10/12/18 |   Transferência de Tecnologia

Tarde dedicada à viticultura de mesa em cultivo protegido mobiliza produtores da Serra Gaúcha

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Foto: Viviane Zanella

Viviane Zanella - A fiscal Helena Pan Rugeri apresentou o Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em Produtos de Origem Vegetal

A fiscal Helena Pan Rugeri apresentou o Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em Produtos de Origem Vegetal

Entidades se articulam para orientar e garantir a qualificação da produção

“Acendeu uma luz amarela para o cultivo de uva de mesa na última safra”, pontuou Helena Pan Rugeri, fiscal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), ao falar sobre o Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em Produtos de Origem Vegetal (PNCRC Vegetal) na sexta-feira passada, durante encontro que reuniu  mais de 150 produtores de uvas de mesa sob cultivo protegido da Serra Gaúcha, na Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves.

O PNCRC é semelhante ao Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da Anvisa e realiza fiscalização na produção para garantir a segurança do alimentos, a partir da  análise de resíduos de agrotóxicos e de contaminantes. Com base nos resultados de monitoramento realizados em 15 propriedades rurais na safra 2017/18, foi verificado que todos os produtores estavam em conformidade com a legislação. No entanto, um ponto que chamou a atenção foi a gama de produtos detectados em algumas amostras.  Por essa razão, a fiscal agropecuária  chamou a atenção para esse tema durante a sua palestra,comentando sobre a importância do alerta para evitar problemas futuros.

O pesquisador da Embrapa Henrique Pessoa dos Santos apresentou o sistema com cobertura plástica como um tratamento preventivo, que garante a redução na utilização de produtos, principalmente fungicidas, com a garantia de safra e qualidade da fruta. Ou seja, é um sistema totalmente diferente do convencional e exige mais conhecimento por parte dos produtores para utilizar adequadamente essa técnica de cultivo. “Se tiver dúvida, não cubra!”, enfatizou ele. O pesquisador reforçou que o produtor interessado em adotar o sistema deve buscar orientações técnicas específicas, pois  é mais caro na hora de implantar, mas pode reduzir e, em alguns casos, eliminar a utilização de agrotóxicos, sendo esse um dos principais objetivos da tecnologia.

Santos também defendeu que os agrotóxicos utilizados no cultivo protegido deveriam ter dupla rotulagem, especificando os intervalos de aplicação e de carência para cada um dos sistemas (protegido e aberto). Essa observação tem como base os resultados de diversas pesquisas, as quais demonstraram que a degradação dos compostos sob as coberturas é menor do que quando comparada ao sistema convencional (a céu aberto). ”No protegido não ocorre a lavagem pela água da chuva e nem a fotodegradação, ocasionada pelo sol. Por isso, o intervalo de segurança dos produtos aplicados deveria ser maior, mas os produtores não têm essa informação nos rótulos dos produtos que utilizam, os quais foram caracterizados apenas em condições de cultivo aberto”, alertou o pesquisador.

“A dupla rotulagem nos insumos poderia trazer maior segurança para o viticultor, pois este terá uma referência de tempo que foi ajustada para essa realidade protegida e, como consequência, o produtor pode adequar melhor a frequência de aplicações”, defendeu Santos. A demanda foi prontamente  aceita pelo fiscal Rafael Friedrich de Lima, do Departamento de Defesa Agropecuária da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi), que também palestrou no encontro, e ficou de encaminhar essa solicitação de alteração dos rótulos para as instâncias competentes.  

O controle de doenças da videira no sistema de cultivo protegido também integrou a programação do evento e foi apresentado pelo pesquisador Lucas Garrido, da Embrapa Uva e Vinho. Ele defendeu e orientou os viticultores sobre a possibilidade do emprego de produtos alternativos aos agroquímicos sintéticos, com destaque para a recomendação de produtos biológicos, os quais apresentam excelentes resultados, são menos tóxicos, não deixam resíduos e estão registrados para a videira.

O que a fiscalização realizada pela Seapi avalia nas propriedades foi tema da palestra do fiscal Rafael Friedrich de Lima. Itens como o local de armazenamento; uso de produtos autorizados; uso de equipamentos de aplicação e de proteção dos agricultores; a lavagem, o armazenamento e a correta destinação das embalagens vazias de agrotóxicos estão na lista de verificação.

O evento também foi importante para alertar os produtores sobre estratégias para reduzir o emprego de produtos químicos no sistema, reforçar a necessidade da utilização de  EPIs e a importância da atualização de todos em tecnologia de pulverização, envolvendo a qualidade da água, a calibração dos equipamentos, a validade e a manutenção dos bicos de pulverização.

A intensa participação dos produtores no evento, e também durante o debate, quando puderam esclarecer dúvidas e compartilhar  experiências,  foi uma demonstração do interesse em fazer melhor. Segundo relatou o produtor Luis Carlos Lazzeri, de 74 anos, mesmo tendo ‘nascido embaixo da parreira e produzido uva  a vida inteira’, o encontro foi um bom momento para aprender e pensar sobre a produção de uva de mesa.

Para Ênio Todeschini, engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, o evento foi muito importante para reforçar o manejo recomendado para o cultivo protegido, pois muitas vezes o produtor traz o modelo do cultivo tradicional para o ambiente protegido, o que não pode acontecer. Ele destaca que o investimento na cobertura serve para dar segurança de produção contra as intempéries, como o granizo, e principalmente na redução de diversas doenças, como o míldio e as podridões de cacho.“É outro mundo, não pode ser trabalhado da mesma forma. O produtor investe na cobertura e não pode gastar de novo em aplicações desnecessárias. Só deve aplicar se realmente precisar”, enfatizou ele.

“Esse foi um encontro articulado para auxiliar os produtores de uva de mesa. Apresentamos os resultados do monitoramento, alertamos sobre as normativas seguidas pela fiscalização e apresentamos soluções para um cultivo protegido de sucesso. A Embrapa tem diversas tecnologias validadas e disponíveis aos produtores.”, pontuou  o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Uva e Vinho, Marcos Botton, um dos coordenadores do evento.

A Reunião Técnica sobre resíduos de agrotóxicos em cultivo protegido de uvas de mesa foi uma articulação da Embrapa Uva e Vinho, Emater-RS/Ascar, SEAPI-RS e MAPA, realizada no dia 07 de dezembro de 2018, em Bento Gonçalves.

Benefícios do cultivo protegido:

  • Possibilita redução de agrotóxicos em condições meteorológicas pouco favoráveis;
  • Regularidade da produção com bom aspecto visual;
  • Garantia de safra e de qualidade da colheita;
  • Efeito guarda-chuva: é uma barreira física para chuva, granizo e ventos;
  • Demanda menos água.

Como obter sucesso com o cultivo protegido:

  • Implantar o sistema em locais com boa exposição solar;
  • Utilizar mudas de qualidade;
  • Instalar a cobertura somente após o completo crescimento do parreiral (~ terceiro ciclo), pois ela poderá restringir a disponibilidade de água para a muda na fase de formação;
  • Realizar a poda verde e o manejo dos ramos do ano, pois a vegetação não pode tocar no plástico e nem sair da cobertura, para garantir o controle de doenças, principalmente o míldio;
  • Eliminar os restos de poda, diminuindo o inóculo de fungos;
  • Realizar o tratamento de inverno (sem o plástico na área), em áreas com muitas doenças;
  • Ajustar a irrigação em função da menor demanda hídrica
  • Evitar o excesso de adubação;
  • Utilizar produtos biológicos sempre que possível;
  • Reduzir o número de aplicações de agrotóxicos, em função do manejo fitossanitário ser diferenciado:
  • Não existe a lavagem do produto pela chuva e ocorre uma menor degradação das moléculas dos produtos aplicados pela proteção do plástico;
  • As pulverizações com metal e cloro também degradam o plástico, que tem um alto investimento.
  • Lavar o plástico da cobertura anualmente após a safra, com apenas esponja e água;
  • A uva produzida tem qualidade diferenciada e isso deve ser considerado na sua comercialização.
  • Os produtores devem sempre se atualizar e procurar por informações técnicas.Evitar cobrir o vinhedo sem as informações técnicas necessárias.

Saiba mais:

PNCRC Vegetal: o Programa tem como objetivo monitorar a qualidade dos produtos de origem vegetal em todo o território nacional, destinados ao mercado interno e à exportação. em relação à ocorrência de resíduos de agrotóxicos e contaminantes químicos e biológicos.  Como funciona: Se constatada alguma não-conformidade no monitoramento, será realizado um processo de investigação (Aviso de Violação). Se for comprovada a não-conformidade na investigação, é iniciada uma ação de fiscalização, conforme legislação específica, com a coleta de amostra fiscal na origem com não-conformidade e fiscalização do uso de agrotóxicos pela SEAPI. Ao ser confirmada a não conformidade é lavrado Auto de Infração, de por destinar para consumo ou para processamento produtos vegetais, subprodutos e resíduos de valor econômico que estejam desclassificados (impróprios ao consumo). A pena é uma advertência e pagamento de multa , com apreensão ou condenação da matéria-prima ou produto. Ao ser concluído o processo no âmbito administrativo, é encaminhada cópia ao Ministério Público para apuração da responsabilidade civil ou penal.

Confira as palestras apresentadas:

Resíduos de agrotóxicos e de contaminantes - Helena Pan Rugeri

Fiscalização de uso de agrotóxico em propriedade rural - Rafael Friedrich de Lima

Manejo de plantas em cultivo protegido de uvas de mesa - Henrique Pessoa dos Santos

Manejo de Doenças em cultivo protegido de uvas finas de mesa - Lucas Garrido

 

VIviane Zanella (Mtb 14400)
Embrapa Uva e Vinho

Contatos para a imprensa

Telefone: 54-34558084

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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