Experiências dos principais museus do mundo são debatidas no 1º Seminário Internacional de Gestão de Acervos Científicos
Experiências dos principais museus do mundo são debatidas no 1º Seminário Internacional de Gestão de Acervos Científicos
Qual deve ser a missão de um museu de história natural? Como conseguir financiamento para garantir a sustentabilidade do espaço? Como atrair o público? Essas e outras questões foram debatidas por representantes de grandes museus do Brasil e do mundo nesta quarta-feira, 16/09/2015, durante o 1º Seminário Internacional de Gestão de Acervos Científicos. O evento reúne em Brasília até o dia 18 de setembro palestrantes dos principais museus do mundo, como o Museu de História Natural de Londres e o Museu Americano de História Natural.
A experiência do Royal Botanic Gardens (Kew, Reino Unido), museu dedicado a plantas e fungos, foi a primeira a ser apresentada. A líder sênior de Pesquisa, Avaliação e Análise de Conservação, Dra. Eimear Nic Lughadha, explicou que o museu é Patrimônio Nacional do Reino Unido e, que apesar do nome, não recebe influências diretas da coroa britânica. Composta por 10 diretorias, o ponto forte da instituição é o intercâmbio com outros países, o que rende 14 mil entradas de espécies por ano, sendo a África a maior doadora. A forte política de troca de material faz com que o herbário da instituição seja um dos maiores do mundo, com cerca de sete milhões de espécies cadastradas. "Estamos em constante diálogo com as comunidades de onde vêm os artigos e coleções, pois uma de nossas prioridades é implantar a Convenção da Diversidade Biológica (CDB)", afirmou. Segundo Dra. Lughadha, a meta da instituição é guardar 25% de todas as espécies mundiais de plantas.
A gaúcha Martha Richter, gerente da Coleção de Vertebrados Fósseis do Museu de História Natural de Londres, falou sobre a gestão e sustentabilidade do NHM (sigla em inglês). Localizado em South Kensington (Reino Unido), o museu foi inaugurado em 1881 e é um dos mais visitados em todo o mundo (tabela). A instituição atua dentro de parâmetros definidos pelo padrão "Spectrum" de certificação de museus, o que confere excelência no gerenciamento das coleções. Outro ponto destacado por Martha é a grande preocupação do museu no engajamento do público e atendimento às escolas, tarefa para a qual foi criada uma diretoria específica, a "Diretoria de Engajamento Público". "Um museu deve ser criativo e também pró-ativo. É preciso manter a comunicação clara e eficiente com o público atualizando-se constantemente em temas de tecnologias inovadoras para atender as expectativas dos visitantes de todas as idades", afirmou Martha.
O Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi apresentado pelo diretor do museu e pesquisador do setor de Paleovertebrados, Dr. Sérgio A. K. Azevedo. A palestra teve como foco o grande esforço de revitalização do museu ocorrido entre 2003 e 2011, uma vez que a sede existe desde a época do império (1818), tendo sido inclusive residência da Família Imperial brasileira (1892-1889). "O MNRJ é a mais antiga instituição científica do Brasil e o maior museu de história natural e antropológica da América Latina. Nossa missão é buscar, registrar, preservar, difundir e ensinar o conhecimento científico e a memória nacional", explicou Dr. Sérgio.
Um incêndio no início de 2013 destruiu réplicas, cenários, fiações e pisos do Museu de Ciências Naturais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Já no dia seguinte, o professor Cástor Cartelle Guerra, curador da coleção de Paleontologia, iniciou a restauração do espaço, que reabriu as portas ao público apenas 11 meses após a tragédia. Com este triste relato, Dr. Cartelle iniciou a exposição sobre o museu da PUC/MG, famoso por ter sido fundado com o apoio do príncipe Frederick e da princesa Mary Elizabeth, da Dinamarca.
O professor Cartelle contou que parte da coleção do museu foi doada pelo naturalista dinamarquês Peter W. Lund, que viveu na região de Lagoa Santa (MG) no século 19 e fez extraordinárias escavações em grutas calcárias durante 10 anos, descrevendo minuciosamente a fauna de mamíferos da região e as mudanças ambientais que aconteceram desde o Pleistoceno. "Deus não nos deu à toa o privilégio de termos matas, costas, água e toda essa biodiversidade que infelizmente está sendo perdida no Brasil", disse o Prof. Cartelle, ao enfatizar a importância da criação de novos museus no País.
O paleontólogo Rubèn Cunéo, diretor do museu paleontológico Egidio Feruglio, localizado na cidade patagônica de Trelew, (Argentina) fez uma breve exposição sobre o museu, responsável pela descoberta em 2014 do maior fóssil de dinossauro do mundo (tabela). Segundo Dr. Cunéo, para começar um museu é necessário criar uma estrutura de decisão para elaborar um projeto a curto, médio e longo prazo e ter estratégia, conteúdo, público e lugar definidos.
O público presente ao 1º SIGAC também ouviu a palestra do Dr. Edwin van Huis, Diretor-Geral do Centro de Biodiversidade Naturalis, localizado em Leiden (Holanda) e considerado um dos cinco maiores museus do mundo. O diretor fez um paralelo entre a criação do museu e uma grande expedição de holandeses ao Brasil ocorrida em 1684 e falou da grande missão do museu de levar o conhecimento sobre a biodiversidade mundial a todas as pessoas.
A última palestra sobre acervos científicos foi com o Diretor de Design de Exposições do Museu Americano de História Natural, localizado em Nova Iorque (EUA), Dr. Michael Meister. Famoso por ter sido cenário do filme "Uma noite no museu", o museu tem 1,6 milhões de m² de área e realiza cerca de 100 exibições científicas por ano (tabela). É famoso pelos chamados "Dioramas", um modo de apresentação tridimensional onde são reproduzidas cenas da vida real, como por exemplo os ambientes onde os animais vivem.
Por fim, a advogada Andréa Francomano, Secretária Municipal de Meio Ambiente de São José dos Campos (SP), abordou em palestra os modelos de gestão não-governamentais aplicáveis à criação e gestão de um Museu de História Natural.
Tabela comparativa entre os principais museus cujos cases foram apresentados no 1º SIGAC
| Royal Botanic Gardens | Museu de História Natural de Londres | Centro de Biodiversidade Naturalis | Museu Paleontológico Egidio Feruglio | Museu Americano de História Natural | Museu Nacional da UFRJ | Museu de Ciências Naturais da PUC-MG |
Fundação | 1759 | 1881 | 1820 | 1990 | 1869 | 1818 | 1978 |
Localização | Kew, Reino Unido | South Kensington, Reino Unido | Leiden, Holanda | Província de Trelew, 1.300 km ao sul de Buenos Aires, Argentina | Nova Iorque, EUA | Rio de Janeiro (RJ) | Belo Horizonte (MG) |
Foco | Botânica e Fungos | Invertebrados, Vertebrados, Botânica, Minerais, Gemas, Anatomia humana e Aves | Entomologia, Invertebrados, Vertebrados, Fósseis, Minerais e Pedras, Botânica, Desenhos e Livros | Paleontologia | Paleontologia e Artefatos Culturais. Também possui um Planetário | Antropologia, Botânica, Entomologia, Geologia e Paleontologia, Invertebrados e Vertebrados | Invertebrados, Mastozoologia, Ornitologia, Botânica, Paleontologia e Ictiologia |
Número total de coleções | 8 milhões (a maior é a de plantas, com 7 milhões de amostras) | 81 milhões (a maior é a de espécies vegetais conservadas em meio líquido, com 30 milhões de amostras) | 37 milhões (a maior é a de Entomologia, com 18 milhões de amostras) | 19 mil espécies de fósseis (sendo 2.400 em exibição) | 33 milhões, entre espécies e artefatos culturais | 16,5 milhões (a maior é a de Entomologia, com 15 milhões de amostras) | 128 mil (a maior é a de fósseis do período Pleistoceno, com 70 mil amostras) |
Governança | 10 Diretorias 800 empregados 350 cientistas | Conselho de curadores | Três diretorias e um Conselho de Curadores | É feita pela Fundação Egídio Feruglio, o Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (CONICET) e o Município de Trelew | Estado de Nova Iorque e Conselho de Curadores. Tem 1.100 empregados no total, sendo 200 cientistas | Congregação com Diretor, Diretor Adjunto de Ensino e Administração e Conselho Departamental | 30 professores e funcionários e 50 estagiários |
Número visitantes/ ano | 350 mil | 5,5 milhões | 285 mil | 150 mil | 5 milhões | 300 mil | 60 mil |
Pontos fortes | Patrimônio Mundial da UNESCO (+ de 40 prédios tombados) | Dinossauros, alta interatividade (telas interativas e aplicativos para tablets e smartphones) e presença em redes sociais (Facebook, Twitter e Youtube) | Coleção toda digitalizada num período de 4 anos. Existência de uma "Botany Scanning Street" | Fóssil descoberto em 2014 de um dinossauro com 40 metros de altura e 100 toneladas. O fóssil tem cerca de 90 milhões de anos | Coleção de esqueletos de dinossauro, com mais de 30 milhões de fósseis e artefatos espalhados por 42 salas de exibição. Um Tirex de aproximadamente 15 metros dá as boas-vindas aos visitantes na entrada. Realiza 100 exibições científicas/ano, sendo 45 permanentes. Possui 18 exibições viajando pelo mundo | Possui o maior acervo de primatas neotropicais do continente e mais de 5 mil obras raras. Inaugurou recentemente uma pós-graduação em Geociências | A coleção de paleontologia destaca-se pelas descobertas de mamíferos do Pleistoceno da América do Sul, entre eles uma preguiça gigante. Há também uma coleção de conchas de invertebrados do mundo inteiro |
Desafios | Digitalização do acervo | Digitalização do acervo, engajamento da sociedade, mais parcerias internacionais e melhoria da infraestrutura dos jardins | Incrementar cada vez mais o ideal de "open science", ou seja, o acesso à ciência para todos | Expansão do museu que irá duplicar a sua área total e triplicar a área total de exibição prevista para iniciar em janeiro de 2016 | Realizar uma exposição sobre "Cuba" | Ampliação do museu (criação do Horto Botânico do Museu Nacional) e busca de financiamento | Criação de um Plano de Manutenção, construção de um Planetário e melhora na captação de recursos |
Orçamento anual | £ 572 milhões (R$ 3,4 bilhões) | £ 80 milhões (R$ 480 milhões) | ? | ? | US$ 657 milhões (R$ 2,55 bilhões) | R$14,1 milhões de 2005 a 2007 para o projeto de revitalização. Cerca de R$ 1 milhão por ano | R$ 233 mil |
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Abertura contou com a presença do Diretor de Pesquisa da UnB e do Chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, José Cabral
A abertura do 1º Seminário Internacional de Gestão de Acervos Científicos (1º SIGAC) ocorreu no auditório Assis Roberto De Bem da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília – DF. O evento contou com a presença do Diretor de Pesquisa da Universidade de Brasília (UnB), Cristiano Barros de Melo, representando o reitor Ivan Marques de Toledo Camargo, e do Chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, José Manuel Cabral, representando o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes.
O Prof. da UnB Cristiano Melo afirmou que é preciso caminhar para alcançar o objetivo maior de educar a população. "Temos que avançar muito e um evento como o 1º SICAC é fundamental para isso", disse.
O Presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Cláudio Rodolfo de Maretti, afirmou que não é possível conservar a biodiversidade se a sociedade não se apropriar do tema. "As unidades de conservação são museus vivos, mas nós também precisamos promover o acesso da sociedade às coleções científicas", afirmou.
Já o Chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, José Manuel Cabral, fez um paralelo entre o slogan dessa unidade da Embrapa, "Preservando o passado, antecipando o futuro", com o slogan do seminário, "Preservando hoje para as gerações futuras". Ao final, convidou todos os participantes do 1º SICAC para conhecer o Banco Genético da Embrapa, inaugurado em 2014 e atualmente o maior da América Latina.
O Presidente do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) Carlos Roberto Ferreira Brandão elogiou a realização do seminário e afirmou que a criação do Museu de História Natural de Brasília (MHN) está sendo feita na ordem certa, ou seja, começando pela busca de informações. "Precisamos, necessitamos e apoiaremos a criação do MHN de Brasília", disse.
Também participaram da mesa de abertura a Presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF), Ivone Rezende Diniz, o Diretor-Financeiro da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (FINATEC) Marcos Antônio da Silva Figueiredo, o Professor do Instituto de Geociências da UnB e presidente da Comissão Organizadora do 1º SIGAC, Demerval Aparecido do Carmo, e um dos coordenadores do grupo de trabalho que estuda a criação do Museu de História Natural de Brasília, o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia José Roberto Moreira.
Irene Santana (MTb 11.354/DF)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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