Em Goiânia existe um tipo de banco muito especial que está completando 45 anos; ele não guarda ouro nem dinheiro, mas sim o arroz e feijão, componentes básicos da refeição do brasileiro. É o Banco Ativo de Germoplasma (BAG) da Embrapa Arroz e Feijão (GO) um patrimônio genético que foi criado em 1976 e guarda uma das maiores diversidades de sementes de arroz e feijão da América Latina e do mundo, que cada vez mais vem se firmando como verdadeiro reservatório de futuro.

Ele reúne mais de 18 mil acessos de arroz e 17 mil de feijão. Os acessos são oriundos de coletas realizadas pelos pesquisadores em expedições nacionais e doações internacionais, feitas através de acordos de colaboração ao redor do mundo, o que representa amostras de mais de 110 países.

Deste total, o BAG conta com um acervo de 2.338 variedades de arroz coletadas nos últimos 25 anos em povoados rurais isolados e, 5.194 variedades tradicionais de feijão coletadas em 396 municípios de 24 estados do Brasil.  

 Sabemos que não faltam simbolismos e significados quando falamos de sementes e imaginar um planeta sem elas é como estar num planeta sem vidas. O meio ambiente em que vivemos está cada vez mais se modificando e isso acontece de forma, às vezes, muito rápida. Essas mudanças e alterações, principalmente biológicas, trazem consigo diversos fatores que afetam todo o sistema terrestre, incluindo os seres vivos e a biodiversidade do planeta.

Um exemplo disto é o aquecimento global, que traz como consequência, efeitos climáticos que modificam diversos aspectos e características na vegetação do planeta, além de trazer o surgimento de novas pragas e doenças que afetam as culturas, as estações se alteram e os períodos de estiagens ou de intensas chuvas se modificam.

Ter então uma base com material genético guardado em bancos de germoplasma para estudos e preservação da segurança alimentar, no momento atual, e para as gerações futuras é importante por resguardar variedades mais tolerantes a seca e frio, garantir a preservação de espécies resistentes a doenças sazonais ou as que surgem no país, vindas de outras partes do mundo. 

Por definição são considerados recursos genéticos aqueles componentes da biodiversidade associados ao ser humano como fontes de alimento, fibras, energia e outras matérias-primas;  hoje, entre todas estas amostras do BAG Embrapa Arroz e Feijão estão uma centena delas que são espécies silvestres, coletadas no Brasil e em outros países, como o caso do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos que enviou 17 mil variedades de arroz a Goiânia em 2010; somente espécies de Goiás, são mais de 650 amostras coletadas pela equipe técnica da Embrapa.

Para a Embrapa Arroz e Feijão resguardar todo este patrimônio genético é preciso contar com o apoio de inúmeros parceiros, que também coletam amostras de arroz e feijão em todos os estados brasileiros; tudo isto gera um custo de 150 mil reais por ano e envolve trabalhos de expedições e análises laboratoriais, ações de multiplicação e conservação de sementes, além da manutenção da infraestrutura do Banco de Germoplasma.

Só no caso do BAG Feijão, por exemplo, a equipe técnica da Embrapa multiplica, por ano, em torno de 500 amostras; para dar maior controle, todas as operações de plantio, colheita e debulha de sementes, são efetuados manualmente. Geralmente, se planta 14 vasos para cada amostra, que é o suficiente para produzir em torno de 150 a 400 g de sementes, dependendo do acesso.

A Unidade possui um programa de grãos especiais (grãos pretos, grãos para culinária japonesa e italiana, entre outros), assim como um programa de grãos tradicionais de longa adaptação doadas por produtores rurais. Além disso, existem espécies silvestres de arroz do Brasil, que representam as regiões da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal e que possuem um trâmite de uso e documentação diferenciados pelo fato de serem nativas e estarem em áreas de plantações não-comerciais.

Embrapa - O Banco Ativo de Germoplasma da Embrapa está entre os quarto melhores e maiores do planeta, depois dos Estados Unidos (500 mil amostras), da China (390 mil) e da Alemanha (160 mil); esta posição é fruto de trabalhos realizados pela equipe de pesquisadores da Instituição e junto ao programa de intercâmbio de recursos genéticos entre o Laboratório da Embrapa nos Estados Unidos (Labex-EUA) e o Serviço de Pesquisa Agrícola (ARS) norte-americano que guarda uma variabilidade  de espécies da culturas de importância para preservar o melhoramento genético de distintas espécies das regiões do país e do exterior.

 Atualmente a Embrapa possui cerca de 140 BAGs distribuídos em 29 Unidades Descentralizadas por todo o território brasileiro, sendo o BAG Embrapa Arroz e Feijão um dos 10 mais importantes e antigos da Empresa.

A importância deste patrimônio vegetal para a sociedade é tão grande que chega a existir muitos bancos de sementes em todo o mundo. O maior deles e mais moderno está na Noruega; trata- se de um gigantesco armazém fortificado situado no interior de uma montanha de gelos eternos, no arquipélago das Ilhas Svalbard (Noruega), uma construção de 1.000 metros quadrados, conhecido como cofre do mundo. Gravado a 130 metros de profundidade, no Polo Norte, no Silo Global de Sementes de Svalbard (SGSV).

No total, o Brasil já enviou mais de 10 mil variedades de sementes ao banco nórdico; só em 2014 a Embrapa depositou 514 acessos de feijão que se juntou a outras mais de 20 mil culturas provenientes de outros 100 países; e em 2012, foram enviados 541 acessos de arroz.

O BAG é o tesouro de Goiás que ainda pouca gente sabe que existe, mas que pode garantir o patrimônio genético de variedades de sementes de Goiás e do país e também garantir para que não falte alimento para as gerações futuras.