27/04/22 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Polinização do açaizeiro integra agricultura e floresta

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Foto: Ronaldo Rosa

Ronaldo Rosa - O curso reuniu agricultores e técnicos nos municípios de Santa Bárbara e Tomé-Açu, no Pará

O curso reuniu agricultores e técnicos nos municípios de Santa Bárbara e Tomé-Açu, no Pará

Quanto mais floresta, mais polinizadores e mais açaí. A afirmação é um dos principais resultados do projeto Polinizaçaí que foram apresentados a produtores e técnicos nos dias 5 e 7 de abril em dois municípios paraenses. A conservação e restauração de áreas próximas aos plantios é uma importante estratégia para produzir esse fruto em terra firme. Isso porque as abelhas que polinizam a palmeira dependem da floresta para sobreviverem.

O projeto "Manejo de Polinizadores como apoio à produção sustentável de açaí na região do estuário amazônico" (400568/2018-7), coordenado pela Embrapa e financiado pelo CNPq em parceria com a Associação A.B.E.L.H.A., estudou o processo de polinização do açaizeiro (Euterpe oleracea) e revelou os principais agentes que transportam o pólen entre as touceiras. “O açaizeiro tem uma mega diversidade de polinizadores, como abelhas, moscas, vespas, besouros e formigas, mas são as abelhas nativas as principais responsáveis por esse serviço ecossistêmico”, explica a pesquisadora Márcia Maués, da Embrapa Amazônia Oriental.

Ela explica que o trabalho envolveu a introdução da abelha-canudo (Scaptotrigona aff. postica) em plantios de terra firme para avaliar o incremento na produção de frutos. “Essas abelhas podem compensar a polinização em áreas onde há uma menor quantidade de vegetação, mas são os polinizadores que estão na natureza, nas áreas de mata nativa próximas aos plantios, os mais importantes para a polinização do açaizeiro”, afirma a pesquisadora.

O projeto Polinizaçaí selecionou os dez polinizadores mais relevantes para o açaizeiro e disponibilizou em formato de cards com informações sobre o habitat, formação de colônias, onde constroem os ninhos, raio de voo, nível de importância para a polinização do açaí e estratégias de conservação e manejo desses insetos.

Acesse aqui: https://bit.ly/3MCz0lI

Mais floresta, mais polinização

A maior parte das abelhas identificadas pela equipe do projeto ainda não pode ser manejada em caixas e introduzidas nos plantios, elas dependem da floresta para sobreviverem. Isso porque é nas árvores grandes que constroem seus ninhos e nas flores de outras plantas que buscam alimento fora do pico de floração do açaí.  “O produtor não precisa olhar para uma mata nativa como perda de espaço. No caso do açaí e da polinização, essas áreas representam a maior fonte dos seus polinizadores, que são as abelhas e outros insetos”, afirma Alistair Campbell, pesquisador colaborador do projeto Polinizaçaí.

Campbell ressalta ainda que as áreas de floresta, previstas na legislação ambiental (Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal), trabalham junto com as áreas de produção agrícola para melhorar a produtividade dos açaizeiros.

Um exemplo da necessidade de manter grandes árvores e vegetação nas áreas de plantios ou próximas a eles, é a abelha olho-de-vidro (Trigona pallens). “Trata-se de uma das abelhas mais importantes na polinização do açaí e que não pode ser manejada”, explica o pesquisador Cristiano Menezes, da Embrapa Meio Ambiente. Ele ressalta que essa espécie faz seus ninhos em ocos e raízes de árvores que só são encontradas em áreas de floresta ou em árvores remanescentes da floresta original, “então para ter essa abelha polinizando o açaí é preciso manter a vegetação próxima aos plantios”, acrescenta.

O agricultor Michinori Konagano, de Tomé-Açu (PA), vê o serviço de polinização como mais um insumo da produção de açaí em terra firme. A área de 80 hectares de açaí irrigado é uma vitrine para os produtores da região. “Não adianta ter um grande número de plantas por hectare com boa adubação e irrigação se não tiver o serviço de polinização que é prestado pelas abelhas”, conclui o produtor.

Já para Orleans Mesquita, também agricultor de Tomé-Açu, a conservação da vegetação próxima ao plantio é imprescindível. “Para uma boa produtividade, temos que conversar nossas matas para que as abelhas encontrem alimento, abrigo e estejam sempre presentes”, acrescenta.

Cursos reúnem produtores de açaí e criadores de abelhas

Dois eventos realizados em áreas de produtores parceiros do projeto Polinizaçaí marcaram a entrega de resultados aos agricultores e técnicos. O primeiro, dia 5 de abril, em Santa Bárbara, região Metropolitana de Belém; e o segundo, dia 7 de abril, em Tomé-Açu, região Nordeste Paraense. Os participantes contaram suas experiências com o cultivo do açaí em terra firme e conheceram práticas para conservar e manejar os principais polinizadores do açaizeiro.

“É um momento importantíssimo de troca de informações e conhecimentos em que a pesquisa responde a demandas vindas dos agricultores, mais especificamente de plantadores de açaí, para que melhorem sua produtividade, seu manejo e principalmente valorizem cada vez mais as abelhas”, afirma Ana Assad, diretora-executiva da Associação A.B.E.L.H.A.

A agricultora Josiane Saldanha, do município de Santa Bárbara (PA), que via as abelhas com uma ameaça para as pessoas e para agricultura, mudou de opinião depois que conheceu o trabalho. “A gente acabava destruindo os ninhos por não ter um conhecimento melhor, mas hoje eu sei o valor que as abelhas têm para o açaí. Elas fazem muito por nós e também precisamos cuidar mais delas para termos nossa produção”, afirma.

Os cursos foram realizados com o apoio da Associação A.B.E.L.H.A., Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Pará (Sedap), dos produtores Fernando Miranda (Santa Bárbara,  PA) e Michinori Konagano (Tomé-Açu,  PA) e do projeto Transferência de tecnologias da cultura do açaí de terra firme, que integra o programa Bioeconomia Brasil – Sociobiodiversidade, por meio de parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Embrapa.

Polinização como insumo agrícola

Para Kamila Leão, diretora de desenvolvimento agropecuário da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Pará (Sedap) e pesquisadora colaboradora do Polinizaçaí, é importante que cada vez mais plantadores de açaí conheçam o serviço de polinização prestado pelas abelhas. “Até pouco tempo não se ouvia falar da polinização como mais um insumo agrícola e esse serviço tem um impacto grande na cadeia produtiva do açaí. Nosso objetivo é fortalecer a meliponicultura e apicultura no estado e integrá-las à cadeia produtiva do açaí”, acrescenta.

Prova de que a integração do açaí com as abelhas dá certo é a experiência de Joaquim Cunha, que é meliponicultor (atividade de criação de abelhas-sem-ferrão) e produtor de açaí do município de Acará, no Pará. Ele tem seis hectares de açaí e cria diferentes espécies de abelhas-sem-ferrão.  

“Quando a informação chega, a gente começa a perceber e observar mais as árvores na propriedade, os ninhos e o mundo ‘invisível’ das abelhas”, conta. Ele diz que muitas vezes o agricultor quer aumentar seu plantio de açaí, mas sem observar que pode aumentar a produção sem abrir novas áreas. “Quando conhecemos as abelhas e a importância delas para a produção de frutos, percebemos na prática que é melhor manter a mata do que derrubar para plantar mais açaí”, finaliza o agricultor.

Ana Laura Lima (MTb 1268/PA)
Embrapa Amazônia Oriental

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