Pesquisadora da França visita agricultores familiares alagoanos para proposição de projetos em parceria com Brasil
Pesquisadora da França visita agricultores familiares alagoanos para proposição de projetos em parceria com Brasil
Claire Cerdan, pesquisadora francesa, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), esteve no Brasil de 9 a 21 de março, acompanhada por uma equipe da Embrapa Alimentos e Territórios e de instituições parceiras, para a realização de visitas a agricultores familiares alagoanos. O objetivo foi apresentar a realidade local à pesquisadora para a proposição conjunta de projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, com foco em desenvolvimento territorial e sustentabilidade social, no âmbito da cooperação Brasil-França.
Durante a missão, Claire teve a oportunidade de ver experiências em três regiões de Alagoas - Sertão, Agreste e Zona da Mata. A pesquisadora é especialista em estratégias de valorização de produtos agroalimentares associados a selos de qualidade, principalmente indicações geográficas, e em desenvolvimento territorial sustentável. Já realizou diversos trabalhos no Brasil, atuando nas regiões Nordeste e Sul do País.
Com apoio do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Alagoas, foram apresentados diversos casos, como o processo de coleta e manufatura do sururu, a qualificação de boleiras alagoanas, a produção de ostras, a agroindústria de derivados de jabuticaba, e iniciativas de ecoturismo e desenvolvimento territorial, entre outros.
Para Roberta Roxilene, diretora do IABS, o intuito é “consolidar e fortalecer esses projetos, que são bastante relevantes para a região, fomentando a geração de renda e a inserção socioprodutiva das famílias, para que tenham acesso ao mercado”. Vinícius Lages, diretor do Sebrae Alagoas, em reunião com os integrantes da missão, destacou a importância da cooperação institucional para fortalecer o turismo de experiência nos diferentes territórios e o empoderamento das comunidades por meio do empreendedorismo.
Essa visão multidisciplinar foi elogiada pela pesquisadora do Cirad, que enfatizou o caráter enriquecedor dessa troca de experiências, baseada num “grande trabalho de aproximação anterior” entre as instituições. Claire chamou a atenção para o importante papel desempenhado pelas mulheres, as relações sociais e a visão de território, a questão cultural e o potencial turístico observados nas visitas.
“A cultura é vista como um elemento vivo que evolui e reúne diferentes atores do setor produtivo das famílias, dos movimentos sociais e dos representantes do poder público. E o patrimônio cultural pode ser considerado um item essencial de um processo de criação de oportunidades de inclusão econômica e social e política das comunidades tradicionais de pescadores e agricultores”, ressaltou.
João Flávio Veloso, chefe-geral da Embrapa Alimentos e Territórios, reforçou a necessidade de integração entre as políticas públicas agrícolas e alimentares. Com isso, pode-se “promover uma agricultura local sustentável, promover o consumo de produtos tradicionais e estreitar as relações dos produtores com os consumidores”, avaliou o chefe. Para ele, também é fundamental valorizar os produtos agroalimentares ligados aos territórios e garantir o acesso à alimentação de qualidade para a população, especialmente a mais vulnerável.
Saiba mais sobre as atividades de campo realizadas:
Marisqueiras do sururuNo bairro Vergel do Lago, em Maceió (AL), foi possível conhecer os resultados já alcançados pelo projeto “Maceió Inclusiva”, que atuou juntamente às marisqueiras do Sururu. A iniciativa foi implementada pelo IABS, em conjunto com BIDLab, Prefeitura de Maceió, Braskem, Sebrae Alagoas, Agência de Fomento de Alagoas (Desenvolve) e a Universidad Politécnica de Madrid. Saíse Salomão, assistente social do IABS, explica que, por meio da economia circular, foi possível transformar a realidade das marisqueiras. Isso porque com o processo de manufatura do sururu, o volume de lixo gerado pelas conchas estava se tornando um problema ambiental. E por meio de ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação foi possível converter esse lixo em um subproduto da cadeia. Atualmente, a concha é triturada e usada na produção de cobogós, de textura para tintas de parede e até para adubos dos canteiros públicos de Maceió. As marisqueiras vendem as conchas para a microindústria instalada no local e são remuneradas com uma moeda social comunitária, o sururote. “Elas conseguem fazer compras nos estabelecimentos com esse dinheiro. Fazem feira, compram material de limpeza, já têm barbearia e podem ir lá cortar o cabelo do filho. É a mesma coisa do real. Um sururote é um real.”, explica Salomão. A gestão da moeda social é feita pelo Banco Comunitário da ONG Mandaver. Durante a visita às futuras instalações da Cooperativa de Trabalho das Marisqueiras Mulheres Guerreiras (Coopmaris), as marisqueiras apresentaram aos pesquisadores as principais demandas da comunidade, como por exemplo a obtenção do selo de qualidade do sururu, para que ele possa ter seu valor agregado e amplificar a rede de estabelecimentos que adquirem o produto, tal como a sua inclusão na merenda escolar. Fotos: Elias Rodrigues |
Boleiras das AlagoasClaire Cerdan participou, como integrante do comitê gestor, do lançamento do projeto “Boleiras das Alagoas”, realizado em 10 de março, pela Prefeitura de Santa Luzia do Norte (AL), em conjunto com a Prefeitura de Coqueiro Seco (AL). A iniciativa busca valorizar os produtos agroalimentares tradicionais e o saber-fazer, potencializando a gastronomia e o turismo, além de promover a inclusão socioprodutiva das comunidades. Com a coordenação da Embrapa Alimentos e Territórios (Maceió), prefeituras municipais, Instituto Federal de Alagoas (Ifal) e o Consórcio Intermunicipal do Sul de Alagoas (Conisul), a ação vai fortalecer a identidade dos territórios, contribuindo para a melhoria das condições de trabalho e renda dos profissionais. Implementado no âmbito do projeto Dom Helder Câmara, executado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com recursos do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), o projeto Boleiras das Alagoas está focado na formação de capacidades e competências de gestão e, ainda, no desenvolvimento de produtos e de estratégias, considerando a evolução do mercado. Confira a matéria de lançamento. |
Ostras da Vila PalateiaCom assessoria do IABS, uma equipe técnica da Embrapa acompanhou a pesquisadora do Cirad à Vila Palateia, em Barra de São Miguel (AL) que abriga a maior criação de ostras de Alagoas. Na reserva ecológica com 742 hectares de mangue e Mata Atlântica também é produzido mel e própolis vermelha. O IABS é responsável por comprar a produção de ostras, por meio do Projeto Ostras Depuradas, e oferece assistência técnica, apoio logístico e auxílio na comercialização e divulgação dos produtos aos membros da Associação Paraíso das Ostras. A iniciativa conta, ainda, com o apoio do Sebrae Alagoas, Prefeitura de Coruripe e Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento. A renda das famílias é complementada com passeios de barco na Lagoa do Roteiro, para contemplação da paisagem e degustação das ostras pelos turistas. Fotos: Elias Rodrigues |
Centro XingóNo Centro Xingó de Convivência com o Semiárido, localizado em Piranhas (AL), água não é problema. Na área de campo do Centro, a zootecnista do IABS, Juliana Holanda Vilela, mostrou aos pesquisadores diversas tecnologias instaladas com o objetivo de auxiliar os agricultores familiares na autossustentabilidade de suas propriedades, tal como cisternas para captação e armazenamento de chuvas, usinas de biogás a partir de dejetos animais, sistemas agroflorestais, dentre outras. Além de mostrar as tecnologias na prática, foi explicado a Cerdan que o Centro também realiza capacitações dos agricultores sobre os mais diversos temas do sertão. É o caso do Seminário Internacional de Convivência com o Semiárido, realizado, anualmente, com a parceria da Embrapa, e que, em 2022, estará em sua nona edição. A gestão técnica e operacional do Centro Xingó é de atribuição do IABS em parceria com a Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária, Pesca e Aquicultura de Alagoas (Seagri/AL). As duas instituições contam, ainda, com o suporte de um comitê gestor deliberativo, composto por: Sebrae Alagoas, Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (Iica), Embrapa, Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) e Prefeitura Municipal de Piranhas (AL). Fotos: Elias Rodrigues |
Ecoturismo e Desenvolvimento Territorial“Apesar da gente viver num sertão, no semiárido, estamos tentando sobreviver, tirar leite de pedra. E a ajuda de vocês é muito importante pra gente. Com o projeto do Iphan, e com a economia criativa do Sebrae, e agora com vocês, eu acredito que vamos realizar nossos sonhos.” Essas foram as boas-vindas dadas aos pesquisadores pela presidente da Associação Pegadas na Caatinga, Ana Paula Ferreira da Silva. Localizada no assentamento Nova Esperança, em Olho d´Água do Casado (AL), a associação tem buscado qualificação para os moradores sobre a importância da preservação dos sítios arqueológicos descobertos no local com vistas ao desenvolvimento sustentável do ecoturismo. Além disso, também realizou trabalhos de criação e confecção de produtos artesanais para comercialização na loja colaborativa da associação. Fotos: Elias Rodrigues |
Agricultura alternativaNa sede da Associação de Agricultores Alternativos (Aagra), em Igaci (AL), o grupo conversou com os atores locais sobre os principais desafios para o desenvolvimento da agricultura familiar alagoana. Eunice Jesus, uma das fundadoras da Aagra, explica que hoje a associação estrutura seus esforços em torno de quatro grandes programas: Gestão da água para beber e produzir; Programa de produção e comercialização dos produtos agrícolas; Educação em agroecologia; e Avanços da gestão institucional. “Esse último item, em especial, tem sido muito desafiador. Recebemos recursos de alguns programas. E trabalhar com dinheiro público não é fácil. É preciso se adequar e aprender a fazer isso com qualidade”, comenta Jesus. Com 32 anos de atuação, a associação também mencionou a importância da parceria com a Embrapa para o avanço na implementação do Sistema Participativo de Garantia (SPG), que permitiria que a Aagra fornecesse aos produtores o Certificado de Conformidade Orgânica, agregando valor aos produtos e ampliando o leque de mercados possíveis para comercialização. Foto: Elias Rodrigues |
Derivados de jabuticaba“O nosso vinho de jabuticaba é considerado ácido. Mas isso ocorre porque os parâmetros usados para medir são os da uva. E o que queremos é que a legislação também passe a atender às nossas necessidades. Tem que ser uma lei específica.” Salete Barbosa, da Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa (Coopcam), em Palmeira dos Índios (AL), explica que essa tem sido uma das lutas enfrentadas pela agroindústria de derivados de jabuticaba. Para transpor os diversos desafios, a cooperativa tem buscado auxílio de uma rede de parceiros, tal como a Embrapa, o Sebrae, e também de outros produtores de derivados de jabuticaba no País. Na oportunidade, Claire Cerdan compartilhou sua experiência e conhecimento em torno de um caso semelhante, o do vinho da uva Goethe de Urussanga (SC). A pesquisadora explicou que os produtores também enfrentaram dificuldades para obter o reconhecimento do produto. “E foi preciso uma mobilização forte. Tanto dos produtores das frutas, quanto das agroindústrias e também dos técnicos. E para vocês, uma troca de experiências com eles seria interessante porque permitiria aprender como montar uma estratégia conjunta para buscar esse reconhecimento na legislação”, explica Cerdan. Fotos: Elias Rodrigues |
Sobre o Cirad
O Cirad é um organismo francês de pesquisa agronômica e de cooperação internacional para o desenvolvimento sustentável das regiões tropicais e mediterrâneas, cuja carteira de projetos contempla mais de 100 países e 200 instituições. Dentre os países do Cone Sul, o Brasil possui lugar de destaque pelo fato de ser um dos que dispõem de maior lotação de pesquisadores residentes, em uma parceria de mais de 30 anos.
Com a finalidade de combater a pobreza, intensificar a agricultura e produção de biomassa energética, assim como reduzir os impactos das atividades humanas sobre a mudança climática e o meio ambiente, o Cirad foi criado em 1984 e abrange diversas áreas das ciências agronômicas, veterinárias, florestais e agroalimentares, em uma atuação multidisciplinar e integrada.
Veja abaixo vídeo com imagens das visitas
Nadir Rodrigues (MTb/SP 26.948)
Embrapa Alimentos e Territórios
Contatos para a imprensa
imprensa.alimentos.territorios@embrapa.br
Telefone: (82) 3512-3400
Raíssa Alencar (MTb/DF 11.818)
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Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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