Embrapa inicia segundo projeto com os Kaxinawá de Nova Olinda
Embrapa inicia segundo projeto com os Kaxinawá de Nova Olinda
Um novo projeto da Embrapa permitirá a continuidade de ações de pesquisa e transferência de tecnologias na Terra Indígena Kaxinawá de Nova Olinda, localizada no Alto Rio Envira, município de Feijó (AC), iniciadas em 2011. O trabalho nas aldeias envolve o fortalecimento da agricultura indígena, manejo, cultivo e conservação de plantas com potencial medicinal, aproveitamento sustentável de recursos florestais e o incentivo a serviços ambientais. As primeiras ações, realizadas no mês de maio, contemplaram a fase inicial do inventário etnobotânico, processo que vai contribuir para ampliar o conhecimento sobre plantas medicinais e seus usos na medicina kaxinawá.
Aprovado em novembro de 2014, o projeto "Etnoconhecimento e Agrobiodiversidade entre os Kaxinawá de Nova Olinda - Fase II" manteve o foco principal das primeiras pesquisas e incorporou novas atividades que possibilitam uma atuação em diferentes frentes de trabalho. "Buscamos contemplar tanto a diversificação e melhoria da produção agrícola, para garantir a segurança alimentar das famílias, como novas alternativas de renda, considerando a tradição agrícola das aldeias e o potencial da floresta", explica Moacir Haverroth, pesquisador da Embrapa Acre (Rio Branco) e líder do projeto.
Durante a primeira viagem à Terra Indígena, os pesquisadores também definiram, com moradores das aldeias, o cronograma de trabalho para 2015. A execução das atividades conta com uma força-tarefa formada por profissionais da Embrapa Algodão (Campina Grande/PB), Recursos Genéticos (Brasília/DF) e Amazônia Oriental (Belém/PA), Universidade Federal do Acre (Ufac) e Universidade Estadual de Feira de Santana (BA), além de órgãos estaduais como a Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac), Instituto Federal de Educação (Ifac), Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), Instituto de Mudanças Climáticas (IMC) e Secretaria de Meio Ambiente (Sema), além de organismos do terceiro setor, incluindo a Comissão Pró-Índio e Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (Amaaiac), entre outras instituições parceiras no projeto.
Fortalecimento da produção
As ações para fortalecer os sistemas produtivos, com foco na agrobiodiversidade das aldeias, envolvem o manejo de açaí e outras palmeiras abundantes na Terra Indígena, a extração de óleos de espécies vegetais como a copaíba, a produção de fitoterápicos a partir de plantas medicinais e o cultivo de bambu, além do manejo de tracajás e criação de abelhas para produção de mel como alternativas alimentares. Também destacam-se as atividades para consolidação dos sistemas agroflorestais (SAF´s), implantados de modo mais experimental e didático durante o primeiro projeto. Conforme esclarece Haverroth, a ênfase deste trabalho será a ampliação do número de plantas que compõem estes sistemas, com incorporação de espécies florestais nativas, a partir do conhecimento kaxinawá, para uma produção mais contínua e diversificada.
Em relação à produção agrícola, uma das prioridades é a diversificação dos cultivos a partir da inclusão de espécies anuais, principalmente tubérculos como batata e inhame, e formação de bancos de sementes de espécies cultivadas nos roçados. Outro eixo de atuação será a transferência de tecnologias para melhoria do cultivo e dos cuidados pós-colheita do amendoim.
Na Terra Indígena Kaxinawá de Nova Olinda esse produto é cultivado em praias, na época do verão, e em roçados de terra alta, no período das chuvas, prática que possibilita colher duas safras por ano. Junto com a mandioca e a banana, ele constitui a base da alimentação nas aldeias, consumido de forma in natura e em pratos variados, além de ser fonte de renda para as famílias que vendem parte da produção para comércios de Feijó e para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Haverroth explica que apesar da importância social e econômica da cultura do amendoim para as comunidades, a forma como a produção é armazenada – no teto das casas – deixa o produto exposto ao ataque de insetos e pequenos animais e a riscos de contaminação por fungos. "Vamos realizar um diagnóstico das condições de armazenamento desse produto e discutir com os moradores das aldeias práticas de pós-colheita adequadas, para garantir mais qualidade a este alimento, conciliando com práticas já usuais".
Incentivo ao artesanato
Os povos Kaxinawá têm forte tradição com artesanato e um jeito próprio de fabricar esses artigos. Uma das matérias-primas dessa produção é o encauchado de látex de seringueira, também conhecido como couro vegetal. Pesquisadores e agentes agroflorestais das aldeias que formam a Terra Indígena vão atuar na produção de mudas de seringueira, pelo processo de enxertia, para garantir o cultivo da espécie e fortalecer o artesanato como fonte de trabalho e renda para as famílias.
Outra alternativa para incentivar a produção artesanal nas aldeias é o uso do bambu como matéria-prima. Esse processo envolve, inicialmente, o levantamento das espécies existentes na Terra Indígena e a caracterização de propriedades físico-mecânicas da madeira de bambu, como resistência e durabilidade, para indicações de uso. Concomitante a estas ações, serão enfatizadas práticas sustentáveis de manejo de populações naturais, técnicas de extração e beneficiamento da madeira, além da produção de mudas, com ênfase em espécies do gênero Guadua, conhecidas como taboca gigante.
Um primeiro lote dessas plantas, em processo de produção nos laboratórios da Embrapa e Funtac, permitirá a formação de novos cultivos nas aldeias. O plantio, previsto para iniciar em agosto, durante a segunda viagem do projeto, será realizado pelos próprios kaxinawá, que também passarão a produzir mudas como forma de expandir a cultura. O seu caráter renovável – a planta rebrota a cada corte – e pelas múltiplas possibilidades de uso, o bambu agrega um forte componente ambiental. No contexto das comunidades indígenas, além do aproveitamento no artesanato, essa matéria-prima poderá substituir ou complementar a madeira tradicional em pequenas construções. Para tornar essa aplicação possível, o projeto vai oferecer oficinas de construção em bambu para os moradores das aldeias.
Apoio à piscicultura
Desde 2013 o programa estadual de piscicultura investe na construção de açudes em diversas comunidades indígenas do Acre. Além desse apoio, algumas aldeias possuem lagos naturais que possibilitam a prática da pesca para a alimentação e comercialização. Diversas atividades do projeto articulam-se a ações governamentais que objetivam tornar a criação de peixes uma importante alternativa de renda para as famílias kaxinawá, a partir de potencialidades da floresta.
"No primeiro momento, vamos identificar espécies florestais cujos frutos servem de alimento para uma diversidade de peixes, levando em consideração o conhecimento kaxinawá, e incentivar o cultivo dessas plantas em torno de lagos e açudes. O segundo passo desse trabalho será a definição de uma formulação de ração, utilizando uma composição com esses frutos, considerando a necessidade nutricional dos peixes", diz Haverroth.
Serviços ambientais
Paralelamente ao esforço para impulsionar as atividades produtivas e etnoculturais, os pesquisadores vão ajudar as comunidades a se prepararem para a elaboração de projetos de compensação por serviços ambientais, uma forma de captar recursos, conservar a floresta e fortalecer a própria cultura kaxinawá que se expressa também nas práticas tradicionais de conservação existentes nas aldeias.
Segundo Haverroth, essas atividades terão início com o diagnóstico sobre os tipos de solo, vegetação, usos da terra e estoques de carbono, entre outros indicadores ambientais, estudo que permitirá conhecer as potencialidades da Terra Indígena para captação de recursos com base na política estadual de incentivo a serviços ambientais. O objetivo é munir as associações indígenas com dados precisos sobre esse potencial, indicar fontes alternativas de geração de renda e contribuir para o desenvolvimento das comunidades.
Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre
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