Pesquisa estuda desenvolvimento do lúpulo na região serrana fluminense
Pesquisa estuda desenvolvimento do lúpulo na região serrana fluminense
Incentivados pela crescente produção cervejeira brasileira e pela perspectiva de um mercado diferenciado e promissor, agricultores de Nova Friburgo têm implantado áreas de produção de diversas variedades de lúpulo. Isso motivou a Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ) a desenvolver um projeto para desenvolvimento da cultura na região serrana fluminense.
O principal objetivo do projeto é desenvolver tecnologias e informações adequadas à produção e ao mercado de lúpulo com qualidade diferenciada, especialmente no que se refere às características de aroma. “Isso será feito a partir da integração de iniciativas públicas e privadas que, apoiadas pelo Polo de Inovação do Agronegócio do Rio de Janeiro, visam a estudar e gerar informações e tecnologias sobre aspectos agronômicos da produção do lúpulo, desde a seleção de variedades, controle fitossanitário alternativo, manejo da adubação e calagem até a eficiência da nutrição vegetal com produção de mudas micorrizadas e processos de pós-colheita e processamento que garantam a conservação dos elementos fundamentais que caracterizam o sabor e o aroma da cerveja”, explica o pesquisador Gustavo Xavier.
O principal interesse no lúpulo para a indústria cervejeira está no uso das flores, que, se estiverem frescas ou apenas desidratadas, podem conservar melhor as propriedades originais, especialmente o aroma. Além disso, as resinas dos cones de lúpulo ajudam a melhorar e estabilizar a espuma da cerveja, e os ácidos contribuem para a estabilidade microbiana. Com a produção local, a expectativa é ampliar o acesso rápido às flores e aumentar a disponibilidade de materiais genéticos da cultura, com diferencial de alto valor agregado, identificados como de maior potencial produtivo e qualidade de aroma. Assim, um dos itens a serem analisados é o teor dos constituintes químicos das variedades de lúpulo, especialmente os que conferem aroma à cerveja.
De acordo com Gustavo, também espera-se avaliar os insumos de menor impacto ambiental, seja com adubação orgânica ou inorgânica, e também as estratégias de manejo fitossanitário mais adequadas para o manejo orgânico. São conhecidas algumas espécies de pragas de lúpulo em outros países, mas aqui no Brasil, no caso do manejo orgânico, deverão ser avaliadas estratégias como uso de plantas de cobertura de solo que potencializem o controle biológico conservativo, bem como o uso de produtos biológicos e naturais como caldas alternativas.
Por fim, o estabelecimento de estratégias adequadas de pós-colheita e processamento permitirá garantir a qualidade do produto final e o melhor aproveitamento no mercado. “Por tratar-se de cultura inovadora no País, os conhecimentos gerados possibilitarão um know-how pioneiro, que poderá ser referenciado para outras regiões similares do território brasileiro, colocando a pesquisa fluminense na vanguarda do setor”, cita,
O pesquisador Renato Linhares, que atua diretamente na Região Serrana fluminense por meio do Núcleo de Pesquisa e Treinamento de Agricultores (NPTA), em Nova Friburgo, destaca ainda o potencial da cultura para alavancar também outros setores, como o turismo. “O lúpulo é um item muito promissor na articulação de setores importantes para o desenvolvimento territorial em ambientes de montanha, como agricultura e turismo, a partir da produção de cervejas identificadas com as paisagens montanhosas locais”, argumenta.
O mercado cervejeiro
Com produção anual de 14 bilhões de litros, o Brasil se destaca como o terceiro maior produtor mundial de cerveja, cuja cadeia produtiva movimenta R$ 74 bilhões – ou 1,6% do PIB nacional, segundo dados de 2019 da Cervbrasil. O lúpulo é um dos ingredientes da bebida, juntamente com água, malte e levedura, e se caracteriza por ser uma trepadeira perene, típica de clima temperado. Isso significa que, no Brasil, apenas o sul do Rio Grande do Sul estaria inserido na faixa de latitude ideal para a produção da cultura – e isso acaba implicando na importação de cerca de 4 mil toneladas do produto por ano. Mas experimentos mostram que, mesmo sem latitudes ideais, com o manejo adequado e a partir da seleção de variedades adaptadas, é possível cultivar o lúpulo no Brasil.
Desde 2016, agricultores da Região Serrana fluminense têm investido na produção de lúpulo, incentivados pela perspectiva do mercado das cervejas artesanais da região e pela criação da lei estadual 7.954, de 2018, que reconhece a cidade de Nova Friburgo e entorno como polo cervejeiro artesanal, com 28 marcas de 12 fábricas diferentes. “A partir da demanda dos produtores de lúpulo da região junto à Diretoria da Embrapa, formou-se, em junho de 2019, a Rede de Fomento à Cultura do Lúpulo na Região Serrana Fluminense – a Rede Lúpulo Serra RJ, envolvendo pesquisadores da Embrapa e da Pesagro-Rio, professores da UFRRJ, extensionistas da Emater-Rio, além de produtores e da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo (Acianf), entre outras instituições”, conta Gustavo Xavier.
Como explica a pesquisadora Adriana Aquino, a Rede Lúpulo é um espaço importante para a articulação de conhecimentos e estabelecimento de pontes de integração entre atores produtivos, alavancando ações de desenvolvimento regional alicerçadas em marcas e produtos identificados com os ambientes de montanha. “Enquanto Embrapa, temos um papel importante na Rede, e essa parceria é fundamental para a execução do projeto, bem como a parceria com a Cervejaria Buzzi, com o viveiro Ninkasi, com a Emater e com a Acianf, que lançou um projeto de incentivo ao plantio regional de lúpulo, agregando vários agricultores locais”, pontua.
Atualmente, a região serrana do Rio de Janeiro está hospedando experimentos de avaliação do comportamento de cultivares de lúpulo, tendo inclusive sido beneficiada por uma emenda parlamentar para fomento da pesquisa, que se desenvolve em parceria entre a Embrapa Agrobiologia, a Embrapa Agroindústria de Alimentos e também a Embrapa Solos. “Neste momento estamos conduzindo um experimento em parceria com a Cervejaria Buzzi, em Santa Maria Madelena, e estamos conseguindo dar continuidade a isso mesmo durante a pandemia por causa do envolvimento do bolsista Leonardo Lopes Silva, que mora bem próximo à área e está conseguindo conduzir as ações sem se expor a riscos”, comenta Renato.
Estão sendo testadas no local oito variedades de lúpulo, com o enfoque de obtenção de aroma. “A qualidade da cerveja, principalmente o aroma, torna-se muito superior quando se faz uso das flores frescas, pois assim são conservadas todas as propriedades originais”, finaliza Adriana.
O projeto também conta com a participação da Cervejaria Buzzi e de equipes da Embrapa Agroindústria de Alimentos e da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Liliane Bello (MTb 01766/GO)
Embrapa Agrobiologia
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