06/10/15 |   Biotecnologia e biossegurança  Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Programa MKTPlace: ações da Unidade conjugam tecnologia de ponta, conhecimento tradicional e capacitação

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Foto: Claudio Bezerra

Claudio Bezerra - Francisco Aragão apresentou as pesquisas para desenvolvimento de caupi GM em parceria com a Nigéria com resistência ao vírus do mosaico severo

Francisco Aragão apresentou as pesquisas para desenvolvimento de caupi GM em parceria com a Nigéria com resistência ao vírus do mosaico severo

A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia promoveu, no dia 22 de setembro, o I Workshop de projetos do Programa Marketplace. O objetivo foi apresentar os resultados obtidos pelos pesquisadores que participaram como líderes e co-líderes de projetos da Plataforma África-Brasil de Inovação Agropecuária (Africa-Brazil Agricultural Innovation Marketplace).

O Programa Marketplace, ou MKTPlace como é conhecido, é uma iniciativa internacional que começou em 2010, com o objetivo de unir especialistas e instituições do Brasil, África e América Latina e Caribe para levar desenvolvimento e inovação a pequenos produtores dessas regiões.

Ao longo desses cinco anos de execução, financiou 76 projetos de 48 países, resultando em: 147 tecnologias, produtos e serviços; 131 publicações técnico-científicas; 1.177 profissionais treinados; 93 eventos realizados e 924 materiais genéticos intercambiados.  

Confiram, abaixo, os principais resultados obtidos por nossos pesquisadores em projetos financiados pelo Programa MKTPlace na África e na América Latina:

Primeiro campo de caupi geneticamente modificado do Brasil é um dos resultados do Programa

O pesquisador Francisco Aragão apresentou as pesquisas que desenvolveu em parceria com a Embrapa Meio Norte (Teresina, PI) para desenvolvimento de variedades geneticamente modificadas de feijão caupi resistentes à pior ameaça enfrentada por essa cultura no Brasil e na África: o vírus causador do mosaico severo do caupi (Cowpea severe mosaic virus, CPSMV). Típico de regiões secas e quentes, o feijão caupi é uma importante fonte de renda para pequenos agricultores da savana africana. Rico em proteínas e carboidratos, é consumido por mais de 200 milhões de pessoas. No Brasil, além do consumo in natura, o feijão caupí, também conhecido como feijão de corda, é usado como forma de farinha, servindo para o enriquecimento nutritivo de outras massas.

As pesquisas resultaram na geração de mais de 10 linhagens geneticamente modificadas e na capacitação de pesquisadores nigerianos.

Paralelamente ao feijão resistente ao CPSMV, foram desenvolvidas também variedades de feijão caupi tolerantes a um herbicida da classe das imidazolinonas.

As variedades GM foram testadas em campo em 2013 no primeiro campo de caupi transgênico do País, em Teresina, PI. Infelizmente, de acordo com o pesquisador, as plantas não puderam ser testadas na Nigéria, pois não havia ainda legislação de biossegurança naquele país. A lei foi aprovada na Nigéria em 2015 e o CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation), da Austrália, por exemplo, já está realizando testes com variedades de caupi com Bt (Bacillus thuringiensis) para controle de pragas agrícolas.

O projeto do MKTPlace acabou em 2015, mas há possibilidade de dar continuidade aos experimentos com as variedades transgênicas de feijão caupi, a partir de um edital do governo inglês para projetos em colaboração com a África.

A capacitação foi outro ponto forte da parceria. Ao longo da execução do projeto apoiado pelo Programa MKTPlace desde 2013, foram treinadas quatro pessoas, sendo três professores e um estudante de doutorado da Universidade de Ahmadu Bello, em Zaria, Nigéria.

Além disso, o projeto permitiu ainda conhecer a fundo a diversidade do vírus CPSMV no Brasil, na Nigéria e em outros países africanos vizinhos.  

Controle de nematoides em sistemas periurbanos

A pesquisadora Regina Carneiro apresentou o projeto para identificação de espécies do nematoide das galhas (Melodoigyne spp.) em hortaliças cultivadas em sistemas periurbanos (espaços situados nas periferias das cidades, onde as atividades rurais e urbanas se misturam) na cidade de Ibadan, capital do estado de Oyo, terceira maior cidade em população da Nigéria. Os estudos foram desenvolvidos em parceria entre a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a Universidade de Ibadan e o Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA, sigla em inglês), cuja sede também está localizada na cidade de Ibadan.

Os sistemas periurbanos são soluções viáveis para as cidades africanas, pois permitem o cultivo e o consumo das hortaliças (abobrinha, alface, tomate, salsão, repolho, rabanete e cenoura) sem a necessidade de transporte, o que barateia o custo final desses alimentos. Entretanto, o alto índice de infestação de nematoides leva à utilização indiscriminada de defensivos químicos de alto teor toxicológico.

Por isso, o objetivo do projeto era selecionar hortaliças resistentes a essas pragas para utilização em sistemas de rotação de culturas, reduzindo assim o uso desses produtos. As espécies foram coletadas pelos institutos africanos e enviadas para a equipe da pesquisadora Regina Carneiro na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Foram avaliadas 130 populações de dois tipos de nematoides (Melodoigyne javanica e Melodoigyne incognita) de cinco países africanos: Kenya, Nigéria, Tanzânia, Benin e Uganda.  Essas duas variedades correspondem a 80% dos nematoides que ocorrem na África, Brasil e nas Américas.

Segundo Regina, a resistência ao nematoide das galhas foi detectada em tomate e outras hortaliças, O objetivo, daqui para a frente, é comparar a diversidade genética de espécies brasileiras e africanas a partir do uso de marcadores moleculares e identificar morfologicamente as espécies atípicas. "Desenvolvemos vários marcadores moleculares em laboratório e vamos utilizá-los para identificar as espécies resistentes. Os resultados serão transferidos para os produtores africanos, de forma a incorporá-los a programas de manejo nas regiões mais infestadas", explica a pesquisadora.
    
Desenvolvimento de ferramentas de ecologia química para manejo integrado de pragas

O pesquisador Miguel Borges apresentou o projeto para desenvolvimento de ferramentas de ecologia química para manejo integrado do gorgulho da semente da manga (Sternochetus mangiferae) em Gana, África. Trata-se de uma espécie de besouro que atua como praga da manga em várias regiões produtoras desta fruta do mundo.

A produção de manga é uma atividade de extrema importância para a economia de Gana, com mais de 12 mil hectares plantados e uma produção de cerca de 100 mil toneladas, cuja maioria é exportada para a Europa. Mas, além de prejudicar a produção, com perdas de 80 a 90% das lavouras, esse gorgulho representa uma restrição para a exportação, por se tratar de uma praga quarentenária.

O objetivo do projeto liderado pelo pesquisador Miguel Borges foi desenvolver ferramentas de ecologia química para controle o gorgulho da semente. Segundo ele, as fêmeas são mais ativas na fase de estágio reprodutivo da manga e, por isso o objetivo, era extrair o feromônio sexual dessas fêmeas para impedir a reprodução.

"Com isso, chegamos a uma tecnologia nova, de baixo custo e livre de agrotóxicos capaz de monitorar e controlar as populações de gorgulhos nas lavouras, aumentando a produção de manga", comemora Miguel.

Paralelamente às pesquisas, foram produzidas cartilhas para transferir essa tecnologia aos pequenos produtores de manga de Gana.

Avaliação de variedades crioulas de trigo etíope

A pesquisadora Clara Goedert falou sobre as atividades de avaliação de variedades crioulas de trigo duro etíope em busca de características de tolerância à seca e alto rendimento na região de Tigray, norte da Etiópia. O projeto, que conta com a parceria da Embrapa Trigo e da Universidade de Mekele (Etiópia) foi aprovado para começar em 2015, mas ainda não foi iniciado.

Clara, que é co-líder, explica que o objetivo será avaliar os níveis de tolerância à seca em 500 variedades locais e 28 melhoradas de trigo duro. Para isso, serão estudadas as características fenotípicas do trigo duro que influenciam o processo de seleção dos agricultores da região. "A ideia é assegurar o acesso de, no mínimo, 100 agricultores a variedades com melhor desempenho sob as condições climáticas locais", complementa a pesquisadora, lembrando que para isso, será estimulada a criação de cooperativas e associações.

O primeiro ano de realização do projeto será na Etiópia, onde está previsto o treinamento de agricultores locais na produção de trigo duro. A expectativa das instituições parceiras é disseminar as tecnologias desenvolvidas para que cerca de mil (1.000) agricultores às variedades selecionadas.

Essa primeira fase do projeto prevê ainda a visita técnica de dois pesquisadores etíopes às duas unidades da Embrapa – Trigo e Recursos Genéticos e Biotecnologia – por dois meses.

No segundo ano, será realizada a avaliação de plantas de trigo em casas de vegetação com foco na tolerância à seca.

Ao final do projeto, o que se espera é maximizar a produção e a produtividade de trigo duro de forma a alcançar 5.000 (cinco mim) agricultores etíopes.

Restauração e migração assistida de amendoim silvestre

Por fim, o pesquisador José Francisco Valls apresentou o projeto que liderou com o objetivo de restaurar e proceder a migração assistida de populações ameaçadas de espécies silvestres de amendoim (Arachis), garantindo a conservação in situ e a longo prazo.

Os estudos foram realizados com parentes silvestres de amendoim em cinco países latino-americanos: Bolívia, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai e resultaram na migração assistida de quatro variedades silvestres de Arachis, que estavam ameaçadas de extinção na Bolívia, garantindo a sua reintegração ao habitat natural. "Isso foi possível graças à similaridade entre as espécies brasileiras e bolivianas.

"Além de ser um resultado de alto impacto por garantir o retorno de variedades silvestres de amendoim ao seu habitat natural, a técnica de migração assistida mostrou ser bastante positiva na conservação e uso sustentável de recursos genéticos vegetais", ressaltou Valls.

O projeto prevê também o melhoramento genético das espécies em prol das mudanças climáticas.

Projetos de alto nível

O chefe-geral da Unidade, José Manuel Cabral, encerrou o workshop, ressaltando o alto nível técnico-científico dos projetos apresentados, além da diversidade de países envolvidos e objetivos, já que envolveram todas as áreas de atuação da Unidade - recursos genéticos, segurança biológica, controle biológico e biotecnologia.

Fernanda Diniz (DRT/DF 4685/89)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

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Mais informações sobre o tema
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