Fazendas da cadeia da carne que adotam tecnologias sustentáveis sequestraram mais carbono do que emitiram, aponta estudo
Fazendas da cadeia da carne que adotam tecnologias sustentáveis sequestraram mais carbono do que emitiram, aponta estudo
Um 'workshop' realizado na Embrapa Meio Ambiente, dia 6 de dezembro, serviu para apresentar resultados preliminares do projeto Validação de protocolo MRV (avaliação, relato e verificação) das Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e da sustentabilidade sócio ambiental, bem-estar animal e governança. O projeto visa validar um protocolo para avaliação e/ou mitigação de GEE, superando a adoção de sistemas produtivos sustentáveis nas fazendas, utilizando ferramentas desenvolvidas pela Embrapa e parceiros, passíveis de serem utilizadas em larga escala pela agropecuária nacional.
O projeto, uma iniciativa que abriga parceiros como a Embrapa (por meio da Plataforma ABC), Corteva Agriscience, Minerva Foods, World Resources Institute (WRI), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Uberlândia, Fundação Getúlio Vargas (FGV)-Agro e De Lollo Agronegócios, buscou calcular e contabilizar como fonte da produção em várias frentes de 33 fazendas, 22 delas ligadas à linha de obrigação da Minerva Foods e 11 parceiras da Corteva Agriscience, para calcular as ligações líquidas das diversas atividades agrícolas e pecuária das propriedades.
O cálculo foi realizado por meio do GHG Protocol Agrícola, os requisitos estão apoiados nas definições da UNFCCC (2014), como ferramenta para obter informações sobre a efetividade das ações de mitigação das mudanças climáticas, em níveis diversos de governança, sendo, portanto, capaz de expressar a realidade produtiva brasileira. A ferramenta foi atualizada pelo projeto, utilizando coeficientes de transporte mais recentes oriundos de publicações científicas e do Inventário Nacional de GEE, bem como a customização dos cálculos dos diversos sistemas produtivos das propriedades.
No processo, cada fazenda possui um mapa com a distribuição dos pontos de coleta e monitoramento do uso do solo, escolhidos com base em características como declividade, pedologia e uso atual e histórico.
A equipe de campo, com apoio da empresa De Lollo Agronegócios, coleta amostras de solo nos pontos indicados no mapa e registro da ação no aplicativo Agrotag , em fotos georreferenciadas, com avaliação posterior remota do uso por meio do Sistema de Análise Temporal da Vegetação – SATVeg , o que permite verificações de mudanças a qualquer tempo, bem como auditorias da adoção das tecnologias de baixo carbono, passíveis de certificação e crédito de Carbono.
Os resultados iniciais do projeto apontam que a maioria das fazendas analisadas sequestrou mais carbono do que emitiram. Outra característica apresentada dá conta que de todas as fazendas, que emitiram ou sequestraram, subordinados de prioridade abaixo da média brasileira, de 15,24 tonCO₂eq por mil cabeças de gado, segundo o último recurso nacional.
O pesquisador da Embrapa Eduardo Assad explica que todas as propriedades são adotantes de práticas sustentáveis e, se algumas figuram como emissoras, o fato está diretamente relacionado à limitação imposta pelo tempo de adoção em fazendas que adotam tecnologias de baixo carbono há mais de 20 anos. Para Assad, nesses casos, a alternativa é a adequação ambiental na propriedade, com a recuperação de APPs e Reserva Legal, e/ou reflorestamento e a introdução do componente florestal do sistema ILPF.
Celso Manzatto, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e coordenador da Plataforma ABC, explica que a ideia do projeto nasceu no ano de 2017, para atender à demanda inicial do Plano ABC, de uma metodologia de baixo custo capaz de atender as várias escalas, desde a propriedade rural até ao contexto mais amplo do Plano ABC.
Manzatto ressalta a crescente demanda dos consumidores e mercados sobre a sustentabilidade das cadeias produtivas de alimentos e o interesse dos produtores na adoção de práticas sustentáveis de produção capazes de alinhar ganhos de produtividade, redução de custos e sustentabilidade socioambiental. “A pecuária, embora seja uma grande emissora de GEEs, pode potencializar a mitigação de emissões e gerar mais benefícios ecossistêmicos e a diminuição da pressão por desmatamento, por meio da recuperação de pastagens e da adoção de sistemas integrados. Esta é a aposta da Minerva e Corteva no projeto”, pontua.
Entretanto, ele ressalta que este imenso potencial de mitigação na agropecuária brasileira depende do estabelecimento de um sistema de monitoramento eficiente e alinhado aos critérios científicos estabelecidos internacionalmente, para atender as demandas dos consumidores sobre a sustentabilidade da produção agropecuária.
Taciano Custódio, diretor de sustentabilidade da Minerva Foods, maior empresa exportadora de carne bovina da América do Sul, exalta a composição da parceria e o contexto de disrupção e inovação representados pelos resultados iniciais do projeto, capazes, segundo ele, de alavancar oportunidades, já que os números retratam uma cadeia produtiva já voltada para o mercado de exportação e contam a história de um produtor que investiu em tecnologia, em uma maneira mais sustentável de ocupar o território.
“Acredito que a adoção de pacotes tecnológicos, com genética, redução da idade de abate, rotação de pastagem, integração, lavoura pecuária, sistemas intensificados, como semiconfinamento, representam o produtor rural com foco não só em produzir alimentos para atender mercados, mas que está engajado no propósito de combate às mudanças do clima e em busca da sustentabilidade da cadeia pecuária da América do Sul”, disse.
William Marchió da Criatec Consultoria em Agronegócios lembra que o desafio inicial do projeto era contar boas histórias da pecuária e colocar números confiáveis e auditáveis nela. Conforme ele, o Brasil convive com uma legislação ambiental robusta, que a maioria dos produtores cumpre. E nesse cenário tropical, com uma agropecuária de vanguarda, ser sustentável é mais rentável que não ser. “A adoção de tecnologias de baixo carbono do Plano ABC são mais rentáveis para o produtor que aqueles métodos empregados na agricultura tradicional. Isso faz com que os produtores migrem para os meios tecnificados. Por essa razão, no início desse projeto tínhamos plena consciência de que a pecuária nacional já era sustentável,” completa.
Para Guilherme Foresti Caldeira da Coterva Agrocience, o projeto “pecuária de baixo carbono” é uma iniciativa extremamente relevante para futuro da pecuária nacional, não só no mercado interno, mas principalmente pelo mercado externo, impulsionada pela demanda crescente nos próximos anos, e não só por quantidade, mas principalmente por qualidade, no contexto da sustentabilidade, produzir cada vez mais uma menor área, com uma melhor qualidade, respeitando as pessoas e o meio ambiente. “O projeto é uma semente plantada, onde já começamos a perceber o sucesso, face aos resultados preliminares da implementação do protocolo liderado pela equipe da Embrapa, Fundação Getúlio Vargas e das outras instituições parceiras”.
Marcos Vicente (MTb 19.027/MG)
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