Experiências turísticas buscam valorizar comunidades de marisqueiras e povos tradicionais
Experiências turísticas buscam valorizar comunidades de marisqueiras e povos tradicionais
Foto: Nadir Rodrigues
Lucas Diniz, da Lab Turismo, e a marisqueira Sueli Correia, coletam mariscos na trilha do manguezal
Uma caminhada pelo manguezal de Barra do Sirinhaém marcou o início das oficinas de turismo de experiência e de elaboração do plano estratégico de valorização da paisagem alimentar local realizadas nesta semana pela Embrapa Alimentos e Territórios, com apoio do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA-PE), da Prefeitura Municipal de Sirinhaém e da Lab Turismo. As atividades, que integram o projeto de inovação social Paisagens Alimentares, buscam criar estratégias para valorizar o trabalho das associações de marisqueiras e de uma comunidade quilombola da área de proteção ambiental de Guadalupe, em Pernambuco.
O intuito é capacitar lideranças e representantes dessas associações para a promoção de ações relacionadas ao turismo de base comunitária, propiciando a melhoria de renda e a inclusão social. O projeto apoia-se no conceito de “paisagens alimentares” com foco na alimentação saudável, na sustentabilidade, na cultura e na história das pessoas e dos territórios, motivado pelo crescimento da busca por um turismo diferenciado e imersivo.
Coordenado pela Embrapa, oferece assessoria e capacitação a comunidades selecionadas com base em critérios técnicos de municípios em Alagoas, Sergipe e Pernambuco. Por meio das oficinas, estão sendo elaboradas estratégias para construção de experiências que levem os turistas a vivenciarem o dia a dia das famílias.
Nessas experiências, o objetivo é oferecer aos turistas a compreensão do sistema alimentar do território alicerçado na história das pessoas e dos lugares visitados, com suas tradições, cantigas, danças e comidas típicas. As integrantes da Associação de Marisqueiras de Sirinhaém (Amas), que fazem as trilhas pelo manguezal com estudantes e turistas, querem que os visitantes da comunidade tenham uma experiência de turismo imersivo que vai do mangue à mesa, ou seja, da coleta dos crustáceos ao preparo e degustação de receitas tradicionais.
Assim, a ideia é aprimorar o atendimento oferecido e talvez até ampliar a oferta de serviços, que hoje é voltada principalmente para grupos de crianças e jovens. O passeio começa com as mulheres levando os visitantes a percorrerem uma trilha pelo mangue, onde coletam mariscos como aratus, sururus, marisquinhos e ostras. No percurso, além de contar as histórias do povoado, as marisqueiras assobiam e cantam para atrair os mariscos.
“Chega aratu, chega aranhola, pega na linha que eu quero ir me embora!”. É assim que a secretária da Amas, Ana Sueli do Nascimento Correia, vai chamando os aratus e enchendo o balde. Sueli, Lenira Maria dos Santos, Josinete Francisca Acioli, Sônia Maria do Nascimento, Lúcia Maria de França e Josefa Helena de Oliveira demonstraram a sua rotina durante a experiência ocorrida em 31 de maio, que foi acompanhada por uma equipe da Embrapa, do Sesc Guadalupe, da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo de Sirinhaém e da Lab Turismo. Ao final da caminhada, as iguarias são preparadas para degustação dos visitantes, à sombra de árvores, numa área ao lado da Associação, exatamente em frente ao manguezal.
Na Associação da Comunidade Quilombola Engenho Siqueira de Rio Formoso (ASQES), os integrantes também querem aperfeiçoar o modo de receber os turistas e oferecer atrações únicas relacionadas a rodas de diálogo para contação de histórias das famílias e dos pratos típicos do lugar, para que os visitantes tenham momentos muito diferentes do que estão acostumados em seu dia a dia, de acordo com Cláudio Pajeú, Maria do Carmo do Nascimento e Rodnei Batista da Silva, da ACQES, que participaram das capacitações. A comunidade tem tradição no cultivo de produtos agroecológicos e na produção de receitas que passam de geração a geração.
Plano de ações engloba oferta, demanda e governança
Durante as oficinas de turismo de experiência e do plano estratégico de valorização das paisagens alimentares, realizadas em 31 de maio e 1° de junho, no Centro de Educação Ambiental do Sesc Guadalupe, representantes das duas associações debateram um plano de ações a serem implementadas a curto prazo para que sejam capazes de concretizar seus objetivos. Eles pautaram as discussões nos três pilares do turismo: oferta, demanda e governança, e também refletiram sobre a visão de futuro que vai nortear a elaboração e a consecução do plano estratégico.
Para Richard Alves, diretor executivo da Lab Turismo, responsável pelo acompanhamento técnico das atividades, “o foco do projeto é valorizar a paisagem alimentar, a relação das pessoas com aquilo que cultivam e extraem da natureza”. Ele acredita que esse tipo de turismo pode efetivamente ajudar a desenvolver os territórios e gerar renda e ganho, conciliando desenvolvimento e sustentabilidade. “É uma responsabilidade porque estamos lidando com os sonhos, a vida das pessoas”, enfatizou.
A troca de conhecimento e de experiências entre as comunidades é um dos fatores que favorece a concretização das propostas, de acordo com o turismólogo Lucas Diniz, consultor de projetos da Lab Turismo e um dos facilitadores das oficinas. Na visão da turismóloga e diretora de projetos da empresa, Marcela Saad, outra facilitadora, o turista tem muita expectativa e precisa ser acolhido. Por isso, nessas oficinas, um dos propósitos foi pensar, com as comunidades e lideranças, qual é a melhor forma de receber os visitantes. “O turismo é encantador, mas desafiador”, apontou ela.
Então, a partir de agora, a equipe técnica, em conjunto com os participantes das capacitações, vai definir um cronograma de trabalho, com responsabilidades e atividades a serem executadas para a implementação das experiências turísticas. O objetivo é melhorar cada vez mais os serviços com base em uma proposta de turismo responsável e sustentável. Para isso, ainda estão previstas novas capacitações referentes à preservação e conservação do meio ambiente, higiene e manipulação de alimentos, cooperativismo e associativismo.
“Esse projeto vai trazer muito conhecimento, vai dar um norte, dizer para onde iremos, para fortalecer aquilo que estamos aprendendo juntos”, afirmou Emerson Pires, secretário de Meio Ambiente e Turismo de Sirinhaém. Segundo ele, a prefeitura do município tem procurado desenvolver o turismo de base comunitária cada vez mais, apoiando as comunidades, pois o turismo é uma ferramenta econômica importante para Pernambuco.
Maviael Fonseca de Castro, da área de assistência técnica e extensão rural do IPA, ressaltou a importância da parceria e da temática voltada, principalmente para a valorização das mulheres. Já o coordenador do projeto, Aluísio Goulart, supervisor de Inovação e Tecnologia da Embrapa Alimentos e Territórios, destacou o comprometimento como um dos elementos fundamentais para o sucesso das iniciativas. “Queremos que essa paisagem traga mais frutos, mais alimentos para vocês”, destacou.
O projeto Paisagens Alimentares tem apoio financeiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Conta com a parceria do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA-PE), Secretaria de Estado de Turismo de Sergipe (Setur-SE), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Fundação Municipal de Cultura e Turismo de São Cristóvão (FUMCTUR), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio - Costa dos Corais), além das prefeituras municipais de Indiaroba, Olho d'Água do Casado, Palmeira dos Índios, Piranhas, Rio Formoso e Sirinhaém.
Nadir Rodrigues (MTb 26.948/SP)
Embrapa Alimentos e Territórios
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