21/03/17 |   Biodiversidade

Livro retrata belezas e desafios do bioma Cerrado

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Foto: Claudio Bezerra

Claudio Bezerra - O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Aldicir Scariot é um dos autores do livro sobre o Cerrado

O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Aldicir Scariot é um dos autores do livro sobre o Cerrado

Pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Aldicir Scariot é um dos autores

Considerada a savana mais rica do mundo em espécies, o Cerrado acaba de ganhar mais uma publicação. Só que desta vez o livro não retrata apenas as riquezas e peculiaridades deste bioma, mas também seus principais problemas e possibilidades de mitigação. O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Aldicir Scariot é um dos autores do livro "Cerrado: em busca de soluções sustentáveis", lançado pela Rede de Pesquisas para o Uso Sustentável e Conservação do Cerrado (rede ComCerrado/MCTIC/CNPq) no final do ano passado.

"O livro foi publicado visando conscientizar os estudantes, a sociedade civil, os tomadores de decisão e os políticos sobre os impactos que o Cerrado vem sofrendo, suas causas e as projeções desses efeitos em todas as escalas possíveis", explica Scariot. Outros 12 pesquisadores de diversos institutos de ciência e universidades brasileiras também participam como autores.

A publicação é rica em ilustrações científicas e belíssimas fotografias, muitas das quais tiradas pelos próprios pesquisadores das instituições nacionais de ensino e pesquisa que fazem parte da rede ComCerrado, cujo objetivo é avançar no conhecimento ambiental e socioeconômico do bioma. As fotos retratam a exuberância presente em unidades de conservação federais e estaduais, algumas ainda pouco conhecidas pela população, como a Reserva Vellozia (MG), o Parque Estadual do Rio Preto, na Serra do Espinhaço (MG), a Serra do Cipó (MG), a Estação Ecológica de Pirapitinga (MG), o Parque Estadual da Serra Azul (MT) e a Chapada dos Veadeiros (GO), entre outros.

Segundo maior bioma do Brasil, o Cerrado estende-se por uma área de mais de 2 milhões de Km² e só é menor em extensão que a floresta amazônica. A paisagem de árvores retorcidas e cascas grossas e esparsas abrange oito estados do Brasil central: Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Piauí, além do Distrito Federal. É também o segundo maior bioma da América do Sul, pois ocorre no Paraguai, Colômbia, Bolívia e Venezuela.

Mas a importância do Cerrado vai muito além de sua beleza e rusticidade, já que o bioma abriga, em suas planícies e montanhas, mais de 12 mil espécies vegetais catalogadas e 1.500 espécies de animais. "Em pouquíssimas partes do mundo há um bioma como esse: extremamente rico em espécies, mas já reduzido à metade de sua área original", alerta o pesquisador Aldicir Scariot.

O bioma também pode ser considerado pitoresco pois, apesar da pouca disponibilidade de água na região, que passa metade do ano em período de seca, é também chamado de "berço das águas" ou "caixa d'água do Brasil", uma vez que contém as nascentes das principais bacias hidrográficas brasileiras. Suas nascentes e cursos de água escoam para as bacias dos rios Amazonas, Tocantins, Paraíba, São Francisco, Paraná e Paraguai.

Essas e outras informações estão espalhadas por cinco capítulos: A herança natural do Cerrado; Bioma em transformação; Conexões e posição estratégica; Lugares e ecossistemas especiais; e Soluções para o dilema. Ao final do livro, um capítulo inteiro traz sugestões de leitura sobre o tema, com referências para livros e artigos científicos publicados dentro e fora do Brasil. Um glossário de 13 páginas completa a obra, que pode ser considerada um "prato cheio" para estudantes em busca de informações atualizadas.

Cerrado, o bioma que mais perdeu cobertura vegetal

A publicação chama a atenção para os principais problemas do Cerrado, que, em termos absolutos, é hoje o bioma brasileiro que mais perdeu cobertura vegetal nativa. "O Cerrado perdeu, nos últimos 50 anos, mais de 50% de sua vegetação original. Essa drástica redução ocorreu muito mais rápido que na Mata Atlântica, que vem sendo destruída há mais de 500 anos, desde o descobrimento, e está quase extinta", afirma o pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Stanford University (USA), Geraldo Wilson Fernandes.

Segundo os autores, o que tira a harmonia do Cerrado não é nem o curto período de chuvas e a longa estação seca, e nem mesmo o fogo que, quando natural, atua como controle da fisionomia da vegetação e ciclagem de minerais do solo. O verdadeiro "inimigo" seria o desmatamento provocado por extensas monoculturas e a introdução de espécies exóticas que se tornam invasoras, além da exploração mal planejada de minérios e o desrespeito às normas ambientais. "Essas atividades provocam a perda da biodiversidade, dos recursos hídricos e dos serviços ambientais, além de comprometerem a subsistência e os meios de vida das populações tradicionais", ressalta Fernandes.

No âmbito da política, os autores acreditam que há um grande descaso para com o bioma Cerrado. "A política vigente permite a troca injusta de uma beleza e biodiversidade que evoluíram durante milhões de anos - e atende a todos os brasileiros - por meia dúzia de commodities, carvão e energia, produzidos de forma predatória", diz o livro. Neste sentido, a publicação pode ser considerada um grito de alerta para levar aos brasileiros informações que mostrem a importância de se preservar o Cerrado.

Soluções passam pela valorização dos conhecimentos tradicionais

O último capítulo de livro se dedica a encontrar as "Soluções para o dilema". Entre as possíveis estratégias e ações para enfrentar as dificuldades, está a proteção do bioma e das chamadas "comunidades tradicionais", que são grupos que possuem em comum o fato de utilizarem seus territórios causando baixo impacto ambiental e que lutam para recuperar o controle sobre o território que exploram, comprometendo-se, em troca, a prestar serviços ambientais.

"Os conhecimentos e as práticas envolvidas na coleta e no processamento das espécies do Cerrado representam um patrimônio cultural antigo, rico, pitoresco, mas ainda muito limitado. Precisamos catalogar, estudar e divulgar esse conhecimento tradicional para que o uso seja bem planejado e aproveitado também por gerações futuras", afirma o pesquisador Aldicir Scariot

Outras ações propostas passam pelo monitoramento em longo prazo das mudanças climáticas do Cerrado; fomento às atividades comerciais voltadas para produtos nativos; avanço no conhecimento e na formação de pessoal especializado para o estabelecimento de atividades de conservação e uso menos predatório do bioma; disseminação e aplicação de boas práticas de manejo para a extração de produtos da biodiversidade; criação e fortalecimento de unidades de conservação, principalmente em áreas onde a pressão humana é maior, ou em grandes áreas intactas de Cerrado, como a região conhecida como MATOPIBA; promoção de políticas públicas voltadas para a conservação e uso planejado do Cerrado; e campanhas de socialização do conhecimento sobre o bioma, entre outras ações.

"Considerando que mais da metade do bioma já foi desmatada, cabe à sociedade e a seus representantes atuais definirem como será o futuro da região", alerta a publicação.

O livro “Cerrado: em busca de soluções sustentáveis” pode ser acessado para leitura por este endereço.

Irene Santana (MTb 11.354/DF)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Telefone: (61) 3448-4769

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/