22/01/15 |   Agricultura familiar

Região de Pelotas promete uvas graúdas nesta safra

Informe múltiplos e-mails separados por vírgula.

Foto: Paulo Lanzetta

Paulo Lanzetta - Abertura da Colheita da Uva na Região de Pelotas ocorreu na quarta-eira (21), na Colônia São Manoel, 8º distrito de Pelotasf

Abertura da Colheita da Uva na Região de Pelotas ocorreu na quarta-eira (21), na Colônia São Manoel, 8º distrito de Pelotasf

Os altos níveis de chuvas em 2014 poderiam ter sido prejudiciais à produção de uvas na região de Pelotas/RS. Mas, ao contrário, fizeram com que os parreirais se desenvolvessem bem, resultando em cachos de maior volume. Uma boa notícia para as famílias produtoras, como a Bohrer, que pretende colher, nesta safra, mais de 20 toneladas em pouco mais de meio hectare cultivado. Os números foram apresentados na última quarta-feira (21), na Abertura da Colheita da Uva, realizada na propriedade da família, na Colônia São Manoel, 8º distrito de Pelotas. 
 
De acordo com o pesquisador da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS), Jair Natchigal, a abertura da colheita neste ano teve por objetivo divulgar o potencial produtivo da região. Outro ponto importante trabalhado foi o manejo do solo. A experiência de alguns produtores demonstrou a possibilidade de controle das plantas invasoras sem o uso de herbicidas ou revolvimento do solo, mas apenas integração com uma pastagem de inverno, como o azevém – o que reduz os custos de produção.
 
Durante a abertura oficial algumas autoridades estiveram presentes e se manifestaram sobre a produção de uvas na região. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Nilson Loeck, frisou a importância das políticas públicas para aquisição de terras. "A estrutura principal de produção é a nossa terra", afirmou. Ele ainda frisou o interesse e a dedicação dos produtores para uma produção de qualidade. "É muito lindo isso daqui. Mas não foi por acaso. Esta uva tem esta característica graças à família, que aceitou uma mudança de comportamento, e graças aos técnicos", completou.
 
A vice-reitora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Denise Gigante, agradeceu à família pela disposição em receber os estudantes ao longo do ano, de maneira que eles possam viver na prática os conteúdos ensinados na sala de aula e, assim, compartilhar com os agricultores aquilo que é produzido nos bancos da Universidade. "Esse é o papel social que a Universidade deve ter", disse.
 
A participação dos jovens na agricultura esteve presente na fala do chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Clima Temperado, João Carlos Costa Gomes, que destacou a presença de inúmeros jovens no evento e, principalmente, a permanência dos filhos do anfitrião, seu Osvaldo Bohrer, no campo. "Na Europa está acontecendo. Os jovens estão voltando ao campo, não só como atividade econômica, mas como modo de vida". 
 
A fala da gerente regional do escritório da Emater/RS-Ascar, Karin Peglow, foi em tom de despedida. Em sua última atividade no cargo, ela ressaltou a importância das parcerias para o desenvolvimento sustentável da produção de alimentos. Também reconheceu os esforços das equipes da Emater ao longo de sua gestão. E ficou na expectativa de ver a fruticultura da agricultura familiar cada vez mais presente nas mesas da zona Sul. "Que possamos continuar celebrando, não só a produção de uvas, mas tudo aquilo produzido em nossa região", concluiu.
 
Para o vereador Beto da Z-3, a estrutura da zona rural do município precisa de melhorias, ainda assim, pediu otimismo ao agricultores que já estão produzindo. "Quem tem uma Embrapa, uma Emater e todas essas representações não pode jogar a toalha. Tem que seguir produzindo para evoluir o município, a região e até mesmo o país", concluiu.
 
Finalmente, segundo a deputada estadual Miriam Marroni, a uva produzida na região ainda não é consumida por aqui, embora tenha qualidade e potencial para isso. "Quero continuar acompanhando o desenvolvimento desse novo setor. Contem com nosso apoio para que a uva não seja uma coisa boa só do norte do Estado. A gente tem condições e sabe produzir", afirmou.
 
A Abertura da Colheita da Uva na Região de Pelotas é realizada em parceria entre a Embrapa, Emater, UFPel, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Prefeitura Municipal. Ao final do evento, houve a tradicional Benção da Colheita e a colheita oficial dos cachos. Na sequencia, os cerca de 300 participantes puderam experimentar diferentes tipos de uvas que estavam disponíveis para degustação.
 
Experiência da Serra
A Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves, RS) também esteve representada no evento com novas variedades de uvas. A BRS Magna entra como opção para suco e a BRS Vitória é uma variedade sem semente voltada para mesa.  De acordo com Daniel Grohs, analista da Unidade situada na Serra – região referência em vinicultura – já existem em Pelotas algumas unidades demonstrativas destas variedades para se avaliar a adaptação à região. "A ideia é trazer no próximo ano outros materiais com rusticidade maior com relação a doenças fúngicas", explica. 
 
A família Bohrer
Os cinco integrantes da família Bohrer cultivam duas variedades de mesa e uma para produção de suco. Esta última atende, basicamente, o consumo próprio. A viticultura faz parte do dia a dia da família nas últimas três safras e, desde então, é responsável por um incremento de 80% na renda familiar. O investimento foi relativamente alto – cerca de 30 mil reais –, mas o retorno também foi rápido. A intenção é suprir o valor total do investimento ainda nesta safra. "A expectativa é boa esse ano. Mesmo com o tempo chuvoso, quase demais para a cultura, vai compensar no peso, com uma uva mais cheia", afirma o produtor Rafael Bohrer.
 
A realidade da região
Segundo estimativas da Emater/RS-Ascar, há cerca de 10 hectares de uva para mesa em produção em Pelotas e um total de 24 hectares em expressão no município, entre mesa, suco e vinho. Os números ainda são pequenos em comparação a grandes regiões produtoras. Mas, de acordo com os técnicos, o mercado local é bastante promissor, já que boa parte do que é consumido aqui vem de fora. Exemplo disso é a própria família Bohrer, que ainda nem colheu os cachos e já tem  garantia de compra para toda a produção. "Se tem para quem entregar a uva, então á uma boa opção. Tendo mercadoria boa isso tá vendido", completa Rafael.
 
Em Pelotas, a principal variedade cultivada é a Niágara Rosada por ser mais fácil de produzir e por se adaptar bem às condições da região. "E todo mundo gosta", afirma Natchigal. De acordo com o extensionista da Emater, Luis Carlos Migliorini, as videiras são uma boa opção porque se adaptam bem às condições climáticas da região e porque os produtores já possuem o conhecimento técnico para a fruticultura, tendo em vista a produção de pêssego já existente. O mercado consumidor em potencial – que pode somar mais de um milhão de habitantes em toda a Zona Sul – é outro fator que empolga a cadeia.
 
Histórico
O incentivo à produção de uvas na região vem de 2005, quando se pensava em melhorar a qualidade do vinho produzido nas propriedades familiares. Mas, com o tempo, a diversificação às culturas trabalhadas pelos agricultores locais – como pêssego, leite e fumo – se mostrou mais importante, com culturas como a do figo, da goiaba, do citros de mesa, do caqui, das pequenas frutas e, claro, da uva de mesa.
 
Segundo Nachtigal, a ideia com o incentivo à produção de uvas de mesa é estimular uma cultura que não concorra com o carro-chefe da região: o pêssego. A viticultura é uma boa opção porque não concorre em mão-de-obra, já que boa parte do manejo ocorre logo após a safra do pêssego se encerrar. "Por incrível que pareça o pessoal não acredita que é possível produzir uvas na região. Claro que é possível! Mas os produtores precisam seguir o que é recomendado pelos técnicos", encerra o pesquisador.
 

Francisco Lima (13696 DRT/RS)
Embrapa Clima Temperado

Contatos para a imprensa

Telefone: (53) 3275-8206

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

Galeria de imagens

Encontre mais notícias sobre:

pelotasagricultura-familiaruvaviticulturauva-de-mesasucossuco