20/08/19 |   Transferência de Tecnologia

Extrativistas participam de capacitação sobre boas práticas no manejo de açaí

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Foto: Diva Gonçalves

Diva Gonçalves - Seleção de frutos de açaí durante atividade de coleta, no interior da floresta

Seleção de frutos de açaí durante atividade de coleta, no interior da floresta

Os cuidados na produção do açaí começam no momento da coleta dos frutos, na floresta, e seguem até a comercialização da polpa ou produto final. Com o objetivo de melhorar procedimentos de manejo na atividade, 26 produtores e extrativistas da Reserva Extrativista Chico Mendes participaram de curso sobre boas práticas na colheita e pós-colheita de açaí, no mês de julho. Realizada nos seringais Porongaba e Porvir, a capacitação abordou princípios e orientações recomendadas pela pesquisa nas diferentes etapas da produção.

Ponto ideal de maturação dos frutos, higiene na manipulação, tempo de armazenamento e transporte até a agroindústria, entre outros aspectos do manejo do açaí, incluindo os cuidados com a segurança dos escaladores, profissionais que sobem nos açaizeiros para retirar os cachos, fizeram parte dos conteúdos da capacitação. “As Boas Práticas são procedimentos simples que diminuem o risco de contaminação por fungos, bactérias e outros microrganismos que podem comprometer a qualidade do produto final e o desenvolvimento da cadeia produtiva. A adoção desses cuidados ajuda a garantir qualidade à produção e saúde para o consumidor. Além disso, agrega valor ao produto final, contribuindo para a obtenção de preços mais justos no mercado”, afirma a pesquisadora da Embrapa Acre, Cleísa Cartaxo, uma das instrutoras na atividade.

A capacitação faz parte das ações de fomento à cadeia produtiva do açaí solteiro, desenvolvidas na Reserva Chico Mendes, pelo projeto Bem Diverso, executado pela Embrapa, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). No Acre, as atividades são realizadas no Território da Cidadania Alto Acre e Capixaba, com apoio da Universidade Federal do Acre (Ufac) e, além da produção de açaí, contemplam iniciativas para melhoria da produção de castanha-do-brasil e ampliação do uso de sistemas agroflorestais, envolvendo a castanheira e seringueira, entre outras espécies amazônicas, como alternativa para diversificar a renda familiar e conservar o meio ambiente.

Atividade complementar

O açaí é um alimento com alto valor nutricional e a produção e comercialização da polpa é uma atividade em ampla expansão. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no Brasil, 181 empresas registradas produzem açaí, 90% delas se encontram na Região Norte. No Acre, a produção saltou de 1.600 toneladas, em 2012, para 4.665 toneladas, em 2017, registrando um aumento de 291%, conforme informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na Reserva Chico Mendes, a principal atividade extrativista é a coleta de castanha-do-brasil, mas a produção do açaí tem despontado como atividade complementar para melhorar a renda das famílias, já que o açaizeiro produz durante o verão amazônico - quando chove menos na região – período de entressafra da castanha. Devido a essa sazonalidade na produção de castanha, a coleta de açaí possibilita aos extrativistas contar com renda o ano todo.

Para a professora e pesquisadora da Ufac, Andréa Alechandre, a demanda do mercado, aliada à abundância de açaizeiros nas colocações, confirmam o potencial da Reserva em mais uma cadeia produtiva baseada no extrativismo. “O diferencial desse açaí é ser produzido de maneira sustentável, seguindo procedimentos de boas práticas. Entretanto, a consolidação dessa cadeia implica vencer diferentes desafios, incluindo as barreiras de infraestrutura e logística”, ressalta.

Outro aspecto que pode ajudar a estruturar a cadeia produtiva do açaí no Acre é a realização de inventário para estimar a produção. As ações do projeto Bem Diverso na Resex Chico Mendes também incluem o mapeamento de colocações para identificar as áreas com maior potencial produtivo. Nos Seringais Porongaba e Porvir, o trabalho possibilitou o georreferenciamento da produção, por meio de GPS, com indicação de plantas produtivas dispersas na mata e de locais com grande presença de açaizeiros.

“Em áreas de maior concentração é possível encontrar 120 pés de açaí por hectare. Em áreas de pouca ocorrência, esse número pode cair para 40 pés. Uma alternativa para aumentar a produção é o plantio da palmeira, em consórcio com outras espécies, nas áreas de pastagem ou capoeira, próximas às residências”, destaca Daniel Papa, analista da Embrapa Acre que orientou o mapeamento das colocações.

Organização social

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Acre, Cleísa Cartaxo, instrutora da capacitação, o tempo de transporte da produção é um dos principais desafios a ser superado pelos extrativistas, já que o prazo máximo entre a coleta dos frutos na floresta e entrega na agroindústria deve ser de até 48 horas. “O açaí é um alimento altamente perecível, suscetível a contaminações microbiológicas e alterações fisiológicas, o que causa rapidamente a fermentação ou ressecamento dos frutos, comprometendo a sua qualidade”, explica.

Nos dois seringais, é consenso entre os extrativistas que outro grande desafio para fortalecimento da cadeia produtiva do açaí na Reserva Chico Mendes está relacionado à organização comunitária. As grandes distâncias entre as colocações, onde as famílias residem, dificultam a comunicação e o compartilhamento de informações entre os moradores. Além disso, as distâncias entre as comunidades e as áreas de produção exigem grande esforço físico no trabalho de coleta, aspecto que influencia o interesse dos extrativistas pela atividade.

“O mercado e os empresários querem grande quantidade de açaí, mas os produtores moram muito distantes dos açaizais, por isso ainda produzimos pouco. Agora, com a capacitação, poderemos oferecer um produto com mais qualidade e isso pode contribuir para trazer outras famílias para a atividade e para aumentar a produção”, diz Francisco Soares de Melo, morador do Porongaba, seringal formado por 42 colocações.

Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre

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Colaboração: Bleno Caleb - Projeto Bem Diverso
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Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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