12/12/18 |   Biodiversidade  Produção vegetal

Artigo - Manejo de açaizais no estuário amazônico

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Foto: Ronaldo Rosa

Ronaldo Rosa - Mais de 90% da produção de açaí tem origem no extrativismo praticado pelas populações ribeirinhas

Mais de 90% da produção de açaí tem origem no extrativismo praticado pelas populações ribeirinhas

José Antonio Leite de Queiroz*

O açaizeiro (Euterpe oleracea, Mart.) é uma palmeira típica da Amazônia, de ocorrência espontânea nos estados do Pará, Amazonas, Maranhão e Amapá. Ele ocorre formando touceiras que, se manejadas corretamente, podem se manter produtivas durante muitos anos. Não obstante os impactos observados na vegetação, o manejo dos açaizais nativos tem se consolidado como uma alternativa sustentável de produção de alimentos e de geração de rendas para as populações tradicionais da Amazônia.

O manejo florestal para produção de madeira é bem conhecido e há muito tempo realizado por empresas e profissionais da área. O manejo dos açaizais é um manejo florestal que beneficia os açaizeiros, proporcionando o aumento no número de touceiras e, se bem planejado e executado, o aumento na produção de frutos de açaí.

O manejo dos açaizais consiste na distribuição espacial harmoniosa entre palmeiras de açaí e demais espécies existentes na área, com distâncias adequadas entre as palmeiras, manutenção e distribuição das demais espécies entre as palmeiras, que contribua para o fornecimento de alimento para os açaizeiros, através da reciclagem dos nutrientes existentes nas camadas do solo que as raízes dos açaizeiros não conseguem alcançar e a entrada de luminosidade adequada para a fotossíntese de todas as espécies vegetais que convivem no ambiente.

Usando o hectare como referência, isto é, uma área de 10.000 m², a Embrapa recomenda o Manejo de Mínimo Impacto de Açaizal Nativo que consiste em deixar até 400 touceiras de açaizeiros e 250 pés das demais espécies. Na touceira de açaizeiro, até um máximo de 12 estipes, sendo até 5 estipes adultos (plantas produzindo), até 4 jovens (plantas com mais de 2 metros que ainda não produziram) e 3 perfilhos (plantas com mais de 30 cm e menos de 2 metros), com altura máxima de 14 metros para os estipes. Entre os 250 pés das demais espécies, recomenda deixar a maior diversidade possível, para atrair os polinizadores para as flores dos açaizeiros, e para uma convivência benéfica com os açaizeiros, 150 plantas finas (circunferência entre 15 e 60 cm) 50 plantas médias (circunferência entre 60 e 140cm) e 50 plantas grossas (circunferência maior que 140 cm).

A região do Marajó, em anos recentes já forneceu inúmeros produtos ao mercado, entre eles seringa, madeira e palmito de açaí. Os frutos de açaí vêm servindo de alimento aos nativos da região há muito tempo. Atualmente consideráveis quantidades excedentes de frutos estão sendo levados aos mercados consumidores, proporcionando renda monetária aos ribeirinhos, com visível melhoria na qualidade de vida de muitas comunidades.

A Embrapa Amazônia Oriental e a Embrapa Amapá, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), juntamente com a Emater/PA, técnicos das Secretarias Municipais de Agricultura e lideranças comunitárias, estão promovendo treinamentos em manejo de mínimo impacto de açaizal nativo, beneficiando ribeirinhos de quase todos os municípios marajoaras, para aumento da produção de frutos de açaí e manutenção ou aumento da diversidade florestal na região.

Entre os benefícios resultantes da adoção do “manejo de mínimo impacto de açaizais nativos” pode-se citar:

1. Aumento em até três vezes na produtividade de frutos;

2. Manutenção ou aumento na diversidade florestal da área manejada;

3. Ampliação do período de safra;

4. Mais segurança e menos esforço na coleta dos cachos com frutos.

 

*Engenheiro florestal da Embrapa Amazônia Oriental

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