Semana do Clima 2022 aborda alimentação e economia circular
Semana do Clima 2022 aborda alimentação e economia circular
Foto: Arquivo Embrapa
Gustavo Porpino, analista da Embrapa, Liz Goodwin, diretora do WRI, e Máximo Torero, economista chefe da FAO
A Semana do Clima 2022, realizada em Nova York, Estados Unidos, de 19 a 25 de setembro, contou com a participação da Embrapa. Um dos maiores eventos internacionais sobre a crise climática, a NYC Climate Week reúne líderes de empresas, governos e da sociedade civil, com o intuito de ampliar as discussões referentes à agenda climática e inspirar pessoas a se engajarem na temática.
A programação abrangeu uma série de palestras e mesas-redondas para tratar sobre questões relacionadas ao clima, ao meio ambiente, à segurança alimentar, à geopolítica e à economia. Este ano, os debates giraram em torno de dez temas principais: meio ambiente construído, energia, justiça ambiental, transporte, finanças, vida sustentável, natureza, política, indústria e alimentação.
O analista Gustavo Porpino, da Embrapa Alimentos e Territórios, participou em vários fóruns. “Durante a segunda quinzena de setembro, quando ocorre a Assembleia Geral da ONU, Nova York recebe diversos eventos alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Neste ano, durante a chamada NYC Climate Week, vários eventos abordaram as temáticas de alimentos, alimentação e economia circular”, conta o analista.
Porpino marcou presença nos seguintes eventos: painel sobre cidades e economia circular, organizado pelo governo da Dinamarca, no Citizen Sustainability Summit; reunião de networking da rede Champions 12.3, rede em que atua na Assembleia como representante da Embrapa; evento da rede Champions 12.3, organizado pelo World Resources Institute (WRI) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO); Forum Crusonia, sobre alimentação e segurança alimentar; evento Cool Food Initiative, do WRI; e painéis do Climate Group sobre geopolítica dos alimentos, alimentos e mudanças climáticas.
“Os temas de economia circular dos alimentos, produção carbono neutro, dietas plant-based e consumo focado na produção local estavam presentes em muitas discussões. Quando observamos o varejo de alimentos, em Nova York, estes temas também se sobressaem. Há muita comunicação dirigida ao consumidor nos pontos de venda sobre essas temáticas. Também chama a atenção o amplo crescimento dos mercados de produtores nos espaços públicos e a grande variedade de alimentos produzidos nas áreas periurbanas”, destaca.
A secretária de alimentação de Nova York, Kate McKenzie, confirmou participação em um painel no 8º Fórum Global do Pacto de Milão sobre Política Alimentar Urbana, previsto para ocorrer no Rio de Janeiro, de 17 a 19 de outubro. O painel sobre alimentação escolar é coordenado pela Embrapa Alimentos e Territórios e conta com apoio da FAO, Sebrae Alagoas, Instituto Comida do Amanhã e Embrapa Agroindústria de Alimentos.
Saiba mais sobre as discussões apresentadas nos eventos em NYC:
Políticas públicas alimentares
As políticas públicas alimentares em Nova York tiveram incremento orçamentário nos últimos três anos, para
fazer frente ao aumento de demanda pelos bancos de alimentos, despensas comunitárias (food pantries) e cozinhas solidárias (soup kitchens). O prefeito de Nova York, Eric Adams, considera que a alimentação deve ser um eixo central da administração pública municipal, por conectar e impactar positivamente a saúde, a economia, a educação e o turismo. No âmbito federal dos EUA, foi lançado o programa “Feds feed families”, uma iniciativa para incentivar servidores federais (Feds) a se engajar em trabalhos voluntários nas despensas comunitárias e apoiar programas de doações de alimentos. “Diversas igrejas e centros comunitários têm funcionado como despensas comunitárias, e iniciativas de gastronomia social também aumentaram para fazer frente ao aumento da insegurança alimentar”, comenta Porpino.
A venda direta para o consumidor pelos produtores rurais das áreas periurbanas, por meio de feiras livres (greenmarkets) e programas Comunidades que Suportam a Agricultura (CSA) também tiveram amplo crescimento durante a pandemia, constata Porpino. Nova York conta com 22 dos chamados greenmarkets apenas na ilha de Manhattan, e 35 em outros bairros. “Assim como no Brasil, além das hortaliças orgânicas, cresceu a oferta de alimentos artesanais e produzidos localmente, tais como queijos, iogurtes, pães, cervejas, mel e até cafés especiais”, cita.
Citizen sustainability summit
Majken Kalhave, diretora da Creative Denmark, destacou que o Blox Hub, um ecossistema em Copenhague que reúne empresas, instituições de pesquisa e órgãos públicos com foco em soluções para urbanização sustentável, tem três eixos de ação prioritários: 1. Zerar geração de resíduos e fortalecer upcycling, 2. Fortalecer a natureza e a biodiversidade urbanas, 3. Atuar na dimensão social da circularidade com enfoque na mudança comportamental das pessoas.
“Temos como preceito que a criatividade deve servir para melhorar a qualidade de vida”, salienta Majken. Para Christian Bason, CEO do Danish Design Center, as cidades precisam evitar os silos da administração pública. Ações de economia circular e de alimentação precisam integrar várias áreas e serem pensadas de forma sistêmica.
Champions 12.3
O embaixador holandês Hans Hoogeveen, diretor do conselho da FAO, salientou que os níveis atuais de insegurança alimentar somados às mudanças climáticas são o maior desastre humanitário desde a Segunda Guerra Mundial. “Temos 860 milhões de pessoas com fome, e no próximo ano podem ser mais de 1 bilhão. Precisamos colocar segurança alimentar e mudanças climáticas no mais alto nível político. É nosso dever levar habilidades para as nações e o setor privado implementarem ações.”
Para Hoogeveen, o desperdício de alimentos e a fome são problemas complexos, mas com soluções tangíveis. O embaixador considera que investir em capacidade de ação, principalmente para nações africanas, e transferir tecnologias têm papel importante, mas ele enfatiza que os governos dos países e as ONGs também precisam atuar conjuntamente por meio de políticas públicas e programas.
Durante esse evento, a diretora do WRI, Liz Goodwin, apresentou o relatório anual sobre o progresso do ODS 12.3 (SDG Target 12.3 on Food Loss and Waste: 2022 Progress Report), que trata do consumo e produção responsáveis. O ODS 12.3 visa, até 2030, reduzir pela metade o desperdício global de alimentos per capita no varejo e pelos consumidores, além de reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e fornecimento, incluindo perdas pós-colheita.
Também foi lançado o guia “Changing behavior” para estimular a mudança de comportamento e ajudar mais pessoas a desperdiçar menos comida (Champions 12.3 Consumer Guide). Liz destacou que 95% das 50 maiores empresas do setor de alimentos já possuem metas alinhadas ao ODS 12.3. Deste total, 40% iniciaram a mensuração para reportar resultados.
Dentre os destaques anuais, Liz disse que grandes empresas estão engajadas em parcerias com a Global Food Bank Network, o que contribui para fortalecer o alinhamento do enfrentamento ao desperdício com o combate à fome. “Consideramos importante que países populosos, como o Brasil e a Índia, passem a mensurar e reportar os dados sobre perdas e desperdício de alimentos”, destacou Liz. Segundo ela, tanto os países quanto as empresas precisam seguir a lógica de estabelecer metas, mensurar e agir.
Para Máximo Torero, economista chefe da FAO, os bancos de alimentos e os programas de alimentação escolar são políticas importantes para o enfrentamento ao desperdício e à fome. “Precisamos pensar numa solução como se fosse a Amazon dos bancos de alimentos, para resolver o problema de estoque”, comentou.
Segundo o economista, atuar no enfrentamento do desperdício, que ocorre no final da cadeia produtiva, é muito significante por representar 17% de tudo o que se perde e pela possibilidade de se poder converter parte do que seria jogado fora para o enfrentamento da fome. “Atuar no enfrentamento do desperdício de alimentos gera trade-offs positivos, um caso único nas questões complexas dos sistemas alimentares”, disse.
O diretor do Banco Mundial, Martien Van Nieuwkoop, considera que os governos ainda precisam perceber melhor a ligação do desperdício de alimentos com as mudanças climáticas, e que mais parcerias público-privadas e melhor integração entre os elos da cadeia produtiva de alimentos são ações importantes.
A rede Champions 12.3 é um grupo que coordena a coalizão global “Food is never waste”, lançada na Cúpula dos Sistemas Alimentares da ONU em 2021 e da qual o Brasil é signatário. A rede, alinhada ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12.3
(Redução de perdas e desperdício de alimentos) tem representantes da FAO, WRI, Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), ONU Meio Ambiente, Comissão Europeia, WRAP, entre outras instituições públicas e privadas.
Cool Food Initiative
Em sua palestra no evento Cool Food Initiative (www.coolfood.org), o prefeito de Nova York, Eric Adams, salientou que iniciou a maior transformação da sua vida, em 2016, por meio da alimentação saudável. “Tinha um pacote americano completo: colesterol alto, pressão alta e fui diagnosticado com diabetes depois de começar a ter problemas de visão. Consegui reverter esse quadro sem remédios, apenas adotando uma dieta mais saudável. Para mim, alimento é medicina, e temos procurado usar a força de Nova York para persuadir as pessoas a se alimentarem de modo mais saudável”, enfatizou.
Para ele, investir em políticas de alimentação é atuar para mitigar as mudanças climáticas, gerar renda para os produtores locais e promover saúde para a população. O prefeito salientou, ainda, que fortaleceu a oferta de frutas e hortaliças na alimentação escolar e iniciou programa para incrementar as refeições servidas em hospitais.
“O componente que falta para as políticas de saúde é a ciência comportamental. Cientistas comportamentais podem ajudar a mudar o comportamento das pessoas e os programas precisam ser baseados em evidências científicas”, ressaltou. “Nosso maior desafio é fazer com que as pessoas possam ter suas vidas de volta por meio da alimentação saudável. As comunidades mais pobres são as que mais sofrem com obesidade, doenças cardíacas e pressão alta”, afirmou o prefeito.
Gustavo Porpino (MTb 648/RN)
Embrapa Alimentos e Territórios
Nadir Rodrigues (MTb 26.948/SP)
Embrapa Alimentos e Territórios
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