Pesquisadores da Embrapa estudam sinais químicos para combater inseto que ataca cupuaçu
Pesquisadores da Embrapa estudam sinais químicos para combater inseto que ataca cupuaçu
Pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus-AM) e da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília-DF) estão realizando projeto de pesquisa sobre sinais químicos emitidos por insetos com a finalidade de desenvolver alternativas de controle biológico para a broca do fruto do cupuaçuzeiro, uma praga que prejudica os plantios de cupuaçu na Amazônia.
O cupuaçu é um dos frutos amazônicos com boa aceitação no mercado, sendo usado para doces, sucos, sorvetes, licor, cupulate e cosméticos. É um fruto importante na região, cultivado principalmente por agricultores familiares. A broca do fruto do cupuaçuzeiro é um pequeno inseto (Conotrachelus sp.) cujas larvas furam o fruto, estragam a polpa e resultam em prejuízos crescentes até a perda total da produção. "A infestação da broca começa com 20% no primeiro ano, 60% no segundo ano e a partir do terceiro ano pode chegar a 100% do plantio", informa a pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Ana Pamplona, que participa do estudo.
Para combater o problema, os pesquisadores buscam uma estratégia eficiente a partir do comportamento do inseto. Para isso, estão pesquisando os sinais químicos liberados pelo inseto e que servem de comunicação e interação entre eles, entre seu meio e com seus inimigos naturais. Esses sinais, também chamados de semioquímicos, são compostos voláteis liberados pelo inseto e carregados pelo vento. Um exemplo desses sinais são os feromônios, emitidos e captados no meio ambiente por indivíduos da mesma espécie e que influenciam seu comportamento sob diversas formas, para atração sexual ou para alertar e agregar outros semelhantes quando encontram alimento.
Os semioquímicos são encontrados naturalmente nos organismos vivos e vem sendo utilizados na agricultura para detectar e monitorar pragas agrícolas. "Essas técnicas não envolvem inseticidas ou outras substâncias que causem dano ao meio ambiente e às pessoas", explica o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília-DF), Miguel Borges. Já existem estratégias baseadas em feromônios sendo aplicadas para insetos que atacam outras culturas (dendê, maçã, goiaba, uva, cana entre outras).
Para a broca do fruto do cupuaçuzeiro, a proposta se baseia em identificar os compostos e a estrutura química presente nos sinais emitidos pelo inseto e fazer a síntese dessas moléculas para utilizá-la como feromônios sexuais em um substrato que serviria para atrair os insetos da broca, em armadilha no campo. Há ainda a estratégia de avaliar a resistência de plantas ao inseto. "Estamos monitorando um plantio infestado por broca e verificamos que algumas plantas não foram afetadas", informa a pesquisadora Ana Pamplona. A partir dessa diferença, os pesquisadores vão comparar os compostos voláteis de plantas suscetíveis e de plantas aparentemente resistentes à broca, com a intenção de isolar substâncias que interferem no comportamento do inseto.
Por enquanto a broca do fruto do cupuaçuzeiro está concentrada mais na Amazônia Ocidental. "A broca é um problema sério principalmente em Rondônia e no Amazonas e tem desestimulado o produtor, porque perde o fruto", afirma a pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Aparecida Claret, que pesquisa a cultura do cupuaçu e participa do projeto. A pesquisadora informa que existem aproximadamente 35 mil hectares plantados de cupuaçu nos principais estados produtores Rondônia, Amazonas, Acre e Pará. No Amazonas, são cerca de 12 mil hectares.
A pesquisadora Aparecida Claret explica que, atualmente para controle da broca do fruto, a Embrapa recomenda as boas práticas de manejo para quebrar o ciclo do inseto nas áreas de plantio. Essas boas práticas consistem em verificar durante a safra se existem frutos brocados no plantio e retirá-los diariamente, para enterrá-los a mais de 70 cm ou queimá-los fora do plantio. Quando os frutos ficam abandonados no chão, há proliferação da praga, pois as larvas se instalam no solo e se terá mais insetos adultos. Além disso, para evitar a proliferação não se deve levar frutos de uma área com infestação da broca para outra que não a tenha.
"Devido a característica comportamental do inseto, quando o produtor percebe a praga, o dano já foi causado. E depois que está muito infestado fica difícil controlar", informa o pesquisador Miguel Borges, acrescentando que por isso há esse esforço de novas pesquisas em busca de um controle eficiente através do monitoramento da broca para integrar essa nova ferramenta ao manejo integrado de pragas. O mesmo inseto da broca do fruto também causa problemas aos plantios de cacau. Há preocupação entre os pesquisadores do risco da broca se expandir para outros estados do norte e chegar também aos plantios de cacau no nordeste brasileiro.
As ações fazem parte do projeto Rede Nacional de Ecologia Química para estudos da agrobiodiversidade brasileira visando à obtenção de uma agricultura sustentável, liderado pelo pesquisador Miguel Borges. Esse projeto tem entre seus objetivos explorar recursos naturais, como os semioquímicos de insetos para desenvolver métodos mais limpos e inteligentes para controle de pragas em diversas culturas, incluindo cupuaçuzeiro. Conta com recursos do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq), através do edital Repensa, voltado para a sustentabilidade agropecuária.
Síglia Regina dos Santos Souza (MTb 66/AM)
Embrapa Amazônia Ocidental
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