04/04/16 |   Gestão ambiental e territorial

Inteligência territorial identifica áreas suscetíveis

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Foto: Arte: Gabriel Pupo Nogueira

Arte: Gabriel Pupo Nogueira -

Já está demonstrado que as pragas podem ser introduzidas em áreas muito distantes de seus lugares de origem. No entanto, a proximidade física aumenta o risco de uma invasão. O desafio da vigilância sanitária no Brasil é grande, dada sua vasta fronteira com países vizinhos, com mais de 15,5 mil km de extensão, sendo uma parte por linha seca, outra ao longo de rios, lagos e canais.

A Embrapa Gestão Territorial, com o suporte de sua base de dados georreferenciados, tem trabalhado para identificar as prováveis vias de ingresso das pragas no País e por onde é mais fácil ocorrer sua disseminação, como rodovias federais e estaduais, apoiando a prevenção da entrada e do estabelecimento de pragas quarentenárias no Brasil.
Segundo Claudio Spadotto, gerente-geral dessa Unidade, foram identificadas 364 vias de possível ingresso terrestre de pragas vindas de países vizinhos, em interseções da fronteira com estradas e rodovias, e 26 locais na região de fronteira passíveis de ingresso de pragas por meio de embarcações.

O pesquisador alerta que, devido ao grande número de aeródromos (519 aeroportos e campos de pouso e decolagem) localizados na faixa de fronteira, majoritariamente em propriedades privadas, é necessário um reforço na vigilância e no controle das possíveis entradas de pragas por transporte aéreo.

Atualmente, a região Norte é a principal porta de entrada das pragas quarentenárias no Brasil, e Roraima é o estado que apresenta maior número de registros. Um dos motivos da alta incidência desses organismos está no aumento do fluxo de mercadorias e pessoas circulando pelas fronteiras estaduais e internacionais dos estados da região Norte. Outros fatores que contribuem para esse cenário são a dificuldade de acesso e fiscalização, a falta de pessoal habilitado para identificação de espécies e o clima favorável ao estabelecimento de insetos e ácaros.

Há pelo menos 66 pragas quarentenárias ausentes já estabelecidas nos países que compõem a Bacia Amazônica – Equador, Venezuela, Bolívia, Guiana, Suriname, Colômbia e Peru, além do Brasil –, algumas com alto risco de entrada pela região.

Sem Fronteiras

O transporte de sementes, mudas, frutas e outras partes de vegetais tem sido um dos fatores que mais contribuem para a disseminação das pragas no mundo. Praticamente todos os grupos de pragas podem ser levados dessa maneira. "Incluem-se nesse tipo de via embalagens de origem vegetal, como madeira ou papel, que também podem abrigá-las", explica o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Marcelo Lopes da Silva.

A ampliação do comércio internacional e mesmo o aumento da movimentação de pessoas pelo planeta fazem crescer a probabilidade de que as pragas se estabeleçam em lugares distantes dos seus locais de origem. O chamado transporte acidental ocorre quando a praga não segue com seu hospedeiro. Nessa categoria estão os casos de pragas levadas em vestuários, máquinas, veículos e outros objetos. É possível, por exemplo, o transporte acidental em aviões.

As massas de ar também podem conduzir pragas, em especial os fungos de plantas, fazendo-as atravessar oceanos e atacar culturas em outros continentes. No entanto, estudos realizados pela Embrapa mostram que pelo menos 65% dos casos de introdução de pragas no Brasil têm ligação direta com as atividades humanas. Essa constatação é importante para a regulamentação de requisitos fitossanitários aplicáveis a vias de ingresso, pois indica que as medidas de fiscalização e mitigação de risco são realmente necessárias e possuem uma alta relação custo/benefício.

Daniel Bebber, da Universidade de Exeter, na Inglaterra, publicou em 2014 um estudo que indica que o processo de invasões por pragas está se acelerando, com tendência a ser mais acentuado nas regiões tropicais. Essa previsão corrobora a afirmação do pesquisador Marcelo Lopes, segundo a qual há pressão elevada sobre a agricultura nos trópicos, por causa da grande diversidade biológica existente nessa região.

Alerta sobre a presença de pragas próximas

Em um mapeamento realizado em parceria com a Embrapa e a Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária (SBDA), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento elencou algumas pragas quarentenárias como prioritárias para serem monitoradas pelo serviço de vigilância fitossanitária nas fronteiras. Como exemplos, podem ser citadas: monilíase-do-cacaueiro (Moniliophthora roreri), Striga (Striga spp.), ácaro-chileno-das-fruteiras (Brevipalpus chilensis) e Xanthomonas oryzae do arroz. A precaução leva em consideração a proximidade geográfica de ocorrência das pragas e a importância econômica das culturas agrícolas que podem ser infectadas.
 
Grandes áreas de cultivo próximo a rodovias, hidrovias ou ferrovias, na fronteira com países vizinhos e sem postos de controle do Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagros), são catalogadas como pontos mais suscetíveis. É o caso de um longo trecho da fronteira entre a Bolívia e o estado do Mato Grosso.
 
Estudos mais específicos são realizados, como o diagnóstico feito pelos pesquisadores da Embrapa Gestão Territorial sobre os limites territoriais brasileiros para prevenção à entrada da mosca Prodiplosis longifila, uma praga quarentenária ausente. A Prodiplosis longifila causa grande prejuízo econômico no exterior e há relatos de sérios danos a cultivos de limão, tomate, batata, algodão, abacate, alcachofra, laranja, tangerina e feijão. Essa mosca neotropical está presente em países fronteiriços ao Brasil, como Colômbia e Peru.
 
Com os resultados gerados, foi possível indicar a priorização de ações de vigilância para controle de acesso e contingência em seis municípios acrianos e dois amazonenses.
Outra praga quarentenária que recebeu atenção dos pesquisadores da Embrapa Gestão Territorial para mapeamento das áreas de risco foi a Chilo partellus, mariposa nativa da Ásia responsável por vários prejuízos em cultivos de milho, cana-de-açúcar, arroz, sorgo e milheto.
 
Além das metodologias e resultados de trabalhos anteriores, utilizou-se o Índice Ecoclimático (EI) do potencial de estabelecimento da praga em todo o mundo e a localização dos postos de vigilância sanitária interestaduais. Os dados levantados permitiram identificar áreas vulneráveis na fronteira de Roraima, entre os estados de Mato Grosso e São Paulo e no litoral nordestino. 

 

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Rose Lane César
Secretaria de Comunicação da Embrapa - Secom

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