Projeto Integrado da Amazônia e Projeto Fortalece viabilizam capacitação sobre qualidade do açaí
Projeto Integrado da Amazônia e Projeto Fortalece viabilizam capacitação sobre qualidade do açaí
Extrativistas, agricultores, catadores autônomos e gestores de agroindústrias do município Feijó (AC), participaram de oficinas sobre Boas Práticas na colheita, pós-colheita e processamento agroindustrial do açaí, na segunda semana de abril. As capacitações fazem parte das ações do projeto “Qualidade da matéria prima, do processamento de açaí e café e gestão de agroindústrias familiares do Acre – Fortalece”, e do Projeto Integrado da Amazônia, executados pela Embrapa, e atualizaram conhecimentos sobre Boas Práticas na coleta, acondicionamento, transporte e beneficiamento dos frutos de açaí, com foco na melhoria da qualidade da polpa.
A oficina sobre os cuidados nas etapas de Colheita e Pós-colheita de frutos de açaí, realizada no dia 10, reuniu moradores do ramal Maravilha, comunidade Sinimbu, localizada no seringal Benfica. A adoção de Boas Prática é requisito básico para a implantação de uma Unidade Demonstrativa (UD) de Boas Práticas na comunidade, prevista no projeto Manejo Florestal Extrativista (EMF Amazon) componente do projeto Integrado da Amazônia. Nos dias 10 e 11 manipuladores e gestores de agroindústrias aprimoram conhecimentos durante oficina sobre o processamento de açaí, na sede da Agroindústria República do Açaí.
As boas práticas envolvendo a produção de açaí são procedimentos previstos em norma do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e contemplam desde a coleta dos frutos, na floresta, até a fase de processamento e comercialização da polpa. “Todos os profissionais envolvidos com a produção de açaí devem estar atentos às recomendações legais que podem assegurar qualidade ao produto final. A ocorrência de falhas em uma das etapas pode inviabilizar a produção e afetar toda a cadeia”, explica a analista da Embrapa Acre Dorila Mota, líder do projeto Fortalece.
Cuidados na colheita e pós-colheita
O açaí é um alimento rico em substâncias benéficas à saúde (fibras, vitaminas e antioxidantes entre outras), mas, a manutenção desses compostos funcionais na polpa processada, de acordo com a pesquisadora da Embrapa Acre, Cleísa Brasil, depende de cuidados adequados na manipulação da matéria-prima. “Dentre os fatores que influenciam a qualidade sanitária e as características nutricionais do açaí estão as condições de temperatura no acondicionamento e o tempo entre a coleta e o beneficiamento dos frutos. O recomendado é que sejam mantidos em locais arejados e frescos e processados em até 24 horas da colheita, para garantir um produto em condições próprias para o consumo”, explica.
A oficina na comunidade também enfatizou cuidados com a limpeza e higienização do kit de coleta e a necessidade de evitar o contato dos frutos com o solo, entre outros aspectos da colheita, incluindo o uso de equipamentos de segurança. Em relação à pós-colheita, a capacitação focou práticas como a seleção dos frutos colhidos, para eliminar resíduos de terra, folhas e insetos, o transporte da produção em cachos e em ambiente adequado, longe da presença de animais e cuidados com a higiene pessoal dos coletores.
Segundo o extrativista Jevanis Nascimento, presidente em exercício da Associação de Produtores Rurais do Seringal Benfica (Aspesb), atualmente o açaí participa com 40% nas atividades produtivas da comunidade. Além da coleta em açaizais nativos, há dois anos os moradores investem em cultivos comerciais, com o objetivo de tornar o açaí a principal atividade econômica. Cada família tem o compromisso de plantar 200 plantas por safra. A meta é triplicar a produção até 2030. “Além de gerar mais renda, o cultivo de açaí permite estimar melhor a safra, facilita a colheita dos frutos e o monitoramento dos plantios e torna a atividade produtiva mais sustentável. Essa cultura pode transformar o presente e o futuro da comunidade. Estamos buscando novas alternativas para aumentar a produção e capacitação para aprimorar o trabalho das famílias”, explica Nascimento.
Para o produtor José Doraci, proprietário de uma das cinco despolpadeiras existentes na comunidade Sinimbu, o cultivo de açaí também visa manter a família unida. “Com os açaizais mais próximos de casa, os riscos e os esforços na colheita diminuem e isso tem motivado os mais jovens a permanecerem na atividade. Colho açaí desde sempre e ensinei esse ofício a meus filhos para que eles possam me substituir na propriedade. As Boas Práticas não são novidade, mas queremos aprender mais para melhorar cada vez mais o nosso trabalho”, enfatiza.
Cuidados na agroindústria
Entre as exigências normativas para processar a polpa de açaí estão a necessidade de adequação dos espaços físicos para manipular os frutos, os cuidados com a água e o uso de temperatura apropriada para eliminar impurezas e agentes contaminantes na produção de polpa. Além destes aspectos, os participantes da oficina de processamento agroindustrial receberam orientações sobre questões sanitárias pós-processamento e práticas comportamentais e higiênicas que devem ser adotadas pelos manipuladores.
O pesquisador Marcus Arthur Vasconcelos explica que a adoção e monitoramento de boas práticas na atividade agroindustrial envolvendo o açaí deve ser um processo contínuo, ou seja, cada lote que chega à agroindústria passa pelos mesmos critérios. “É comum haver resistência na mudança de hábitos, especialmente em relação ao uso da água clorada, procedimento simples que influencia diretamente na qualidade do produto final. Outro fator importante é o uso de utensílios em inox ou plástico que, do ponto de vista da qualidade microbiológica são mais seguros que utensílios de madeira comumente encontrados em ambientes agroindustriais”, destaca.
Na opinião do microempresário Mateus Oliveira da Silva, proprietário da República do Açaí e parceiro na execução do Projeto Fortalece, a adoção de procedimentos de Boas Práticas na produção de polpa vai além da necessidade de ofertar alimento seguro para o consumidor e está relacionada diretamente à própria sobrevivência do negócio. “Não basta dispor de estrutura moderna e equipamentos adequados para a produção, é preciso conhecer bem os procedimentos necessários e a matéria prima utilizada. Disso depende a as condições sanitárias do produto e a credibilidade da empresa. Quando o foco é a qualidade, toda capacitação é bem-vinda”, diz.
Branqueamento do açaí
Na agroindústria de Júlia Graciela Bento são processados, em média, 300 quilos de polpa de açaí por dia, vendidos em Feijó e no mercado de Rio Branco. As boas Práticas na produção incluem o branqueamento dos frutos que serão processados, procedimento que consiste no tratamento térmico a uma temperatura de 80°C, durante 10 segundos, seguido do resfriamento. A técnica permite eliminar microorganismos que oferecem riscos à saúde, incluindo o protozoário Trypanosoma cruzi, agente transmissor da doença de chagas, que pode ser encontrado em fragmentos ou nas fezes do inseto conhecido como barbeiro. Segundo a empresária, as capacitações são uma oportunidade para quem trabalha com açaí adequar procedimentos e melhorar a qualidade da produção sem grandes custos.
“Defendemos que conhecimento nunca é demais. Priorizamos as Boas Práticas na agroindústria e também como exigência para os nossos fornecedores. Na triagem dos frutos é possível avaliar o nível de adoção dos procedimentos adotados na colheita e transporte, mas além desses cuidados necessitamos de uma legislação estadual que regulamente o processamento agroindustrial do açaí e permita ofertar um produto com qualidade certificada. Esse é um aspecto importante para desenvolver a cadeia produtiva e a economia do município e do estado”, destaca a empresária.
De acordo com Júlia Costa de Souza, chefe da Vigilância Sanitária em Feijó, as Boas Práticas constituem o ponto de partida para a produção de alimento de qualidade e sem riscos para a saúde do consumidor. “No caso do açaí, mesmo numa estrutura física simples e pequena é possível produzir polpa com qualidade se forem adotados os procedimentos higiênicos necessários em todas as etapas do processo de produção”, enfatiza a gestora, destacando que boa parte da polpa comercializada no município é processada em pequenas agroindústrias de base familiar que ainda apresentam certa resistência quanto ao uso de alguns procedimentos de Boas Práticas e de Equipamentos de Proteção Individual (EPI´s).
Gestão na agroindústria
Além das capacitações com ênfase na melhoria da qualidade do açaí processado, o projeto Fortalece também realizou oficina sobre gestão da agroindústria, no dia 11 de abril. A atividade focou no acompanhamento das despesas e receitas oriundas da produção de polpa de açaí processada, incluindo aspectos como custo unitário e ponto de nivelamento entre receitas e despesas. Além disso, apresentou os resultados do acompanhamento econômico-financeiros realizado há um ano, por técnicos da Embrapa, na agroindústria República do Açaí.
“A gestão de uma agroindústria vai muito além do processo de produção. Aspectos como obrigações tributárias, custos com transporte da matéria prima, formação de capital de giro e estratégias para posicionamento no mercado também precisam ser considerados na apuração da rentabilidade do negócio. Buscamos mostrar que o gestor precisa ser detentor de uma gama de conhecimento necessários à sustentabilidade do negócio”, afirma o analista da Embrapa Márcio Bayma, instrutor da oficina.
Mateus Silva explica que a planilha é simples e ampla e fornecem todos os resultados que precisamos para conhecer bem o desempenho do negócio. “As informações geradas possibilitam saber se estou investindo certo e se o negócio é lucrativo. Além disso, orienta onde cortar gastos e onde aumentar os investimentos para melhorar o retorno financeiro no empreendimento”.
De acordo com o analista Fernando Malavazi, outro mediador da capacitação, existem diversas ferramentas que ajudam a tornar a gestão do negócio mais eficiente e algumas planilhas eletrônicas podem ser adotadas tanto na agroindústria como por coletores autônomos, permitindo realizar o controle sistemático de todos os gastos e ganhos da atividade. “Por meio de exercícios práticos mostramos que são de fácil operacionalização e fornecem resultados automáticos para cada item de despesa”
Projeto Fortalece
Iniciado em julho de 2017, o projeto Fortalece desenvolve ações para a melhoria da qualidade da produção e aspectos gerenciais de agroindústrias familiares do Acre, com foco no fortalecimento das cadeias produtivas do café e açaí. Entre as estratégias para alcançar esses resultados está a capacitação de diferentes atores dessas cadeias e a formação de multiplicadores de conhecimentos e tecnologias para melhoria da qualidade da produção. Além disso, o projeto orienta sobre procedimentos para modernização da estrutura física de agroindústrias locais para obtenção do Selo de Inspeção Federal (SIF) junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), requisito para a abertura de novos mercados para a polpa de açaí processada.
Projeto Integrado da Amazônia
Composto por 19 projetos, aprovados no âmbito do Fundo Amazônia, iniciativa gerida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente, o Projeto Integrado da Amazônia atua nos diferentes estados amazônicos, por meio das Unidades da Embrapa. Os distintos projetos envolvem recursos da ordem de R$ 33,3 milhões, operacionalizados por meio da Fundação Eliseu Alves (FEA), e contemplam ações de pesquisa e desenvolvimento, transferência de tecnologias e intercâmbio de conhecimentos com foco na redução do desmatamento, recuperação de áreas degradadas e uso sustentável dos recursos naturais do bioma Amazônia.
Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre
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