11/02/20 |   Comunicação

Farinha de Cruzeiro do Sul é comercializada em embalagem da Central Juruá

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Foto: Giovana Souza

Giovana Souza -

Consumidores de Rio Branco já encontram no mercado local a Farinha de Cruzeiro do Sul em embalagem da Central de Cooperativas do Juruá, entidade que congrega cooperativas de agricultores da região do Juruá. Os primeiros lotes do produto começaram a ser comercializados na capital acreana no mês de janeiro.

 

De acordo com o presidente da Cooperativa Agrícola Mista dos Produtores de Cruzeiro do Sul (Camprucsul), Elson Pereira, vender a farinha embalada ajuda a valorizar e divulgar a produção regional. “Nossa farinha é diferenciada e com uma embalagem que associa o nome de uma entidade representativa dos produtores do Juruá à denominação “Farinha de Cruzeiro do Sul” o consumidor sabe que está comprando um produto da região e com qualidade”, destaca.

 

Produzida nos municípios de Mâncio Lima, Marechal Thaumaturgo, Porto Walter, Rodrigues Alves e Cruzeiro do Sul, a farinha de Cruzeiro do Sul, como ficou conhecida, é a primeira farinha de mandioca com Indicação Geográfica (IG) no mundo. O selo de IG, conquistado há dois anos, na modalidade Indicação de Procedência (IP), é administrada pela Central Juruá, junto com os produtores rurais.

 

A Central Juruá recebe e comercializa a produção de agricultores da região que estão organizados em quatro cooperativas associadas, entre elas a Camprucsul. A farinha recebida era vendida em sacos de ráfia de 50 quilos, sem identificação. A nova embalagem tem capacidade para um quilo, entretanto, ainda não traz o selo de Indicação Geográfica. “Estamos em período de adaptação para viabilizar o uso efetivo dessa certificação, em breve”, diz Pereira.

 

Ampliação do mercado

 

Fortalecer as relações comerciais para ampliar a presença da farinha de Cruzeiro do Sul no mercado acreano e de outros estados é requisito para consolidar a Indicação Geográfica e tem sido um desafio para as cooperativas do Juruá. Com esse objetivo, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com a Embrapa, tem implementado uma extensa agenda de capacitações no Juruá, envolvendo diferentes elos da produção.

 

“Por meio de consultorias, cursos, oficinas e dias de campo buscamos preparar agricultores e gestores de cooperativas para alcançar e permanecer no mercado. Nessas atividades enfatizamos a cadeia de valor da mandioca, o diferencial competitivo da farinha de Cruzeiro do Sul e o potencial de crescimento do negócio, considerando todas as etapas de produção e o envolvimento dos principais atores no processo produtivo”, explica a analista do Sebrae, Murielly Nóbrega.

 

Segundo Pereira, as expectativas para comercialização da farinha de Cruzeiro do Sul embalada pela Central Juruá são positivas pela aceitação e reconhecimento do consumidor como um produto diferenciado. “Com a impressão do selo de Indicação Geográfica esperamos expandir as vendas no Brasil e para outros países. Já recebemos demanda de empresas do Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Esperamos comercializar 30 mil quilos do produto por mês”, conclui.

 

Qualidade atestada

 

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Acre, Joana Souza, a farinha de Cruzeiro do Sul possui granulometria, sabor, cor e crocância peculiares, características que resultam do modo particular de produção. “Esse conhecimento tradicional, passado de pai para filho por diversas gerações de famílias rurais da região, assegura ao produto um padrão diferenciado, em relação às demais farinhas de mandioca do país, que pode ser avaliado e atestado por procedimentos laboratoriais”, afirma.

 

Por meio do projeto “Consolidação da Indicação Geográfica Cruzeiro do Sul como estratégia para o desenvolvimento rural da Regional Juruá, no Acre – IG Flour III”, desenvolvido em parceria com o Sebrae e Central Juruá, a Embrapa Acre atua na implantação de metodologias de controle de qualidade e rastreamento da farinha de Cruzeiro do Sul, entre outras ações. No Laboratório de Tecnologias de Alimentos da Empresa são avaliados os níveis de acidez, teores de cinza e fibra bruta, umidade e outros aspectos que determinam a qualidade do produto. As análises são realizadas com base em amostras de farinhas oriundas do Juruá, coletadas mensalmente em estabelecimentos comerciais de Rio Branco.

 

A pesquisadora Virgínia Álvares explica que essa farinha apresenta grande variabilidade nas características físico-químicas, mas o objetivo do trabalho não é padronizar esses aspectos e sim contribuir com recomendações para o cumprimento de exigências da legislação e de critérios de produção previstos no regulamento de uso da IG como forma de assegurar a qualidade da produção e segurança alimentar do consumidor, proteger o conhecimento tradicional e garantir a autenticidade da origem do produto.

 

Quando iniciamos as análises, em março de 2019, apenas 13% das amostras analisadas se enquadravam na classificação Tipo 1, considerada pela legislação vigente como elevado padrão de qualidade. Na última avaliação, 70% das amostras obtiveram essa classificação. Isso significa que os produtores de farinha do Juruá estão adotando os procedimentos de Boas Práticas de Fabricação recomendados pela pesquisa e seguindo o modo tradicional de produção desse alimento, o que demonstra uma preocupação com a saúde do consumidor e contribui para a manutenção da Indicação Geográfica.

 

O projeto IG Flour III tem como objetivo fortalecer a Indicação Geográfica da farinha de Cruzeiro do Sul, auxiliando no desenvolvimento territorial local. Além de ações de controle de qualidade, investe em estudos de prospecção tecnológica e diagnóstico socioeconômico e mercadológico para identificação de potenciais oportunidades de negócio e realiza atividades de transferência de tecnologias para melhoria da qualidade do produto e de comunicação para divulgação da IG.

 

Outras iniciativas de apoio à IG

 

A Embrapa Acre realiza pesquisas com a farinha de Cruzeiro do Sul há aproximadamente vinte anos, com publicações referentes à qualidade e características do alimento. Os resultados desses estudos contribuíram para comprovar o potencial do produto para a Indicação Geográfica e para embasar a produção do dossiê, pelos produtores rurais e Central Juruá, para requerimento do registro junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi).

 

Além de projetos internos, a Empresa executa outras ações de apoio aos produtores rurais para consolidação da Indicação Geográfica e desenvolvimento da produção de farinha no Juruá. Uma dessas iniciativas, o projeto “Tecnologias para agregação de valor e produção sustentável de mandioca por produtores familiares na Amazônia - Mandiotec em rede”, componente do Projeto Integrado Amazônia, financiado pelo Fundo Amazônia e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente, tem o desafio de fortalecer a cadeia produtiva da mandioca na região, com foco na melhoria da renda e qualidade de vida das famílias rurais. Entre as ações desenvolvidas com produtores do Juruá destaca-se o enriquecimento da farinha de mandioca com buriti, fruta abundante na região e de elevado potencial nutricional.

 

“A Indicação Geográfica é o reconhecimento oficial da potencialidade técnica do produto, atesta a sua distinção, seu modo particular de produção e funciona como estratégia de valorização de produtos tipicamente regionais. O selo que será ilustrado nas embalagens da farinha de Cruzeiro do Sul é uma forma de resguardar essa herança, com benefícios para os consumidores e para os agricultores”, diz Joana Souza.

 

Priscila Viudes (Mtb 030/MS)
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Diva Gonçalves (Mtb 0148/AC)
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Colaboração: Maria Fernanda Arival
Embrapa Acre

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