Publicado novo Zoneamento Agrícola de Risco Climático do maracujá para todo o Brasil
Publicado novo Zoneamento Agrícola de Risco Climático do maracujá para todo o Brasil
A portaria que atualiza o Zoneamento Agrícola de Risco Climático para a cultura do maracujá (Zarc Maracujá) foi publicada nessa quarta-feira (21) no Diário Oficial da União. Resultado de um estudo com a participação de pesquisadores da Embrapa, com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Banco Central, o Zarc Maracujá traz indicações de risco de plantio do maracujazeiro de sequeiro e irrigado, por município, considerando o clima, os tipos de solos e os ciclos das cultivares recomendadas para o País.
Com base nesses dados, agricultores e técnicos podem planejar melhor a produção para evitar que adversidades climáticas coincidam com as fases mais sensíveis da cultura (crescimento e desenvolvimento da planta e formação do fruto), minimizando perdas na produção e proporcionando retorno do investimento realizado pelos produtores.
A validação do novo Zarc Maracujá teve a colaboração de mais de 200 participantes de todo Brasil, incluindo pesquisadores, técnicos e representantes do setor produtivo ligados à cultura. As reuniões on-line de validação foram realizadas no final de maio deste ano, em atendimento ao Programa Nacional de Zoneamento Agrícola de Risco Climático.
A observância das datas de plantio preconizadas pelo Zarc é obrigatória para os produtores que desejam acessar o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro e Proagro Mais) e o Programa de Subvenção ao Seguro Rural (PSR). Elas podem ser consultadas na página do Mapa na sessão de Portarias por Estado ou no Painel de Indicadores. Outra opção é baixar o aplicativo Zarc Plantio Certo, disponível para IOS e Android.
Nos encontros, os resultados do estudo foram avaliados, buscando, também, melhorias na metodologia do Zarc. Após os encontros, os resultados consolidados foram encaminhados ao Departamento de Gestão de Riscos da Secretaria de Política Agrícola do Mapa, responsável pela publicação das portarias de zoneamento agrícola de risco climático.
O pesquisador Fernando Macena, da Embrapa Cerrados (DF) e o analista Balbino Antônio Evangelista, da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas, TO), coordenadores da equipe que elaborou o Zarc Maracujá, destacam que o produtor consegue interferir no preparo do solo, na escolha da cultivar a ser plantada, na população de plantas, no controle de pragas e doenças, na adubação, no espaçamento e na decisão sobre usar ou não a irrigação.
Por outro lado, os fatores climáticos não podem ser controlados. “Não podemos interferir na quantidade de chuvas, na radiação solar, nas temperaturas máximas e mínimas, nas geadas e nas chuvas de granizo. E tudo isso contribui para que os mais diversos sistemas de cultivo tenham a produtividade diminuída ou aumentada”, explica.
Ele ressalta a necessidade de constante pesquisa sobre a relação entre clima e produção agrícola. “É isso que o Zarc nos propõe”, afirma, apontando a deficiência hídrica, o excesso de chuva na colheita, as geadas e as chuvas de granizo como os principais fatores de perdas na agricultura brasileira.
No Brasil, o clima representa 15% a 75% da variabilidade interanual da produção, dependendo da região e da época do ano, segundo pesquisa publicada no periódico Nature Communications. De acordo com um estudo do Banco Mundial, do Mapa e da Embrapa, o País perde R$ 11 bilhões anuais na produção agrícola devido a riscos diversos – entre eles, os riscos climáticos têm maior impacto.
Fábio Faleiro, chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, ressalta o papel dos estudos do Zarc na formulação de políticas públicas e na minimização de riscos na agricultura relacionados aos fenômenos climáticos: “O Brasil é um país continental, com vários biomas e regiões. Imaginem o desafio desse tipo de estudo, que é complexo”.
Faleiro também destaca a importância econômica, social e ambiental da cultura do maracujá. “É uma das poucas frutas plantadas do Rio Grande do Sul até Roraima com sucesso, e assim o Zarc assume uma importância ainda maior”, diz, apontando as cultivares mais resistentes a doenças, a fertirrigação e a produção de mudas do tipo mudão como algumas das diversas tecnologias que podem impulsionar a cultura.
Maracujá no Brasil
O Brasil é o maior produtor e consumidor mundial de maracujá, com produção de 593 mil toneladas em 2019, de acordo com o IBGE, o que representa mais de 70% do total mundial. Os maiores exportadores são Peru e Equador. “A exportação brasileira é pequena, mas pode aumentar, porque o consumo externo é muito forte. Apesar de a cultura ter pouca expressão no País, ela tem tudo para crescer, e as inovações implementadas podem auxiliar nesse crescimento”, aposta Macena.
O maracujá é produzido em todas as regiões brasileiras, tendo limitações apenas nas áreas mal drenadas e nas áreas sujeitas a geadas. A principal espécie cultivada é o maracujá azedo (Passiflora edulis Sims), presente em mais de 90% dos pomares, mais comumente em sistema irrigado. São estimados cerca de 50 mil produtores em todo o País, a maioria de pequeno porte. O Nordeste é a principal região produtora, com destaque para a Bahia, com maiores produção (168,4 mil toneladas) e área colhida (15,6 mil ha). Já o maior rendimento está no Distrito Federal, com 27,68 t/ha.
Zarc Maracujá para dois tipos de mudas
A principal novidade no novo Zarc Maracujá é a inclusão do sistema de cultivo baseado no chamado “mudão”, além do sistema convencional. A tecnologia foi desenvolvida pela Embrapa Cerrados e consiste na produção de mudas mais vigorosas, com altura entre 90 cm e 180 cm e plantadas no campo com idade a partir de 120 dias. Já as mudas convencionais têm, em média, menos de 50 cm de altura e são plantadas com idade de 60 dias. As mudas do tipo mudão passam mais tempo no viveiro (120 dias) ou na estufa (70 dias), antes de serem levadas ao campo.
Segundo Fernando Macena, esta é a primeira vez que o Zarc de uma planta semiperene, que tem necessidade constante de água, é elaborado dessa forma. Ele explica que a muda simples de maracujá é mais suscetível a pragas e doenças e sente mais o déficit hídrico. “Quando a planta de maracujazeiro vem do viveiro já maior, esses problemas são menores. Isso possibilita que a cultura escape de geadas no período de florescimento e apresente produção viável mesmo em regiões sujeitas a inverno frio no Sul e no Sudeste. Além disso, ela floresce e frutifica primeiro”, completa.
O mudão apresenta menor taxa de mortalidade no campo, menor tempo de exposição e maior tolerância a pragas e doenças, sobretudo na fase mais vulnerável do início do desenvolvimento, além de maior precocidade e maior produtividade, principalmente em áreas de maior ocorrência de pragas e doenças.
Nas regiões com maior restrição de chuvas, como o Nordeste, o mudão pode ser plantado com menor risco climático em sistema de sequeiro, em mais municípios e num período maior do ano agrícola se comparado à muda convencional, como mostram os mapas gerados pelo Zarc e apresentados nas reuniões de validação.
Já no sistema irrigado, em regiões onde a temperatura máxima é o principal fator limitante, a muda convencional pode apresentar janelas de plantio de menores riscos que as do mudão, dependendo da época do ano. Além disso, por ter ciclo mais curto que o da muda simples, o mudão possibilita que a cultura escape de geadas no período de florescimento em algumas regiões do País, como o Sul e o Sudeste.
“O mudão ainda é pouco conhecido no Brasil como um todo, mas este nosso trabalho poderá ser um indutor, fazendo que essa tecnologia chegue aos mais remotos cantos do País, já que o maracujá é cultivado de Norte a Sul, para que o produtor possa produzi-lo com mais eficiência e menos riscos”, aposta Macena.
No Zarc Maracujá, foram considerados para a análise de riscos a disponibilidade hídrica para a cultura, a ocorrência de geadas e a ocorrência de temperaturas muito elevadas no período de florescimento. Cada um desses fatores é avaliado conforme a fase do ciclo da cultura, que pode apresentar maior ou menor sensibilidade aos eventos adversos. Na versão do Zarc para o maracujá irrigado, considera-se que a irrigação será responsável pelo suprimento hídrico da planta, excluindo-se qualquer ocorrência de deficiência hídrica.
Particularidades regionais são contempladas
Durante as reuniões de validação, pesquisadores da Embrapa e de universidades, além de técnicos do Mapa, do Banco Central, do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e das empresas de assistência técnica e extensão rural que atuam nos diferentes estados, debateram sobre os mapas do Zarc Maracujá apresentados para o Nordeste, o Centro-Oeste, o Norte, o Sudeste e o Sul para a cultura do maracujazeiro de sequeiro e em sistema irrigado.
Uma das questões discutidas foi a necessidade de uma uniformização dos vazios sanitários para a cultura, considerando todo o território nacional. Em Santa Catarina, por exemplo, o vazio do maracujá compreende o mês de julho em todos os municípios, enquanto outros Estados seguem regras diferentes.
“O trabalho do Zarc para maracujá e sua atualização é fundamental para abastecer o produtor de melhores estudos, para que assim ele possa ser mais assertivo em melhores épocas de produção e obter melhores resultados. A reunião de validação foi excelente para alinharmos as informações, tirar possíveis inconsistências desses dados de zoneamento da plataforma e, assim, fornecermos a melhor informação possível e assegurar uma excelente produção ao produtor”, diz Eduardo Neves, técnico de campo do Programa Assistência Técnica e Gerencial do Senar/MS que atua nos municípios de Amambai e Caarapó.
Rogério Beretta, superintendente de Ciência e Tecnologia, Produção e Agricultura Familiar, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul, parabeniza a Embrapa pelo trabalho com o Zarc em diversas culturas.
“Os ZARCs trazem segurança, primeiramente, de plantio para o produtor rural, para o sistema financeiro, para as seguradoras e para os estados e municípios, pois diminuindo os riscos, eles ativam a economia ou, pelo menos, evitam problemas econômicos”, afirma.
Breno Lobato (MTb - 9417-MG)
Embrapa Cerrados
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