Inoculante alternativo para feijão-carioca é testado em cultivo quilombola de MG
Inoculante alternativo para feijão-carioca é testado em cultivo quilombola de MG
A técnica de inoculação alternativa do feijoeiro foi tema de dia de campo realizado pela Embrapa Agrobiologia no último dia 25, na comunidade quilombola Cachoeira, situada no município de Dom Joaquim, em Minas Gerais. A prática já foi demonstrada a agricultores em outras ocasiões, a exemplo da oficina realizada em Cachoeiras de Macacu em novembro passado e de alguns Dias de Campo na Fazendinha Agroecológica Km 47, em Seropédica, RJ. O diferencial, agora, é que o cultivo do feijão foi feito em sucessão com a leguminosa Crotalaria juncea como adubo verde.
A atividade foi realizada na sede da Associação Comunitária Rural Cachoeira, Xambá e Ribeirão (Ascaxar) e contou com a participação de 15 agricultores do quilombo. A escolha do local se deu a partir da indicação do mestrando Filipe Ribeiro Sá Martins, que desenvolveu sua dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Agricultura Orgânica (PPGAO/UFRRJ) na região, avaliando o desempenho do feijoeiro comum quando submetido a diferentes práticas de manejo agroecológico do solo, tocando em pontos como os benefícios da adubação verde e da inoculação alternativa.
Dividido em duas etapas, o Dia de Campo abordou a importância dos adubos verdes para o solo e também a possibilidade de preparo de inoculantes alternativos em substituição aos comerciais. O pesquisador da Embrapa Agrobiologia José Antônio Espíndola falou sobre as funções dos adubos verdes no solo, explicando também sobre o uso estratégico das bactérias fixadoras de nitrogênio e o uso de inoculantes na produção agrícola. “O inoculante é indispensável para aumentar a atividade microbiana no solo e, uma vez que há atividade microbiana, há maior produção de nitrogênio, elemento essencial para o crescimento das plantas”, afirma.
Segundo a engenheira agrônoma Lúcia Helena Almeida, colaboradora do grupo de Agricultura Orgânica da Embrapa Agrobiologia, os próprios agricultores perceberam as vantagens da adubação verde. “Em roda de conversa, eles relataram o uso da Crotalaria juncea no local, em plantios anteriores ao cultivo do feijão. Eles observaram que a terra ficou mais fofa e a atividade microbiana aumentou após o manejo desse adubo verde”, destaca.
A segunda parte do Dia de Campo, voltada à inoculação para aumentar a produtividade na cultura do feijoeiro, foi conduzida pelo técnico João Luiz Bastos, também da Embrapa Agrobiologia. A intenção, segundo ele, foi mostrar aos quilombolas como é feito o preparo do inoculante alternativo em substituição aos comerciais, geralmente caros e de difícil logística. “Os produtos do mercado estão fora da realidade do cultivo de subsistência que é feito no quilombo Cachoeira”, aponta.
O inoculante alternativo foi produzido a partir de nódulos coletados em feijoeiros plantados na própria área do quilombo. Após sua produção, foram plantadas duas áreas no local, uma com feijão inoculado e outra sem inoculação, de forma que os agricultores possam acompanhar os resultados do uso do produto em um futuro próximo. “A proposta foi mostrar como é simples a técnica de produção do inoculante através do preparado de raízes finas de nódulos, contribuindo para a produção agroecológica e o aumento na produção de feijão”, argumenta Lucia Helena.
Sobre o inoculante alternativo
O início das pesquisas com inoculantes alternativos para a cultura do feijoeiro teve início em 2013, quando a pesquisadora Norma Rumjanek começou a testar o uso de extrato de nódulos de raízes para incrementar a produtividade do feijão-caupi. “Aos poucos chegamos em um preparado de raízes finas noduladas, que pode ser feito por qualquer um. Basta fazer um pré-cultivo da cultura, tirar os nódulos – ou as raízes noduladas -, bater no liquidificador, passar em uma peneira e colocar as sementes ali”, explica a pesquisadora. Com isso, abre-se diversas possibilidades sobretudo ao agricultor familiar, que geralmente não tem acesso a inoculantes comerciais – seja por falta de interesse das indústrias em distribuí-lo, seja por falta de conhecimento.
Outra importante vantagem, como explica a pesquisadora, é o fato de o produto utilizar bactérias localmente adaptadas às condições edafoclimáticas da propriedade. “Elas já conhecem frio, quente ou a característica específica de onde foram retiradas, o que é diferente do inoculante comercial, que usa uma bactéria só para o Brasil todo”, relata. “Além disso, a partir do momento em que os agricultores começarem a efetivamente se apropriar da tecnologia, poderão usar para outras culturas também, aumentando os benefícios da FBN para a agricultura familiar”, completa.
Liliane Bello (MTb 01766/GO)
Embrapa Agrobiologia
Colaboração: Matheus Meireles (estagiário de Jornalismo)
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