06/08/19 |   Nanotecnologia

Laboratório recicla plásticos usados e cria seus próprios utensílios de pesquisa

Informe múltiplos e-mails separados por vírgula.

Foto: Claudio Bezerra

Claudio Bezerra - Plásticos descartados pelo laboratório são transformados em produtos úteis como este suporte para seringa

Plásticos descartados pelo laboratório são transformados em produtos úteis como este suporte para seringa

A cada mês, cerca de um quilo de plástico descartado que iria para o lixo do Laboratório de Nanobiotecnologia (LNANO) da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) volta na forma de novas peças a serem usadas pelos cientistas. Com a reciclagem, eles estão reduzindo o descarte de plásticos como ponteiras, microtubos e tubos empregados na pesquisa. O material é tratado e transformado em filamentos que servem de matéria-prima para confeccionar em impressoras 3D peças como protótipos de pequenas máquinas e suportes usados em pesquisas da Unidade. O processo ainda permite a manufatura de peças únicas projetadas para fins específicos de pesquisa.

O destino desse material de laboratório usado seria a incineração, portanto, a reciclagem poupa energia e evita resíduos que seriam gerados nessa queima, preservando o meio ambiente, e economizando recursos de compras de novos equipamentos. As máquinas de reciclagem de plásticos foram adquiridas por meio de financiamento coletivo, conhecido como crowdfunding.

 

Luciano Paulino fala sobre transformação de resíduos de laboratório em utensílios para pesquisa

 

Um projeto para a reciclagem

A iniciativa surgiu de um evento interno realizado pela coordenação do laboratório em parceria com os colaboradores (graduandos, mestrandos e doutorandos) do LNANO que incentiva os estudantes da área de nanotecnologia a propor projetos com base na sustentabilidade e na inovação.

Foi assim que o coordenador do laboratório, o pesquisador Luciano Paulino, as colaboradoras Beatriz Santos Carvalho e Tatiane Melo Pereira e outros estudantes partiram para elaboração de um projeto de reciclagem de materiais que pode servir de modelo para outras instituições.

As bolsistas Beatriz e Tatiane inscreveram a proposta chamada de RecicLAB3D na Experiment.com, plataforma voltada para apoiar projetos científicos inovadores com captação de recursos a partir de financiamento coletivo. O projeto foi aprovado e a equipe conseguiu 50 backers (apoiadores) de diversos países, obtendo um financiamento por meio de crowdfunding de US$1.808,00 para aquisição dos equipamentos e pagamento de taxas.

Pouco mais de 1% dos plásticos são reciclados

O índice de lixo plástico reciclado no Brasil ainda é tímido. Atualmente, de um total de 10,3 milhões de toneladas coletadas, apenas 145 mil toneladas são recicladas, equivalente a 1,28%, conforme dados do Banco Mundial.

O recurso foi suficiente para que a equipe liderada por Paulino desse início à chamada prova de conceito, quando os pesquisadores avaliam se a proposta teórica está correta. Ou seja, se a reciclagem dos plásticos para produção de utensílios de laboratório poderia ser feita por impressão 3D.

Com os recursos captados, a equipe fez a aquisição de uma trituradora de plásticos, uma extrusora de filamentos e uma impressora 3D. Segundo Paulino, com os recursos foi possível avançar nos processos de limpeza e descontaminação dos resíduos sólidos no próprio LNANO e realizar testes iniciais de reciclagem desses materiais na produção de filamentos por extrusão termoplástica (processo que combina calor com ação mecânica para produzir filamentos plásticos) e posterior uso em processos de impressão em 3D, baseada em modelagem por fusão e deposição (FDM).

Expansão para outros laboratórios

Peças nas rotinas do laboratório, ou labware como são chamados utensílios, suportes, racks e outros materiais, já começaram a ser produzidas a partir do volume de pelo menos 270 gramas de resíduos plásticos semanalmente gerados no LNANO.

Se tivessem de ser comprados, cada rolo de filamento de polipropileno para uso na impressora 3D custaria entre R$ 160,00 e R$ 200,00, sendo que o valor agregado principal nem estaria nesse insumo em si, mas nos objetos e utensílios que poderiam ser impressos conforme as necessidades do laboratório e mesmo personalizados para aplicações específicas.

“Considerando o número de laboratórios que temos em nosso Centro de Pesquisa, isso certamente representaria algumas dezenas de quilos de polipropileno e, consequentemente, de rolos de filamentos que poderiam ser produzidos e empregados em processos de impressão 3D”, comenta Luciano Paulino.

Laboratórios que fazem utensílios sob medida

O reaproveitamento dos resíduos plásticos é uma grande vantagem em vários processos dentro e fora do laboratório. A transformação por extrusão é o método mais utilizado para produção de filmes plásticos, pellets e filamentos que são insumos básicos para embalagens flexíveis com diversas aplicações.

No campo ou em casa, a reciclagem pode ocorrer com material plástico de diferentes cadeias produtivas. Inclusive esse mesmo processo pode ser usado tomando como base material biodegradável (bioplásticos) para fabricação de tubetes para plantas (usados no cultivo de mudas). Os tubetes podem ser impressos para cada tipo de espécie que se quer produzir.

“No futuro, a ideia é que os diversos laboratórios disponham de impressoras 3D como as que utilizamos no LNANO para produzir utensílios de acordo com a demanda específica de cada equipe”, comenta o pesquisador.

 

Maria Devanir Heberlê (MTb 5.297/RS)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Contatos para a imprensa

Telefone: (61) 3448-3266

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

Galeria de imagens

Encontre mais notícias sobre:

nanotecnologiareciclagemplasticoimpressao-3d