Rota dos Butiazais é tratada em reunião na 38ª Expointer
Rota dos Butiazais é tratada em reunião na 38ª Expointer
Foto: Paulo Lanzetta
Reuniões como esta representam um primeiro passo importante e ajudam a sensibilizar as entidades parceiras para a temática
Pesquisadores da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) ligados a um trabalho de conservação e uso dos butiás no Estado participaram, nesta terça-feira (1), de reunião com representantes de entidades parceiras sobre a futura Rota dos Butiazais - iniciativa que busca consolidar uma rota turística de valorização da biodiversidade associada aos butiazais e butiás no Rio Grande do Sul e em países vizinhos, como Uruguai e Argentina. A atividade reuniu 15 pessoas e foi realizada pela manhã, na Casa da Tecnologia da Embrapa, durante a 38ª edição da Expointer, em Esteio/RS. Na ocasião, ainda foi apresentado o documentário "Amamos Butiá", pensado para ser associado à Rota, que demonstra a biodiversidade da fauna nativa associada aos butiazais.
De inicio, a pesquisadora da Embrapa Clima Temperado Rosa Lía Barbieri, responsável pelo projeto de conservação e uso sustentável, fez uma breve explicação da Rota dos Butiazais – proposta que ainda está em fase inicial. A ideia foi apresentada recentemente, em março deste ano, na 9ª Festa do Butiá, no município de Giruá/RS. A primeira reunião para discutir o assunto foi realizada no município de Tapes/RS, há cerca de duas semanas. Com a Rota, as entidades buscam criar atrativos para o turismo e para o desenvolvimento regional por meio da agregação de valor, além de envolver a valorização da biodiversidade e a educação ambiental. "É um trabalho muito inicial. Por isso chamamos o pessoal para discutir aqui hoje", explica Rosa Lía.
Segundo a pesquisadora, a ideia é que integrem a Rota dos Butiazais os municípios gaúchos de Tapes e Barra do Ribeiro – onde ainda existem grandes butiazais –, Pelotas – onde está situada a Unidade da Embrapa responsável pelo trabalho e uma agroindústria que produz suco de butiá –, Santa Vitória do Palmar – que, embora hoje em dia abrigue pequenos remanescentes de butiazais, leva os palmares no nome –, e Giruá – município que sedia anualmente a Festa do Butiá e abriga cerca de 80 famílias que produzem artesanato a partir da planta. Além destes, os municípios da Fronteira Oeste como Quaraí, Alegrete e Manoel Viana mantêm remanescentes do butiá-anão – uma das oito espécies existentes no Estado – e devem integrar o trabalho. No âmbito internacional, estão incluídos Entre Rios, na Argentina – onde está situado o Parque Nacional El Palmar – e alguns departamentos do Uruguai.
Para o chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Clenio Pillon, o butiá está enraizado na cultura gaúcha da região Sul. "Esse é um dos recursos onde a cultura se confunde com a história", disse. Para ele, as atividades já realizadas representam um primeiro passo importante, que é o de sensibilizar as entidades parceiras. Num segundo momento, a ideia é se pensar como estruturar a Rota e, mais para frente, consolidá-la. "Nós estamos colocando uma sementinha, ou um butiá lá na terra, para que essa iniciativa cresça e se desenvolva", brincou. A intenção é popularizar e integrar cultura, gastronomia e artesanato com a conservação da biodiversidade.
Durante os debates, o representante da Emater/RS-AScar, Luís Bohn, levantou a problemática da legislação – que muitas vezes atrapalha o trabalho – fazendo referência, especificamente, a um artigo do Código Florestal do Estado, que impede o uso de espécies nativas com finalidades comerciais. "O uso é legalmente condenável, mas moralmente certo. Então essa é uma questão que o grupo deveria se envolver", afirmou.
A família do proprietário da Fazenda Santana, Sérgio Ferreira, está na região de Tapes/RS há mais de cem anos. Em seu relato, o produtor ressaltou que é de extrema importância realizar o manejo das áreas com butiazal, para permitir seu uso sustentável associado à pecuária. Esse manejo permitiria também o uso da matéria-prima para artesanato e viabilizaria o investimento turístico na Rota. Além disso, o proprietário acredita que os conflitos de opiniões na lida com os butiazais devem ser trabalhados antes de consolidação da Rota.
Nesse mesmo sentido, a representante da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Giruá, Marizete Fernandes, afirmou que o uso dos butiás pode ser sustentável. "A gente nunca viu nenhuma planta morrer em função do artesanato. Quando o artesão tem um pé, ele cuida bem, ele quer tirar a fruta, ele quer que ela dê mais", explica. Essa conservação é importante para o município que, indiretamente, leva o butiá no nome e, por isso, tem a árvore como símbolo. Conforme explicou Marizete, os indígenas que habitavam a região chamavam as palmeiras de gerivá – nome difícil para os imigrantes europeus, que acabavam pronunciando Giruá. Pela afinidade com o butiá, o município, inclusive, mantém uma lei que proíbe o corte e o arranque dessas plantas, tendo como pena para o infrator o plantio de quinze novas mudas.
Finalmente, para o representante do Sebrae, Juliano Bolzoni, o trabalho é importante, mas leva tempo e deve levar em consideração um equilíbrio entre sustentabilidade e viabilidade econômica. Para a entidade, é importante se pensar na perspectiva do produtor e do artesão. Por isso, Juliano sugeriu um diagnóstico em cada município envolvido, para identificação e caracterização dos artesãos, restaurantes, hotéis e pousadas, além das propriedades rurais com butiazais . "A gente entende que isso pode agregar valor. Cabe a nós, como entidade, darmos esse suporte. Somos parceiros", finalizou.
Também participaram da reunião representantes da Fundação Zoobotânica do RS, os proprietários das Fazendas São Miguel e Santana, de Tapes/RS – onde se encontram remanescentes dos Palmares –, e os pesquisadores Gustavo Heiden e Enio Sozinski – também ligados ao trabalho de conservação e uso do butiá na Embrapa Clima Temperado.
Francisco Lima (13696 DRT/RS)
Embrapa Clima Temperado
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