02/06/16 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Termina mais uma etapa da colaboração entre Brasil e EUA na pesquisa com recursos genéticos de amendoim

Informe múltiplos e-mails separados por vírgula.

Foto: Claudio Bezerra

Claudio Bezerra - Valls (esquerda) e Simpson são parceiros na pesquisa de Arachis há 38 anos

Valls (esquerda) e Simpson são parceiros na pesquisa de Arachis há 38 anos

Parceria proporcionada pelo programa "Ciência sem Fronteiras" terminou em 31 de maio com resultados muito positivos para os dois países.

Terminou no dia 31 de maio de 2016 a terceira fase da pesquisa de recursos genéticos de Arachis (amendoim), desenvolvida em colaboração entre Brasil e Estados Unidos, com recursos do programa "Ciência sem Fronteiras". A parceria foi desenvolvida em três etapas entre os anos de 2014 e 2016 e contou com a participação do professor emérito da Texas AgriLife Research/Texas A&M University (Stephenville, TX, EUA), Charles E. Simpson, como Pesquisador Visitante Especial por um período de um mês em 2014, dois em 2015 e dois em 2016.

Segundo o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e coordenador da colaboração no Brasil, José Francisco Valls, a colaboração resultou em inúmeros benefícios relacionados ao intercâmbio científico para os dois países, entre os quais destacam-se: o apoio a alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado, com a elaboração de dissertações e teses sobre espécies silvestres de Arachis, além da publicação de artigos científicos em importantes revistas internacionais. Uma das alunas de doutorado de Valls, Daniele Cristina Wondracek, passou quatro meses na universidade texana, fazendo cruzamentos entre espécies silvestres de amendoim, sob a orientação de Simpson. Os estudos já resultaram na publicação de um artigo na revista Genetics and Molecular Research (GMR) e há um outro pronto, em fase final de aprovação por mais um periódico científico internacional.

Além disso, a colaboração resultou também na intensificação de ações de caracterização genética de espécies silvestres de amendoim coletadas nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil, por meio de programas de cruzamentos interespecíficos (entre espécies diferentes). Segundo Valls, foram realizadas expedições de coleta em Minas Gerais e Bahia (2014), Mato Grosso e Goiás (2015) e Tocantins (2016). "Nessas viagens, foram observadas populações naturais das espécies silvestres a campo. Muitas delas também são mantidas vivas em telados e câmaras de conservação de sementes da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. As coletas realizadas resultaram na descoberta de várias novas espécies de Arachis e de gramíneas, cujas descrições originais estão sendo elaboradas. Das novas espécies de Arachis, uma foi originalmente coletada por Valls, Simpson e o empregado aposentado Abimael Gripp, em 1981, e nunca mais reencontrada, até ser recuperada em 2015, ressalta o pesquisador".

Outro resultado importante da colaboração foi a organização e revisão das identificações de todas as espécies de amendoim silvestres que compõem o herbário da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, um dos maiores e mais importantes do país, com mais de 85 mil amostras de plantas da biodiversidade brasileira. Desde 1985, os dados desse acervo vêm sendo disponibilizados on line para o público interessado e cada exemplar está sendo fotografado, com imagens em alta resolução, ampliando a qualidade da informação.

As espécies coletadas ao longo desses três anos de cooperação estão sendo estudadas, multiplicadas e incorporadas ao Banco de Espécies Silvestres de Arachis da Unidade em Brasília, que conta com cerca de 2.000 acessos de todas as espécies brasileiras.
O gênero Arachis, conta com várias espécies presentes na matriz agrícola mundial, como o amendoim comum, A. hypogaea, espécies forrageiras e ornamentais, como A. glabrata, A. pintoi e A. repens e espécies cultivadas para grãos por populações indígenas brasileiras (A. villosulicarpa e A. stenosperma). É exclusivo de cinco países da América do Sul (Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai) e, de suas 81 espécies já descritas, 64 ocorrem no Brasil, sendo 47 delas exclusivas deste país.

Parceria de mais de três décadas nas pesquisas com amendoim

A parceria proporcionada pelo programa "Ciência sem Fronteiras" marcou a participação mais intensa do professor norte-americano na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, mas na verdade, a parceria da Unidade com a Texas A&M University já existe há quase quatro décadas. "Na primeira vez que estive no Brasil, em 1978, o Valls ainda não fazia parte do quadro de pesquisadores da Embrapa", lembra Simpson.
Em 1981, os dois fizeram a primeira viagem juntos em busca de espécies silvestres de amendoim. De lá para cá, iniciou-se uma parceria de sucesso, que resultou na identificação de 81 espécies brasileiras de amendoim silvestre.

Graças à essa parceria, que conta também com a colaboração de países latino-americanos, como Argentina, Bolívia, Uruguai e Paraguai, e da Índia, entre outros, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia é hoje uma das protagonistas nas pesquisas de conservação e caracterização de recursos genéticos de Arachis na América Latina.

"Parceria que não tem data para acabar", ressaltam Valls e Simpson. Após o término do projeto financiado pelo "Ciência sem Fronteiras", eles já pensam em novas fontes de financiamento para dar continuidade às pesquisas.

Segundo Valls, o Brasil é o país com a maior diversidade do gênero Arachis, o que implica em grande responsabilidade para a conservação e busca de conhecimento científico sobre seus recursos genéticos.

Por isso, a pesquisa em busca da diversidade genética do amendoim não pode parar nunca. O Brasil é um enorme manancial de genes silvestres desse produto e as características encontradas nessas espécies, como resistência a pragas e doenças, entre outras, são muito importantes em programas de melhoramento genético a partir de cruzamentos com as variedades comerciais de amendoim.

Continuidade das pesquisas

Uma das preocupações externadas por Simpson é em relação à continuidade das pesquisas no Brasil, pois não há um substituto no quadro da Embrapa com as características e a experiência de Valls no que concerne às pesquisas de laboratório e no campo. "Na Texas A&M University, há um pesquisador que estou treinando há alguns anos para me substituir, explicou o professor norte-americano, mas não vejo o mesmo na Embrapa e isso me preocupa muito", enfatizou.

A falta de continuidade nas pesquisas com recursos genéticos de Arachis pode representar a perda de quase 40 anos de esforços na coleta, caracterização e conservação de parentes silvestres de amendoim, que resultou em um enorme manancial genético à disposição da ciência no Brasil e no mundo.

Benefícios do amendoim

O amendoim é um produto de enorme importância social e uma opção barata e nutritiva para as populações de vários países, incluindo alguns da África, onde vêm sendo usado na suplementação alimentar de crianças. É um grão saboroso e excelente fonte de energia, pois fornece 600 calorias para cada 100 gramas ingeridas. Contém alta quantidade de proteína, e é rico em vitaminas e minerais como o Zinco, Cálcio, Magnésio, Ferro e Fósforo.

Mas, como explica Valls, seus benefícios vão além da alimentação, podendo ser uma ótima opção como planta forrageira e na proteção contra a erosão em encostas. Pesquisas já vêm sendo realizadas com êxito nesse sentido pela Embrapa Acre com espécies enviadas da coleção da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

Pesquisas de ponta nas áreas de biotecnologia e genômica

Paralelamente às pesquisas de coleta, caraterização e conservação de espécies silvestres de Arachis, equipes de pesquisadores da Embrapa, Universidade de Brasília e outras instituições do Brasil e do exterior avançam em pesquisas de ponta, a partir de ferramentas de biotecnologia e genômica para conhecer a fundo as propriedades genéticas do amendoim em prol da alimentação, indústria de óleo, entre outros segmentos, que possam beneficiar a sociedade mundial.

"Mas, não há pesquisa se não houver material genético para estudar, lembra Valls". "Por isso, as ações de coleta são imprescindíveis e não podem parar", complementa Simpson.  

Os dois fazem questão de ressaltar que a parceria entre países, como é o caso do Brasil e dos Estados Unidos na pesquisa com amendoim, é fundamental para o êxito das pesquisas, pois permite o compartilhamento de conhecimento e o intercâmbio de informações.  

Nem mesmo os 70 anos de Valls e os 75 de Simpson parecem desanimá-los. "Enquanto pudermos, continuaremos nossa missão em busca de parentes silvestres do amendoim pelo Brasil, que é o berço genético dessa cultura. Esperamos ainda encontrar muitas novas espécies e novas populações de espécies já descritas, de importância para a agricultura mundial".  Se, juntos, já conseguiram incorporar material genético de 81 espécies de amendoim aos bancos genéticos e às bases de dados internacionais, alguém duvida?

Fernanda Diniz (DRT/DF 4685/89)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Contatos para a imprensa

Telefone: 61 3448-4768

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/