Encontro sobre controle biológico discute importância de novos bioagentes
Encontro sobre controle biológico discute importância de novos bioagentes
Em sua apresentação sobre controle biológico de doenças de plantas, em evento na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em 29 de março, o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) Wagner Bettiol falou sobre a história das pesquisas nessa área, iniciada em 1950, e que e em 2015 registrou mais de 5.000.000 ha tratados com esse método.
No Brasil, 50 empresas respondem pela produção de agentes que atuam no controle biológico de pragas, seja macro-organismos (insetos, ácaros) ou micro-organismos (vírus, fungos, bactérias e nematoides), e também de produtos que combatem doenças. Ao todo, representam 1,7% das formuladoras de biológicos no mundo, segundo a ABCBIO. Os Estados Unidos têm 50,4% da fatia mundial desse mercado e 41% das patentes dos produtos.
Mesmo com todo esse aumento, ainda não há disponibilidade suficiente de bioagentes para os agricultores utilizarem nos diferentes problemas fitossanitários. Outros problemas relatados pelo pesquisador são a inadequada seleção dos agentes de biocontrole, falta de estudos em condições agroecológicas de uso, de multiplicação em larga escala, formulação dos bioagentes e de tecnologia de aplicação, verificação de compatibilidade com outros produtos e técnicas agrícolas, poucas fontes de financiamento e descontinuidade das pesquisas, além do número insuficiente de pesquisadores na área. Associado a isso, existe a cultura dos agricultores, agrônomos e pesquisadores vinculada ao controle químico. Conforme o pesquisador, a situação é ainda mais preocupante para o controle biológico de plantas invasoras.
Como desafios a serem vencidos, Bettiol acredita que seria necessário atingir o patamar que está o controle biológico de pragas no Brasil, tanto em número de profissionais quanto em financiamento de pesquisa.
O pesquisador também alerta para a necessidade das principais instituições de pesquisa e ensino possuírem especialistas e disciplinas nesse tema e que os profissionais de diversas áreas devem trabalhar em conjunto para o desenvolvimento de produtos. Também destacou a necessidade de criação de uma coleção de culturas especificamente para os agentes de biocontrole.
Em sua apresentação sugeriu o lançamento de editais de demanda específicos para os estudos com controle biológico de doenças de plantas. Nesses editais seriam contempladas as pesquisas básicas com os bioagentes, como a seleção de novos antagonistas, a compatibilidade com outras técnicas, os impactos ambientais, a ecologia microbiana, o desenvolvimento de isolados de agentes de biocontrole para serem eficientes nas diferentes condições edafoclimáticas e com capacidade de controlar diversos fitopatógenos, considerando-se o duplo efeito defesa-desenvolvimento de plantas.
Também é necessário compreender os mecanismos que promovem a regulação da expressão gênica ao nível transcricional das respostas benéficas para as plantas, desenvolvimento de agentes que também colaborem com o uso eficiente de nitrogênio, e com o manejo da resistência dos fungos aos fungicidas e do manejo integrado de pragas – MIP.
A dificuldade no Brasil para conseguir apoio das instituições públicas é consequência do modo como os pesquisadores são avaliados e remunerados, já que sem tecnologia os produtos não podem ser melhorados e potenciais produtos ficam confinados nas prateleiras das universidades e das instituições de pesquisa.
Mesmo assim, o desenvolvimento de um produto biológico ainda é mais barato do que de um químico, custando de US$ 2 milhões a 10 milhões, enquanto um agrotóxico pode custar US$ 250 milhões. No Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento foram registrados até o início do ano 118 produtos biológicos, sendo apenas 10 deles para controle de doenças.
Cristina Tordin (MTB 28499)
Embrapa Meio Ambiente
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