14/07/15 |   Transferência de Tecnologia  ILPF

Adoção de sistemas de integração em diferentes países é discutida em sessão plenária

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A segunda sessão plenária do Congresso Mundial sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, realizada na tarde de segunda-feira (13), discutiu formas de adoção de sistemas de integração e desafios como a conservação da água e do solo. Moderada pelo diretor do Centro Internacional para Agricultura Tropical (CIAT) para América Latina e Caribe, Elcio Guimarães, a sessão teve palestras que apresentaram iniciativas em diferentes países – Etiópia, Brasil e Honduras.

Tilahum Amede, pesquisador do International Crops Research Institute for Semi-Arid Tropics (ICRISAT), da Etiópia, fez palestra sobre incentivos para diversificação e intensificação de sistemas de integração lavoura-pecuária na África Sub Saariana. A maior parte da agricultura africana é realizada em sistema de sequeiro, e por isso o grande desafio, segundo Amede, é a gestão da água. Na Etiópia, as regiões com pastagens têm curtos períodos de concentração de chuvas (até 2 mil mm), seguidos de uma estação seca.

"Temos um período chuvoso e outro incerto, mas não há uma política de armazenamento de água. Isso é um desafio imediato, pois estamos perdendo água", afirmou. O pesquisador apontou que o problema é agravado nas áreas degradadas. "Precisamos de incentivo para melhorar a gestão da água, que é capturá-la, armazená-la e utilizá-la de maneira mais eficaz para uso doméstico e na agricultura", completou. Para isso, o pesquisador apontou a necessidade de políticas estabelecidas e instituições para que os produtores possam adotar práticas adequadas.

Amede mostrou exemplos de recuperação de pastagens em Bali, na Indonésia, e no norte da Etiópia, que garantiram sensível aumento na produtividade, bem como redução de custos e das distâncias percorridas pelos animais para buscar água. Outra prática adotada é o uso correto de fertilizantes, que tem promovido maiores ganhos nas lavouras. "Se combinadas à gestão da água, essas e outras medidas se tornam muito eficazes", disse, acrescentando que há esforços para integrar a pecuária à agricultura, mas que o processo depende da criação de pontos de abastecimento de água e da gestão da terra.

O pesquisador do ICRISAT concluiu a palestra salientando que há diversas formas de incentivos, além do financeiro. "Os incentivos em gestão da água vão melhorar o sistema de integração lavoura-pecuária, mas precisamos de políticas para atender à sustentabilidade da agricultura e da pecuária". Por fim, ele destacou a importância da Embrapa: "Vocês têm a Embrapa aqui no Brasil. Precisamos de uma instituição como essa na África, e não temos".

Experiência gaúcha
No Sul do Brasil, um programa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) apoiado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) vem desde 2008 ajudando a transformar a realidade de pequenos agricultores gaúchos. O Programa de Produção Integrada de Sistemas Agropecuários (PISA) foi destacado pelo coordenador do programa no Rio Grande do Sul e pesquisador da UFRGS, Paulo César Carvalho, em palestra sobre problemas e soluções no processo de diversificação das habilidades do produtor.
Com uma abordagem participativa, em que produtores, extensionistas e pesquisadores se reúnem periodicamente, o PISA visa à adoção de boas práticas de manejo nas propriedades, como o plantio direto, a diversificação de culturas e a agricultura de baixa emissão de carbono. "Os produtores têm autonomia e são empoderados para a transferência de tecnologia. Assim, eles transferem conhecimentos a outros produtores", explicou.

Carvalho apontou possibilidades de inserção da pecuária em sistemas de lavoura. "A soja integrada com o gado proporciona uma renda mais alta. E a pecuária pode gerar uma resistência e uma resiliência maior para os cultivos nos anos difíceis", disse. "Confiança e flexibilidade são as duas palavras chave para quem quer usar sistemas de integração lavoura-pecuária", completou.

No programa, a adoção de sistemas de integração lavoura-pecuária se dá em quatro passos: ajustes, início da implantação, eficiência e novos passos. "Com os resíduos da lavoura, há um aumento na produtividade do pasto e da pecuária, além da redução dos custos de manutenção do sistema", apontou Carvalho. Um dos casos de sucesso do programa é o da Granja Ortiz, propriedade leiteira localizada em Pirapó (RS). Após seis anos de implantação do sistema, a produção anual de leite, carro-chefe da propriedade, aumentou 179% e a margem bruta mensal média de lucro passou de 17% para 49%.

Um dos próximos passos do programa, segundo o pesquisador da UFRGS, é a certificação das propriedades e dos processos de produção a partir de uma ferramenta utilizada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) que avalia quatro dimensões de sustentabilidade: boa governança, integridade ambiental, resiliência econômica e bem-estar social. "As primeiras 77 propriedades analisadas foram muito bem avaliadas", informou.

Importância do solo
O engenheiro agrônomo Luís Alvarez Welchez, gerente da iniciativa Pro Suelos – Programa de Água, Solos e Agricultura no Catholic Relief Services (CRS), em Honduras, fez a última palestra, abordando o manejo sustentável de solos e a intensificação da produção em sistemas agroflorestais naquele país.

Ao fazer um breve panorama sobre a América Central, Welchez apontou características e dificuldades comuns aos países centro-americanos. "A agricultura é basicamente familiar e os sistemas de produção são muito variados. O problema é que nossa água doce é superficial, e se perdermos a cobertura dos solos, perderemos água. Isso está acontecendo pouco a pouco", afirmou.

O agrônomo defendeu o enfoque em sistemas e lembrou que eles devem ser medidos como tais, e não como cultivos isolados. "Temos que medir o que os sistemas produzem de oxigênio e captam de água, e não apenas a emissão de gases. E o solo é o primeiro sistema a ser cuidado para que os demais possam existir", observou, acrescentando que a prática da agricultura conservacionista deve ser adotada por produtores de todos os portes. Ele foi enfático ao desmistificar a questão do consumo de água pela atividade agrícola: "Agricultura não gasta água, ela usa e purifica a água. É o único sistema que faz isso".

No trabalho do Pro Suelos, ocorre o que Welchez chama de processo participativo de apropriação das tecnologias. "Temos que ver a tecnologia, mas também temos que considerar o produtor que a está utilizando. Por isso a metodologia participativa, que é ainda uma oportunidade para mostrar outras coisas que ele talvez não conheça", disse.
Welchez apresentou como experiência de sucesso o sistema agroflorestal Quesungal, um conjunto de tecnologias de manejo de solo, de água, de nutrientes e de vegetação baseado em três tipos de cobertura de solo: restos culturais, cultivos, além de arbustos e árvores dispersos em regeneração natural. Adaptação de um sistema agroflorestal indígena, o sistema Quesungal pode ser usado em áreas montanhosas degradadas, como na província de Lempira, na fronteira com El Salvador. "O princípio é sempre manter a cobertura do solo e ter mais raízes para melhorar a infiltração de água no solo", explicou.

Entre os resultados apresentados, além da melhoria da renda e da qualidade de vida das famílias, estão a maior segurança alimentar, com o incremento na produtividade de culturas agrícolas como milho e feijão e na produção de leite (a rentabilidade da pecuária triplicou), produção de madeira para diferentes finalidades, aumento na umidade do solo, que passa de 8% para 29%, aumento da biomassa de raízes, dos nutrientes e do estoque de carbono no solo e diminuição da erosão.
Ao fim da palestra, o gerente do Pro Suelos reiterou que sem o manejo sustentável dos solos não há como manter os sistemas de integração. "Uma sugestão é que os países valorizem mais o tema solo, da mesma forma que a água e as florestas", finalizou.

Breno Lobato (MTb 9417-MG)
Embrapa Cerrados

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