos foram selecionados como pilotos para a adequação dos cerca de 150 bancos genéticos de plantas de importância para agricultura e alimentação geridos pela Embrapa em todo o Território Nacional, com o objetivo de adequá-los às normas de qualidade internacionais.
A iniciativa é decorrente do Projeto QUALIVEG – Implementação e Monitoramento de Sistemas da Qualidade na Vertente Vegetal, iniciado em 2016 com o objetivo de mapear as condições atuais desses acervos genéticos e definir requisitos corporativos de qualidade para a sua operacionalização. Segundo a líder do Projeto QUALIVEG, Clarissa Castro, não existem no Brasil normas para a gestão da qualidade em coleções vegetais, e, por isso, os requisitos foram selecionados com base em normas internacionais (ABNT ISO/IEC 17025, ABNT ISO GUIA 34 e Versão Brasileira do Documento Diretrizes da OCDE de Boas Práticas para Centros de Recursos Biológicos) para definir um padrão único e internacional de qualidade a ser adotado.
A implementação da gestão da qualidade nas coleções vegetais da Embrapa padroniza as atividades relacionadas a recursos genéticos, conferindo rastreabilidade aos resultados e agregando valor a esses locais. Esse processo envolve os seguintes requisitos: documentos (externos e internos, com destaque para a padronização de procedimentos); registros (impressos e eletrônicos); pessoal (capacitação e supervisão de empregados e colaboradores); instalações de campo e laboratoriais (adequações, manutenções e padronizações); condições ambientais (adequações e controles) e equipamentos e rastreabilidade de medição (manutenções, verificações e calibrações).
Banco de pimentas e pimentões comemora avanço na gestão da qualidade
Para a curadora do Banco de Capsicum da Embrapa Hortaliças, Sabrina Carvalho, a gestão da qualidade nos Bancos Ativos de Germoplasma (BAGs) da Embrapa é muito importante porque promove o desenvolvimento e a padronização das atividades relacionadas a recursos genéticos com qualidade e credibilidade de resultados.
Segundo ela, a implantação da gestão da qualidade no BAG de Capsicum já está impactando positivamente a rotina de trabalho, especialmente no que se refere à organização da documentação para o atendimento das normas e a legislação vigente; ao controle de registros (pessoal, equipamentos e condições ambientais); à padronização de procedimentos para as atividades de enriquecimento, registro, multiplicação, caracterização morfológica, conservação, documentação, transferência, descarte de amostras e utilização de equipamentos; e à adequação física das instalações, além de capacitar os empregados.
Hoje o BAG Capsicum da Embrapa Hortaliças com 36 anos possui cerca de 2.000 acessos, representados principalmente pelas cinco espécies domesticadas (C. annuum var.annuum, C. baccatum var.pendulum, C. chinense, C. frutescens e C. pubescens), dezenas de espécies semi-domesticadas e silvestres, provenientes de vários países e regiões brasileiras. A caracterização das espécies vem sendo feita com o apoio do pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Luciano Bianchetti, desde 1998. O material genético é armazenado em câmaras frias a 10°C e cópias são enviadas para o Banco Genético da Embrapa.
Sabrina explica que a implantação do sistema da qualidade agrega valor ao BAG porque todas as atividades executadas no banco Capsicum estão sendo desenvolvidas com padrão único, com base nas normas internacionais de qualidade, garantindo o enriquecimento, multiplicação, caracterização, conservação, documentação, para uso do germoplasma nos intercâmbios e nos programas de melhoramento genético e processos agroindustriais. "No projeto QUALIVEG, o BAG Capsicum juntamente com o BAG Arroz e Feijão (semente) são pilotos e a expectativa é que sejam modelos para outros BAGs", comemora.
Banco de caju: mais de 50 anos de história de sucesso e qualidade em prol do melhoramento genético no Brasil
A história do Banco de Germoplasma de Caju, mantido pela Embrapa Agroindústria Tropical, no Campo Experimental da Unidade, em Pacajus, CE, é mais antiga que a própria Embrapa. Segundo a curadora do Banco, a pesquisadora Ana Cecília Ribeiro de Castro, o BAG que hoje possui mais de 700 acessos, sendo cerca de 90% da espécie mais cultivada do gênero, o Anacardium occidentale, guarda material genético coletado em 1956.
Além de contribuir para manter vivo o registro histórico desse banco, a implantação da qualidade contribui para a padronização das atividades de coleta, caracterização e documentação, garantindo continuidade e confiabilidade à sua atividade fim, que é fundamentalmente prover os programas de melhoramento genético dessa fruta de material de qualidade.
A conservação das plantas de caju é feita prioritariamente no campo, com manutenção de duplicata em vaso, forma que tem se mostrado bastante eficiente, como explica a curadora. “Plantas conservadas em vasos com manejo especifico há mais de sete anos têm demonstrado que esta metodologia é segura”, constata. Segundo Ana Cecília, estão sendo iniciados novos estudos para conservação de caju in vitro (tubos de ensaio), ainda não estabelecida para cultura.
O chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Unidade, Gustavo Saavedra, que também esteve presente à reunião em Brasília, garante que a gestão da qualidade sempre foi uma preocupação da Embrapa Agroindústria Tropical. “Mesmo antes de se falar em gestão da qualidade nos laboratórios e campos experimentais, já registrávamos nossos resultados em cadernos de laboratório”, explica. Os cadernos institucionais são documentos muito importantes para a organização e rotina desses espaços e também para a preservação da memória da Unidade.
Segundo a responsável pela gestão da qualidade na Unidade cearense, Aline Teixeira, o processo de uso dos cadernos começou em 2014. Atualmente, são utilizados nos 14 laboratórios e dois campos experimentais. “Já emitimos 242 cadernos até abril deste ano. Realizamos duas avaliações do processo, uma em novembro de 2016 e outra em maio de 2017. Percebemos que já está disseminado, mas precisa ser institucionalizado, ou seja, virar prática no dia-a-dia”, afirma. Segundo ela, a utilização de cadernos institucionais deve ser implantada de forma corporativa. “A Embrapa só tem a ganhar com a disseminação dessa prática”, comenta.
Projeto QUALIVEG: publicações, treinamentos e disseminação para outras coleções vegetais
A ideia do Projeto QUALIVEG é reunir todos os requisitos e diretrizes relacionados à gestão da qualidade e publicá-los em cartilhas que ficarão à disposição das equipes que trabalham nos bancos vegetais, de forma a auxiliá-las em suas atividades e serviços diários.
Serão promovidos também treinamentos e workshops para a capacitação e qualificação de empregados e colaboradores que exercem atividades nesses locais.
“Diante da impossibilidade de contemplar todos os bancos vegetais da Embrapa, um dos intuitos do QUALIVEG é disseminar essas informações para os que não estão participando como pilotos”, finaliza a líder do Projeto, Clarissa Castro.
Confira os vídeos sobre o Projeto QUALIVEG:
https://www.youtube.com/watch?v=piVFFpzVOsA&feature=youtu.be
https://www.embrapa.br/documents/1355126/8842555/Sequence+01.mp4/217941e0-2b28-e4bc-45fc-1a224eb9054b
Fernanda Diniz (MTb 4685/DF)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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