Jovens Puyanawa participam de oficina de incentivo à alimentação saudável
Jovens Puyanawa participam de oficina de incentivo à alimentação saudável
Buriti, coco, abacate, banana, macaxeira, mamão verde, orelha-de-macaco, gengibre, pimenta e folhas de jambo e laranjeira deram sabor aos pratos e guloseimas produzidos por estudantes do Ensino Médio e professores da Escola Estadual Ixubay Rabui Puyanawa, durante oficina culinária, na Terra Indígena Puyanawa, em Mâncio Lima (AC), na primeira semana de outubro. Moradores das Aldeias Barão e Ipiranga vivenciaram novos sabores e possibilidades de preparo de alimentos, como alternativa para uma alimentação mais saudável e promoção da saúde.
Realizada pela Embrapa, em parceria com a Universidade Federal do Acre, a oficina faz parte das atividades do projeto “Etnoconhecimento, agrobiodiversidade e serviços ecossistêmicos entre os Puyanawa”, executado desde setembro de 2017, com apoio da Fundação Nacional do Indio (Funai), por meio da Coordenação Regional do Juruá, sediada em Cruzeiro do Sul (AC).
“Além de propor uma diversificação no cardápio da escola e comunidade, este tipo de ação visa incentivar o consumo de alimentos saudáveis, como grãos, raízes, tubérculos, hortaliças e frutos, existentes nas aldeias. Muitos alimentos saudáveis estão sendo substituídos por produtos industrializados, pobres em nutrientes e ricos em carboidratos, devido à facilidade de acesso a centros urbanos”, explica a nutricionista Eline Messias, professora da Universidade Federal do Acre (Ufac) e coordenadora da oficina.
A nutricionista lembra que o excesso de alimentos processados na alimentação prejudica a saúde. Uma das consequências desse consumo é a presença crescente de diabetes, hipertensão, desnutrição e câncer na população. "As pessoas estão mais abrindo pacotes do que descascando frutas para se alimentar", enfatiza, reforçando que uma alimentação mais local pode ajudar a prevenir esses tipos de doenças nas aldeias.
Aprender fazendo
O púbico da oficina degustou cada prato produzido e conferiu que alimentos comuns nas aldeias podem ser matéria prima para receitas saborosas, nutritivas e saudáveis. “Precisamos valorizar o que tem na comunidade, aproveitando mais os alimentos produzidos por nós e variar os pratos. Vi que dá para fazer muita coisa diferente”, comenta Wesley Alves de Menezes (17), aluno do segundo ano.
A utilização de brotos de folhas de jambo e de laranjeira no suco de limão chamou a atenção da estudante Michele Rosas da Silva (16). “Tem muita coisa que a gente nem imagina que pode ser usado como alimento. Por exemplo, com a hortaliça orelha de macaco fizemos um mousse delicioso. Agora aprendi, vou fazer mais e mais”, enfatiza
A estudante Rosana de Lima Martins (15) destaca que colocar a mão na massa e preparar os pratos em equipe foi desafiador e ao mesmo tempo uma experiência gratificante. “Foi tudo rápido e todo mundo ajudou. Podíamos ter mais aulas práticas como essa porque assim a gente aprende fazendo. Vi que dá pra inventar muitos pratos gostosos”, acrescenta.
Para Edevânia de Araújo Alves, professora da escola há 15 anos, a oficina contribuiu para mostrar para a comunidade a importância de consumir alimentos mais saudáveis. “Contamos com a presença de mães de famílias que vieram também aprender. Isso é bom porque eu vou levar o que aprendi para minha casa e os alunos para os pais. Assim, podemos fazer essas informações chegar a outros moradores”, reforça.
Diálogo com a escola
Segundo o pesquisador da Embrapa Acre, Moacir Haverroth, líder do projeto, a participação de alunos e professores na atividade é também uma estratégia de comunicação para promover maior interação entre a comunidade escolar e as ações desenvolvidas pela equipe, na Terra Indígena. “Por meio do programa Embrapa & Escola, vamos estabelecer vínculos com a escola e desenvolver ações que propiciem maior diálogo com alunos e professores”, explica.
Um dos resultados práticos da oficina é a proposta de um encontro com a participação das mulheres da Terra Indígena, com foco na elaboração de um cardápio com pratos típicos da culinária Puyanawa, a ser oferecido durante a terceira edição do Festival Atsá (Festival da Mandioca), em julho de 2019. Na mesma direção, também está prevista, em parceria com a Ufac, a instalação de hortas na escola e nos quintais das casas como alternativa para reintroduzir o cultivo de espécies tradicionais em desuso e ampliar a oferta de alimentos nas aldeias.
Alimentação saudável e PANC
Como parte introdutória dos conteúdos da oficina, os estudantes participaram de palestra sobre Plantas Alimentícias Não Convencionais, conhecidas como PANC, ministrada pela professora da Ufac, Almecina Balbino, que falou sobre o potencial dessas espécies para o consumo e cultivo. De acordo com a especialista, há uma diversidade de alimentos nos quintais indígenas e na floresta que podem ser (re)introduzidos na alimentação das famílias. “Com a ajuda dos mais antigos, já identificamos algumas espécies de plantas que, no passado, eram tradicionalmente consumidas, mas atualmente são pouco utilizadas na culinária puyanawa”, diz.
A equipe de pesquisadores também investiga o valor nutricional e os benefícios do consumo de espécies alimentícias convencionais e tradicionais para, posteriormente, realizar sua multiplicação para cultivo na Terra Indígena. Em análises laboratoriais realizadas por profissionais da Ufac, uma das plantas estudadas, a hortaliça conhecida como orelha-de-macaco ou agrião-da-Amazônia, apresentou índice proteico superior ao do feijão.
Embrapa & Escola
O Embrapa & Escola é uma estratégia de popularização do conhecimento científico, voltada para o público estudantil, executada pelas diferentes Unidades de pesquisa da Embrapa, nos diversos estados brasileiros. Por meio de atividades lúdicas, busca mostrar como a Ciência participa do dia a dia das pessoas e despertar o interesse de crianças e jovens pela temática. No Acre, é executado desde 2000 e já beneficiou mais de oito mil alunos de escolas públicas e privadas com visitas guiadas às dependências da Embrapa e ações realizadas no ambiente escolar. Pela primeira vez, o programa atua com povos indígenas.
Mauricilia Silva (Mtb 429/AC)
Embrapa Acre
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