Pesquisas estudam respiração do solo em ecossistemas na Amazônia
Pesquisas estudam respiração do solo em ecossistemas na Amazônia
Pesquisadores brasileiros e alemães estão juntos buscando entender os processos que regulam a respiração do solo em diferentes modelos de uso da terra em áreas da Bacia Amazônica. Com base nessas informações, os pesquisadores pretendem oferecer subsídios para tomada de decisão sobre quais modelos são mais adequados para a recuperação ambiental de áreas rurais na região.
A respiração do solo é um conjunto de fenômenos bioquímicos, no qual são envolvidos fatores naturais como temperatura, umidade, nutrientes e níveis de oxigênio, assim como são influenciados por ações humanas como, por exemplo, a forma de manejo do solo e do ambiente. O processo envolve a liberação de dióxido de carbono (CO2) e outros gases como metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), que são alguns dos gases de efeito estufa (GEE).
O pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) Roberval Lima considera que a pesquisa dispõe de resultados relevantes e inéditos por quantificar emissão de gases CO2, CH4 e N2O, na Bacia Amazônica. “Com essa mensuração, vai ser possível refletir e ter entendimento sob o ponto de vista pedogeoquímico das diferentes mudanças de uso da terra na região central e sul do Amazonas”, afirma.
A iniciativa envolve dois projetos complementares: um deles é o Eco Respira Amazon, liderado pela universidade alemã Techinische Universität Bergakademie Freiberg (Tubaf), em parceria com a Embrapa Amazônia Ocidental, que pretende entender como é a respiração do ecossistema e o efluxo de gases do solo na Bacia Amazônica, e como isso varia comparativamente em diferentes ambientes e modos de uso da terra no bioma Amazônia. Já o projeto “Modelos ecologicamente sustentáveis para adequação ao Código Florestal Brasileiro das propriedades rurais no Estado do Amazonas (ModelCF Amazon)”, liderado pela Embrapa Amazônia Ocidental, tem como objetivo usar os dados relacionados à respiração do ecossistema para propor e implementar modelos de recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APPs), Áreas de Reserva Legal (ARLs) e Áreas de Uso Restrito (AURs), que possam possibilitar a adequação ambiental das propriedades rurais no Estado do Amazonas. “Queremos reunir esse conhecimento e transformá-lo em solução tecnológica para uso nos processos de restauração florestal que possam atender ao Código Florestal”, afirma um dos coordenadores do projeto Model CFAmazon, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Roberval Lima.
Os projetos são executados em parceria pelo Centro de Pesquisa Interdisciplinar do Meio Ambiente da Universidade alemã Techinische Universität Bergakademie Freiberg (Tubaf) e a Embrapa Amazônia Ocidental, no estado do Amazonas. Também participam o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e colaboram o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Tecnologia avançada na medição
Segundo o pesquisador Jörg Matschullat, da universidade alemã Tubaf e coordenador do projeto Eco Respira Amazon, um diferencial dessa pesquisa é a metodologia usada para medir a respiração do solo e do ecossistema. Matschullat explica que o equipamento utilizado nas medições quantifica o efluxo de gases, por meio de um espectrômetro com alta acurácia que pode medir tanto o dióxido de carbono quanto outros gases. Mas a questão não é apenas saber sobre emissões. “O efluxo de gases é somente indicador, nada mais. A gente estuda muito mais que isso: caracteriza a química do solo, a física do solo, e todas essas informações juntas são combinadas para obter uma visão complexa sobre o funcionamento do sistema”, diz.
A equipe utiliza um sistema de câmara portátil que contém um tubo fechado e é implantado dentro do solo. A portabilidade do equipamento permitiu à equipe de pesquisadores maior mobilidade para realizar as medições, indo a 13 diferentes localidades, na região central e no sul do Amazonas, contemplando solos de floresta e áreas com diversos modelos de agricultura e áreas de pastagem. O trabalho de campo começou em 2016 e se estendeu até início de 2017. As medições foram repetidas no período seco e chuvoso. “E agora temos dados representativos sobre a Bacia Amazônica, no mínimo, que a meus olhos também são válidos para outras áreas do mesmo tipo de bioma como África central e partes da Ásia”, comemora Matschullat.
“Os dados coletados na Amazônia vão suprir uma lacuna importante para compreensão dos climas tropicais e contribuir para maior entendimento dos ecossistemas na Bacia Amazônica”, afirma o pesquisador. “Faltam dados no Hemisfério Sul sobre esses biomas que desempenham papel de grande relevância no funcionamento do nosso planeta”, considera o pesquisador alemão, que trabalha com geoquímica ambiental, climatologia e reação química de ecossistemas. A equipe do projeto conta ainda com outros profissionais de biogeoquímica, geoecologia, agronomia e ciência florestal.
O próximo desafio é a análise dos dados para elaboração de publicações técnicas e científicas. Durante essa fase, o pesquisador da Embrapa Roberval Lima ficará na Alemanha até o final de 2017, junto com pesquisadores da Universidade Tubaf.
Segundo o pesquisador da Embrapa, nessa interpretação dos dados serão analisados os melhores modelos agrícolas do ponto de vista ambiental e como podem ser adequados para gerar renda de modo sustentável. Até o momento foram executadas medições em diversos modelos como: Sistemas Agroflorestais (Saf) com castanha-do-brasil, monocultivo de castanha-do-brasil para produção de frutos e madeira, sistema para produção de frutos de açaí, pastagens, monocultivo de laranjeira em diferentes tipos de solo, entre outros.
O modelo básico de comparação é a floresta nativa com pouca perturbação. Lima explica que se pretende ampliar a representatividade dos modelos e isso será proposto em futura fase do projeto. Os resultados desses estudos servirão para identificar quanto cada modelo de uso da terra contribui para o armazenamento de carbono no solo, além de servir de base para validar quais modelos são mais adequados e eficientes para recuperação ambiental.
“Esse trabalho em parceria trará contribuições científicas de alto nível e respostas práticas aos governos e agricultores,” espera o pesquisador Matschullat. O cientista acredita que os resultados poderão oferecer alternativas para apoiar o gerenciamento do solo na Amazônia e em regiões tropicais úmidas.
Sobre os projetos
Ambos os projetos fazem parte de cooperação internacional Brasil-Alemanha, por meio do programa Novas Parcerias (Nopa II). Pelo lado brasileiro, a parceria é financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e financiando a participação do país europeu estão as agências Deutscher Akademischer Austausch Dienst (DAAD) e Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ).
Modelos de restauração florestal para a Amazônia
Segundo a gerente de controle agropecuário do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), órgão de fiscalização ambiental no estado, Alexandra Bianchini, há expectativa do órgão ambiental de que os resultados desses projetos possam ajudar na execução da Política de Regularização Ambiental dos imóveis rurais ao indicar parâmetros técnicos a respeito de quais modelos são mais efetivos para recuperação de áreas degradadas. “Os resultados dos projetos são bastante esperados e vão ser importantes para que o órgão responsável possa avaliar o plano de recuperação ambiental com a segurança de que está aprovando uma proposta capaz de dar uma resposta ecológica ao ambiente que está sendo recuperado”, avalia Alexandra. Ela acrescenta que é importante que os modelos de recuperação ambiental promovam também ganhos econômicos ao produtor.
Síglia Regina dos Santos Souza (MTB 66/AM)
Embrapa Amazônia Ocidental
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Mais informações sobre o tema
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