Experimento da Embrapa e parceiros com superadensamento de caju-anão mostrou produtividade três vezes maior do que a média registrada em 2019 no Ceará. Resultado, que animou cientistas e produtores, pode fortalecer a cajucultura na Região Nordeste. Menos dependente de água em relação a outras frutas, como banana e goiaba, caju de mesa é opção para cultivo irrigado no Nordeste. Objetivo dos pesquisadores é quintuplicar a produtividade nos próximos três anos. Um experimento com cultivo superadensado de cajueiro-anão chegou a obter, em dois anos de implantação, o triplo da produtividade média alcançada pela variedade no estado do Ceará em 2019. A expectativa dos pesquisadores é chegar a uma produtividade de pelo menos três toneladas de castanha e 27 toneladas de pedúnculo por hectare/ano no quinto ano de implantação do estudo, quando as plantas estabilizam sua produção. A pesquisa é conduzida pela Embrapa Agroindústria Tropical (CE), Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado do Ceará (Sedet) e Fazenda Frutacor, no Distrito de Irrigação Tabuleiro de Russas – a 160 km de Fortaleza (CE). Foram testados seis diferentes clones, com três diferentes tipos de espaçamento (veja quadro). A condição de maior adensamento do estudo (6x2 metros) comporta 833 plantas por hectare. No espaçamento tradicional adotado para a cultura, de 7x7 metros, são cultivadas 204 plantas por hectare. A melhor combinação de clone com espaçamento resultou em uma produtividade de 1.606 kg de castanha por hectare/ano no segundo ano de implantação. Em 2019, a produtividade média do cajueiro-anão precoce no Ceará – envolvendo todos os tipos de plantio e diversos clones existentes – foi de 528 kg de castanha por hectare. Cajucultura: menor dependência hídrica anima cientistas e produtores O estudo avalia a melhor condição de superadensamento, com fertirrigação, para produzir caju de mesa – uma cultura bem menos exigente em água que os plantios tradicionais implantados na região, como banana e goiaba. “A intenção é oferecer uma alternativa pouco exigente em água, produtiva e lucrativa para o perímetro irrigado”, explica o pesquisador Afrânio Montenegro, responsável pela pesquisa. De acordo com o pesquisador Fábio Miranda, responsável pela irrigação, o consumo de água é um terço do empregado na cultura de banana. Segundo ele, ainda é cedo para estimar a relação de água com produtividade, que deve expressar seus melhores resultados nas próximas safras. Além de chegar ao melhor clone e espaçamento, os pesquisadores querem saber também como ocorre a distribuição da produção ao longo da safra, o rendimento como fruta de mesa e os custos. “Como a intenção é produzir caju de mesa, mais valorizado no mercado, é importante que a produção seja bem distribuída ao longo do ano”, esclarece Montenegro. Ele explica que, como o experimento está na segunda safra, ainda é cedo também para realizar a análise econômica da experiência. O secretário-executivo do Agronegócio da Sedet, Silvio Carlos Ribeiro, avalia que o projeto é um passo importante para incluir a cajucultura nos padrões da moderna fruticultura, com adensamento, irrigação, menor consumo de água e alta produtividade. O secretário lembra que o estado do Ceará mantém há 30 anos praticamente os mesmos pomares de cajueiro, que hoje apresentam baixa produtividade. Para ele, o projeto tem apresentado bons resultados não só de produtividade, como também de racionalização do uso da água. O empresário João Teixeira, da fazenda Frutacor, está otimista com a experiência. A grande vantagem do cultivo, para ele, é a baixa exigência hídrica do cajueiro. “É um fator muito decisivo para enfrentar a crise hídrica do Ceará”, afirma. Por outro lado, salienta os desafios fitossanitários e alta exigência de mão de obra. “Tudo é muito novo, é um projeto adensado de alto desempenho, que exige muita mão de obra, mas que tem dado uma boa perspectiva com dois clones”, diz. Teixeira acredita que o cultivo superadensado seja economicamente viável em um modelo de negócio com aproveitamento integral da produção para caju de mesa, processamento do pedúnculo e castanha. Para ele, a via mais provável de modelo de negócio para pequenos produtores seria o associativismo. Na visão do empresário, médios e grandes produtores necessitarão de estrutura de processamento do pedúnculo próxima ao local de produção para aproveitar o que não for adequado ao comércio como fruta de mesa. Ele avalia o mercado de mesa como difícil, pela alta perecibilidade do pedúnculo, que exige cadeia de frios e uma logística ágil. “O caju é tão exigente em pós-colheita quanto a uva, a maçã e a pera.” Experimento aliou adensamento e fertirrigação Tradicionalmente o cajueiro é plantado com um espaçamento de 7x7 metros. No experimento implantado em 2017 no Distrito de Irrigação Tabuleiro de Russas, estão em teste três diferentes espaçamentos: de 6x4 metros, 6x3 metros e 6x2 metros. Foram testados seis clones: CCP 09, CCP 76, Embrapa 51, BRS 189, BRS 226 e BRS 265. Cada um dos clones foi implantado nos três diferentes tipos de adensamento, resultando em 18 tratamentos diferentes. As plantas foram irrigadas diariamente por gotejamento e receberam fertilizantes, semanalmente, via fertirrigação. Houve também pulverização de micronutrientes a cada 30 dias. Os cajueiros foram podados, de forma a manter uma haste principal, quatro ramos primários, oito ramos secundários e 16 ramos terciários. As variáveis analisadas foram: produtividade de castanha e pedúnculo, distribuição da produção ao longo do ano e classificação dos frutos para os mercados de mesa e indústria. Observou-se que as produtividades de castanha e de pedúnculo foram afetadas significativamente pelos clones e espaçamentos. O caju no Brasil O Brasil produziu, em 2019, 139.383 toneladas de caju. De acordo com o IBGE, mais de 90% dessa produção está localizada em três estados: Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. A produtividade brasileira, considerando a área colhida em 2019, foi de 327 kg de castanha por hectare, o que é considerado muito baixo para o potencial da espécie. O problema da baixa produtividade deve-se à extensa área ocupada com cajueiros do tipo comum, plantados em grandes espaçamentos. A grande maioria são plantas com idade avançada, cultivadas com poucos tratos culturais. Em 2019, mesmo representando 35% da área plantada, o cajueiro-anão respondeu por 56% da produção de castanha de caju do estado do Ceará (IBGE, 2020). De acordo com o Relatório da Coordenação de Estatísticas Agropecuárias (GCEA), do total de 275 mil hectares ocupados com a cultura no estado nesse mesmo ano, cerca de 179 mil hectares eram plantados com o cajueiro do tipo comum e apenas 96 mil ha cultivados com o cajueiro-anão. A produtividade média do cajueiro-anão, em 2019, no estado do Ceará, foi de 528 kg por hectare/ano. E a do cajueiro comum 222 kg por hectare/ano (IBGE, 2020). Embora produzindo mais do que o dobro, a produtividade do cajueiro-anão é considerada baixa para o potencial da cultura. “Essas áreas ocupadas com cajueiro-anão usam pouca tecnologia. Caso o cenário mudasse, haveria possibilidade de aumentar consideravelmente a produtividade da cajucultura do País”, alerta Montenegro. Foto: Afrânio Montenegro
Foto: Afrânio Montenegro
O estudo avaliou a melhor condição de superadensamento, com fertirrigação, para produzir caju de mesa
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Experimento da Embrapa e parceiros com superadensamento de caju-anão mostrou produtividade três vezes maior do que a média registrada em 2019 no Ceará. -
Resultado, que animou cientistas e produtores, pode fortalecer a cajucultura na Região Nordeste. -
Menos dependente de água em relação a outras frutas, como banana e goiaba, caju de mesa é opção para cultivo irrigado no Nordeste. -
Objetivo dos pesquisadores é quintuplicar a produtividade nos próximos três anos. |
Um experimento com cultivo superadensado de cajueiro-anão chegou a obter, em dois anos de implantação, o triplo da produtividade média alcançada pela variedade no estado do Ceará em 2019. A expectativa dos pesquisadores é chegar a uma produtividade de pelo menos três toneladas de castanha e 27 toneladas de pedúnculo por hectare/ano no quinto ano de implantação do estudo, quando as plantas estabilizam sua produção. A pesquisa é conduzida pela Embrapa Agroindústria Tropical (CE), Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado do Ceará (Sedet) e Fazenda Frutacor, no Distrito de Irrigação Tabuleiro de Russas – a 160 km de Fortaleza (CE).
Foram testados seis diferentes clones, com três diferentes tipos de espaçamento (veja quadro). A condição de maior adensamento do estudo (6x2 metros) comporta 833 plantas por hectare. No espaçamento tradicional adotado para a cultura, de 7x7 metros, são cultivadas 204 plantas por hectare.
A melhor combinação de clone com espaçamento resultou em uma produtividade de 1.606 kg de castanha por hectare/ano no segundo ano de implantação. Em 2019, a produtividade média do cajueiro-anão precoce no Ceará – envolvendo todos os tipos de plantio e diversos clones existentes – foi de 528 kg de castanha por hectare.
Cajucultura: menor dependência hídrica anima cientistas e produtores
O estudo avalia a melhor condição de superadensamento, com fertirrigação, para produzir caju de mesa – uma cultura bem menos exigente em água que os plantios tradicionais implantados na região, como banana e goiaba. “A intenção é oferecer uma alternativa pouco exigente em água, produtiva e lucrativa para o perímetro irrigado”, explica o pesquisador Afrânio Montenegro, responsável pela pesquisa.
De acordo com o pesquisador Fábio Miranda, responsável pela irrigação, o consumo de água é um terço do empregado na cultura de banana. Segundo ele, ainda é cedo para estimar a relação de água com produtividade, que deve expressar seus melhores resultados nas próximas safras.
Além de chegar ao melhor clone e espaçamento, os pesquisadores querem saber também como ocorre a distribuição da produção ao longo da safra, o rendimento como fruta de mesa e os custos. “Como a intenção é produzir caju de mesa, mais valorizado no mercado, é importante que a produção seja bem distribuída ao longo do ano”, esclarece Montenegro. Ele explica que, como o experimento está na segunda safra, ainda é cedo também para realizar a análise econômica da experiência.
O secretário-executivo do Agronegócio da Sedet, Silvio Carlos Ribeiro, avalia que o projeto é um passo importante para incluir a cajucultura nos padrões da moderna fruticultura, com adensamento, irrigação, menor consumo de água e alta produtividade.
O secretário lembra que o estado do Ceará mantém há 30 anos praticamente os mesmos pomares de cajueiro, que hoje apresentam baixa produtividade. Para ele, o projeto tem apresentado bons resultados não só de produtividade, como também de racionalização do uso da água.
O empresário João Teixeira, da fazenda Frutacor, está otimista com a experiência. A grande vantagem do cultivo, para ele, é a baixa exigência hídrica do cajueiro. “É um fator muito decisivo para enfrentar a crise hídrica do Ceará”, afirma. Por outro lado, salienta os desafios fitossanitários e alta exigência de mão de obra. “Tudo é muito novo, é um projeto adensado de alto desempenho, que exige muita mão de obra, mas que tem dado uma boa perspectiva com dois clones”, diz.
Teixeira acredita que o cultivo superadensado seja economicamente viável em um modelo de negócio com aproveitamento integral da produção para caju de mesa, processamento do pedúnculo e castanha. Para ele, a via mais provável de modelo de negócio para pequenos produtores seria o associativismo. Na visão do empresário, médios e grandes produtores necessitarão de estrutura de processamento do pedúnculo próxima ao local de produção para aproveitar o que não for adequado ao comércio como fruta de mesa. Ele avalia o mercado de mesa como difícil, pela alta perecibilidade do pedúnculo, que exige cadeia de frios e uma logística ágil. “O caju é tão exigente em pós-colheita quanto a uva, a maçã e a pera.”
Experimento aliou adensamento e fertirrigação Tradicionalmente o cajueiro é plantado com um espaçamento de 7x7 metros. No experimento implantado em 2017 no Distrito de Irrigação Tabuleiro de Russas, estão em teste três diferentes espaçamentos: de 6x4 metros, 6x3 metros e 6x2 metros. Foram testados seis clones: CCP 09, CCP 76, Embrapa 51, BRS 189, BRS 226 e BRS 265. Cada um dos clones foi implantado nos três diferentes tipos de adensamento, resultando em 18 tratamentos diferentes. As plantas foram irrigadas diariamente por gotejamento e receberam fertilizantes, semanalmente, via fertirrigação. Houve também pulverização de micronutrientes a cada 30 dias. Os cajueiros foram podados, de forma a manter uma haste principal, quatro ramos primários, oito ramos secundários e 16 ramos terciários. As variáveis analisadas foram: produtividade de castanha e pedúnculo, distribuição da produção ao longo do ano e classificação dos frutos para os mercados de mesa e indústria. Observou-se que as produtividades de castanha e de pedúnculo foram afetadas significativamente pelos clones e espaçamentos. |
O caju no Brasil
O Brasil produziu, em 2019, 139.383 toneladas de caju. De acordo com o IBGE, mais de 90% dessa produção está localizada em três estados: Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. A produtividade brasileira, considerando a área colhida em 2019, foi de 327 kg de castanha por hectare, o que é considerado muito baixo para o potencial da espécie.
O problema da baixa produtividade deve-se à extensa área ocupada com cajueiros do tipo comum, plantados em grandes espaçamentos. A grande maioria são plantas com idade avançada, cultivadas com poucos tratos culturais.
Em 2019, mesmo representando 35% da área plantada, o cajueiro-anão respondeu por 56% da produção de castanha de caju do estado do Ceará (IBGE, 2020). De acordo com o Relatório da Coordenação de Estatísticas Agropecuárias (GCEA), do total de 275 mil hectares ocupados com a cultura no estado nesse mesmo ano, cerca de 179 mil hectares eram plantados com o cajueiro do tipo comum e apenas 96 mil ha cultivados com o cajueiro-anão.
A produtividade média do cajueiro-anão, em 2019, no estado do Ceará, foi de 528 kg por hectare/ano. E a do cajueiro comum 222 kg por hectare/ano (IBGE, 2020). Embora produzindo mais do que o dobro, a produtividade do cajueiro-anão é considerada baixa para o potencial da cultura. “Essas áreas ocupadas com cajueiro-anão usam pouca tecnologia. Caso o cenário mudasse, haveria possibilidade de aumentar consideravelmente a produtividade da cajucultura do País”, alerta Montenegro.
Foto: Afrânio Montenegro
Verônica Freire (MTb 01125/CE)
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