Cultivares de mandioca para farinha e fécula são lançadas pela Embrapa Cerrados
Cultivares de mandioca para farinha e fécula são lançadas pela Embrapa Cerrados
As cultivares de mandioca de indústria BRS 417, BRS 418 e BRS 419, adaptadas às condições do Cerrado do Brasil Central, foram lançadas no último dia 14 em evento on-line promovido pela Embrapa Cerrados (DF) e transmitido pelo canal da Embrapa no YouTube. O evento contou com a participação dos pesquisadores Josefino Fialho e Eduardo Alano, responsáveis pelas tecnologias, além de parceiros da pesquisa e empresas licenciadas.
Assista aqui:
“O lançamento dessas variedades é o coroamento de um trabalho que a Embrapa Cerrados conduziu ao longo dos anos com valorosas parcerias e com a nossa equipe de pesquisadores. Quero convidá-los para, no futuro, transferir essa genética para os campos de produção do Brasil”, disse o chefe geral da Unidade, Sebastião Pedro da Silva Neto, agradecendo aos parceiros.
“Essas cultivares são motivo de orgulho para a Embrapa e seus parceiros. As parcerias são estratégicas e muito importantes para o desenvolvimento tecnológico para o setor produtivo, que é o nosso alvo”, disse o chefe-adjunto Fábio Faleiro, que fez a moderação do evento on-line.
O gerente de monitoramento da FBB, Tarcísio Gerotto, destacou os mais de 20 anos de parceria com a Embrapa. “Essa parceria ratifica o compromisso da FBB de valorizar vidas para transformar pessoas. Apoiar a cadeia produtiva da mandioca permite apoiarmos milhões de agricultores e de brasileiros que consomem essa cultura tão estratégica para o nosso país”, afirmou.
Otávio Morais, diretor-presidente da Emater-MG, salientou o valor da cooperação entre pesquisa e a assistência técnica e extensão rural para a promoção do desenvolvimento rural sustentável. “Essas parcerias são muito importantes para que possamos levar cada vez mais tecnologia, informação, conhecimento e inovações para aumentar a produtividade e melhorar a qualidade de vida daqueles que atendemos”, disse, lembrando que o lançamento é fruto de uma parceria iniciada em 2015 com a Embrapa Cerrados, com a instalação de campos de avaliação de cultivares de mandioca para indústria em polos produtores mineiros. Outras 60 unidades de avaliação de cultivares de mesa foram instaladas em 2020.
Além da FBB e da Emater-MG, a Unidade contou com diversos parceiros no desenvolvimento das novas variedades de mandioca, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); a Fundação e Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF); a Escola Agrícola de Unaí (MG), as Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU), a Cooperativa Mista dos Pequenos Produtores de Polvilho e Derivados da Mandioca da Região do Cará (Cooperabs), de Bela Vista de Goiás (GO); a fecularia Irmãos Cândido, de Rio Pardo de Minas (MG) e a empresa Teluz Alimentos, de Lagoa Formosa (MG).
Histórico e perspectivas para a mandioca no Cerrado
A mandioca é cultivada em todo o território nacional, onde são produzidas cerca de 18 milhões de toneladas de raízes anualmente, sendo 87% pela agricultura familiar, constituindo importante fonte de renda e segurança alimentar.
O pesquisador Josefino Fialho apontou que, no Bioma Cerrado, os principais problemas da cultura são a baixa produtividade de raízes e qualidade dos produtos de mandioca. Eles se devem, principalmente, à alta incidência de pragas e doenças como a bacteriose; à utilização de variedades com má distribuição de raízes, de densidades e épocas de plantio inadequadas; e dificuldades no cozimento das raízes de mandioca de mesa, resultado de baixos níveis tecnológicos de produção, do uso de variedades inadequadas e da mistura de variedades em uma mesma área.
As alternativas, segundo o pesquisador, são o melhoramento genético e a melhoria das tecnologias de produção, com trabalhos desenvolvidos em parceria com os produtores rurais, a FBB e as Emater de Minas Gerais, de Goiás e do Distrito Federal. Entre 1975 e 2004, a pesquisa se concentrou na introdução e seleção de variedades de outras regiões e com alto potencial produtivo. Em 1990, foram recomendadas as primeiras variedades de mesa e de indústria e de mesa resistentes à bacteriose. Para aumentar a rentabilidade das lavouras e atender às exigências do mercado quanto à qualidade das raízes de mesa e às tecnologias para mandiocas processadas, os pesquisadores passaram a aplicar a metodologia da pesquisa participativa.
“Essa metodologia foi extremamente importante, porque preconiza o intercâmbio de experiências e uma efetiva participação dos produtores e técnicos na fase de seleção”, explicou Fialho. Diversas unidades de pesquisa participativa foram instaladas para a seleção de variedades de mandioca de mesa com raízes de polpa amarela no DF e Entorno, em parceria com produtores e a Emater-DF, resultando na recomendação de algumas variedades.
Também foram trabalhadas tecnologias para o sistema de produção, envolvendo adubação e correção do solo; controle de pragas e doenças; estudos de micorrizas e o uso da mandioca na alimentação animal. “A partir de 1990, houve um salto de qualidade na mandiocultura do DF e a profissionalização dos produtores. Houve uma dominância do mercado pelas mandiocas de polpa amarela”, lembrou o pesquisador.
Desde 2005, a pesquisa vem trabalhando com hibridações (cruzamentos) em busca de variedades superiores. Nos diversos campos de cruzamentos implantados, foram geradas novas cultivares de mandiocas de mesa (biofortificadas com polpa amarela e rosada), de indústria e açucaradas. Os clones biofortificados foram testados junto aos produtores com o uso da metolodologia participativa, trabalho que resultou no lançamento de quatro variedades com raízes de polpa amarela e duas com raízes de polpa rosada específicos para o Cerrado. Segundo a Clona-Gen, empresa licenciada pela Embrapa para a produção de mudas, esses materiais foram comercializados para todos os estados do País.
Nesse período, a pesquisa também desenvolveu tecnologias do sistema de produção, como o manejo da irrigação em mandioca de mesa; os estudos sobre a broca das raízes; o processamento mínimo de mandioca de mesa; e a mandioca na alimentação animal. Os estudos originaram diversas publicações.
Entre as perspectivas para a cultura no Cerrado, Fialho apontou a extensão de recomendação da cultivar BRS 429 para o DF e Entorno e, posteriormente, para Minas e Goiás; além do fortalecimento das ações com a Emater de Minas e de Goiás para avaliar e estender a recomendação das cultivares de mesa e de indústria para esses estados; das ações com a Emater de Minas e do DF nas avaliações das variedades de mandioca de mesa de polpa de raízes rosadas em sistemas orgânicos de produção, buscando atender mercados diferenciados; e das ações com os parceiros para continuar a gerar tecnologias como forma de contribuir para o aumento da competitividade e da sustentabilidade da cadeia produtiva da mandioca no Cerrado.
Cultivares mais adaptadas e produtivas
O pesquisador Eduardo Alano abordou as características das cultivares de mandioca de indústria. Ele lembrou que o estoque de conhecimento gerado pelas pesquisas da Embrapa Cerrados desde 1975 subsidiou o desenvolvimento das novas cultivares, sobretudo na escolha dos genitores e na seleção dos clones promissores que foram levados para ambientes de cultivo de produtores.
No Cerrado, cerca de 243 mil ha são cultivados com mandioca, sendo o Bioma responsável por cerca de 11% da produção nacional. “Todas as estimativas que fazemos no trabalho de prospecção nos levam a crer que, no futuro, a área de expansão da mandioca no Brasil será no Cerrado. Temos que estar preparados para isso”, comentou.
Ele explicou que o trabalho de melhoramento genético que resultou nas cultivares de indústria BRS 417, BRS 418 e BRS 419 foi iniciado em 2007, com a instalação do campo de cruzamento. Também detalhou os passos do melhoramento genético de plantas, desde os cruzamentos dirigidos à multiplicação e liberação oficial do material, que envolvem ao menos 10 anos de trabalho. “Só que no caso da mandioca de indústria, o ciclo (da cultura) é de um ano e meio, então dificilmente o ciclo de melhoramento será fechado em menos de 12 ou 13 anos”, observou.
Alano destacou que as pesquisas com mandioca de indústria do programa de melhoramento genético da Embrapa Cerrados visam à obtenção de variedades com elevada produtividade de amido, resistência à bacteriose e arquitetura de planta favorável à mecanização e aos tratos culturais, com maior altura da primeira ramificação e altura de planta de até 3 m. “No final, o material deveria ter produtividade e facilitar a vida do produtor”.
Em conjunto com os produtores, as cultivares foram selecionadas entre 13 clones elite avaliados por duas a três safras em Planaltina (DF); Bela Vista de Goiás (GO); Rio Pardo de Minas, Lagoa Formosa, Unaí e Uberaba (MG).
Alano apresentou detalhes técnicos sobre as principais características das três cultivares. Na BRS 417, a altura da primeira ramificação e da planta, além de favorecer a mecanização e os tratos culturais, permite maior taxa de multiplicação de manivas-sementes e a possibilidade de adensamento e consorciação de plantas. As raízes mais curtas favorecem a colheita mecanizada. Em experimentos, produziu em média 13.150 kg/ha de amido, com pico de produtividade de quase 25 mil kg/ha de amido.
Além da arquitetura de planta favorável à mecanização, a parte aérea das plantas da cultivar BRS 418 pode ser utilizada na alimentação animal. “Se submetida à poda aos 12 meses, após seis meses de rebrota, a planta dessa cultivar terá quase 17% de proteína na parte aérea”, afirmou Alano. Nos experimentos a média de produção de amido foi de 14.420 kg/ha, com pico de produtividade de 32 mil kg/ha de amido.
Considerada a mais rústica das três cultivares, a BRS 419 também tem arquitetura de planta favorável à mecanização. A produtividade média de amido nos experimentos foi de 13.527 kg/ha, com pico de 20 mil kg/ha. “Ela é rústica por se manter a estabilidade de produção em diferentes ambientes. Mas uma grande melhoria do ambiente não vai propiciar um aumento de produtividade tão grande”, explicou Alano.
O pesquisador informou que as cultivares estão em avaliação em outros locais com o apoio de parceiros em Minas Gerais, Goiás e no Mato Grosso. Quanto às perspectivas, estão o lançamento da cultivar de mesa BRS 429 para o Cerrado e a região Centro-Sul; a recomendação, para o Cerrado, da cultivar de indústria BRS 420, atualmente indicada para o Centro-Sul; o registro e proteção de uma nova cultivar de mandioca para a indústria de farinha e fécula; e o registro e proteção de uma cultivar de mandioca açucarada. Ainda para a atual safra, devem ser instalados novos experimentos de competição de 30 a 40 clones elite de mandioca de indústria em Rio Pardo de Minas e Bela Vista de Goiás.
Outra perspectiva apontada por Alano é a de fortalecer o mercado de genética certificada, comercializada por empresas parceiras licenciadas pela Embrapa. Ele lembra que a maniva certificada e de qualidade é um diferencial na produção de mandioca. “Se você quiser ter um material genético da Embrapa, procure um dos nossos parceiros certificados. E se quer comercializar esses materiais, procure a Embrapa”, recomendou. No momento, as empresas licenciadas para a distribuição das manivas-semente são a Clona-Gen, a Vivetech, a Plante Bem! (contatoplantebem@gmail.com) e Benedito Dutra Luz de Souza - ME.
Assista ao vídeo de divulgação tecnológica das cultivares aqui:
Licenciados
O chefe-adjunto e transferência de tecnologia Fábio Faleiro lembrou que a formação de uma rede de licenciados para produção, comercialização e promoção é uma parceria importante no processo de finalização tecnológica das cultivares. “Por meio de edital de oferta pública, a Embrapa licenciou empresas altamente qualificadas para ofertar material propagativo das cultivares de mandioca com qualidade sanitária, fisiológica e com garantia de origem genética. Isso é a base do sucesso da lavoura”, comentou.
Os quatro licenciados pela Embrapa para a comercialização e produção do material propagativo das novas cultivares participaram do lançamento e deram depoimentos. Alexandre Drefahl, proprietário da Clona-Gen, empresa licenciada da Embrapa desde 2008 para a produção de cultivares de abacaxi e desde 2017 para variedades de mandiocas de mesa. “Na área de mandioca, só trabalhamos com genética da Embrapa. Acreditamos no trabalho de melhoramento. São materiais de qualidade, inovadores e que trazem características superiores para a agricultura”, afirmou.
“Queremos agregar inovação na multiplicação desses materiais para disponibilização ao consumidor final”, apontou o sócio da Vivetech, Douglas Steinmacher, salientando a importância da sanidade do material propagativo para a manutenção da produtividade das cultivares.
Produtor de mudas no Pará e parceiro da Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA) desde 2005 e da Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA) desde 2017, Benedito Dutra acredita que as novas cultivares vão fortalecer não apenas os estados para os quais foram recomendadas, mas toda a fruticultura nacional. “Ficamos muito felizes porque vamos, juntamente com a Embrapa oportunizar aos nossos produtores rurais essas novas cultivares que, sem dúvida, irão melhorar o índice de produtividade tanto de raízes quanto de amido”, apostou.
“Agradeço à Embrapa por estar participando desse momento histórico, com o lançamento dessas cultivares tão importantes”, disse Fábio Cruvinel, sócio da Plante Bem!, empresa focada na agricultura orgânica.
Em seguida, os pesquisadores Josefino Fialho e Eduardo Alano responderam às perguntas encaminhadas pelos participantes encaminhadas pelo chat do canal da Embrapa.
Ao final do evento, Fialho foi homenageado pela chefia da Embrapa Cerrados pelo pioneirismo na pesquisa com mandioca na Unidade. “Sabemos que, para chegarmos a uma tecnologia, são décadas de pesquisa, e a equipe de mandioca tem contribuído com esse trabalho ao longo desse tempo. É com muita honra que fazemos esta homenagem”, disse Fábio Faleiro.
“Somos uma equipe bastante unida e com o objetivo comum de desenvolver a cultura da mandioca em benefício do pequeno produtor e da mandiocultura do País inteiro. Devemos continuar sempre unidos para a sustentabilidade da cultura na condição do Cerrado”, afirmou o pesquisador ao agradecer a homenagem.
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
Embrapa Cerrados
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