Centro de pesquisa produz padrões mais baratos para laboratórios
22/12/15
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Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
Centro de pesquisa produz padrões mais baratos para laboratórios
A Embrapa Pecuária Sudeste (SP) acaba de lançar dois materiais de referência (MR) que vão auxiliar no controle de qualidade de laboratórios agropecuários de todo o Brasil. Trata-se de padrões cujas composições são conhecidas com exatidão e assim testam a acurácia das análises laboratoriais, eles podem ser dos mais diversos tipos e servem para aferir a precisão e a qualidade de processos, equipamentos e instrumentos. Um dos materiais recém-desenvolvidos serve de padrão para análises de solo e o outro, amostra de fígado bovino, atende analistas de nutrição animal. Eles se somam a dois materiais que a mesma Unidade lançou há dois anos: suplemento mineral para bovinos e do capim de Brachiaria brizantha cv. Marandu.
O desempenho da produção agropecuária no País depende de informações fornecidas pelos laboratórios. A segurança dos alimentos que chega à mesa do consumidor é resultado de vários processos de avaliação. Em todas as etapas existe a necessidade de análises químicas, importantes para averiguar a qualidade nutricional e detectar a presença de contaminantes.
De acordo com a pesquisadora Ana Rita Nogueira, os materiais de referência são usados para garantir que medidas químicas sejam comparáveis entre laboratórios e assegurar resultados uniformes e confiáveis. "A precisão de resultados é essencial para a segurança, principalmente quando se trata de alimentos. Os materiais de referência são uma medida-padrão. Resultados podem ser obtidos por diferentes laboratórios e comparados pelo valor conhecido da medida-padrão, assim como o metro e o quilo", explica Ana Rita.
Os primeiros materiais de referência desenvolvidos no País para amostras relacionadas à agropecuária foram os de Brachiaria brizantha cv Marandu e de suplemento mineral para bovinos. A Embrapa e outras instituições parceiras, como o Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), foram as primeiras a pesquisar este tipo de material no País. Outro material, de fosfato de rocha, empregado na fabricação de fertilizantes, está em fase de finalização e deve ser disponibilizado no início de 2016. Os produtos são elaborados e disponibilizados gratuitamente.
Redução de Custos
No Brasil, ainda são poucos materiais disponíveis, principalmente para o setor agropecuário. Geralmente são importados pelos laboratórios a um custo elevado. Por exemplo, 20 gramas do material de referência certificado de fígado bovino, usado para verificar o desempenho de análise de alimentos, produzido pelo National Institute of Standards and Technology (NIST) tem um custo de U$550,00 nos Estados Unidos. No entanto, com impostos e taxas de importação, o valor é ainda maior. A espera pelo produto também é relativamente longa, cerca de 60 dias, e o processo não é simples, existem dificuldades e restrições legais à importação. Outro problema é que muitas vezes possuem características distintas e não adequadas para atender às necessidades brasileiras. Assim, os materiais produzidos pela Embrapa garantem redução de custos para os laboratórios agropecuários e ainda atendem a exigências específicas.
Para a gerente da qualidade Maura Amparo, do Laboratório Exata, com o dólar em alta, é inviável hoje a aquisição desses produtos. Em 2014, última compra feita pela empresa, 50 gramas de MRC Soy Flour (farinha de soja) foram adquiridas a um custo de R$ 5.364,56. "Atualmente, com o preço do dólar, o valor final chegaria a R$ 6 mil", diz. Maura também destaca a complexidade do processo de importação, cheio de burocracia e demora na entrega. O laboratório, que fica em Jataí, no Estado de Goiás, utiliza os materiais da Embrapa disponíveis. Além disso, participa dos ensaios colaborativos para validar novos produtos em desenvolvimento.
A aquisição de 50 gramas de MR de solo custou ao Instituto Federal da Bahia (IFBA), campus de Valença, cerca de R$ 6 mil, por causa dos altos valores pagos pela importação desse tipo de produto. Para o especialista Caio Gromboni, apesar de o consumo na instituição não ser muito elevado, dependendo dos projetos em andamento, o MR de solos da Embrapa propicia economia ao IFBA, além de atender às necessidades específicas do instituto.
A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) também recebeu materiais de referência da Embrapa. De acordo com a pesquisadora Ângela Fonseca Rech, da Estação Experimental de Lages (SC), os materiais são utilizados para garantir a qualidade analítica do laboratório de pesquisa em nutrição animal (LNA) da instituição. "Com eles verificamos exatidão dos resultados das análises. Antes trabalhávamos apenas com padrões internos. Porém, avaliávamos somente a precisão dos resultados, não tínhamos como avaliar a exatidão", explica Ângela.
Produção
O desenvolvimento de materiais de referência, além de atender à demanda brasileira e diminuir custos e importações, é um avanço estratégico. É importante ter controle do processo de produção e que ele seja continuamente aprimorado para atender às necessidades específicas brasileiras.
Os materiais produzidos seguem todas as etapas estabelecidas pelas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), internacionalmente aceitas no preparo, envase, avaliação de homogeneidade, testes de estabilidade em curto e longo períodos, entre outros requisitos. Até a obtenção do resultado final, são realizados vários testes com diferentes técnicas. O material "candidato" também é enviado a laboratórios do setor privado, instituições de pesquisa estatais e universidades que participam de ensaios colaborativos para validação dos produtos.
De acordo com o químico Gilberto Batista de Souza, coordenador técnico dos Ensaios de Proficiência para Laboratórios de Nutrição Animal (EPLNA), da Embrapa, é importante ter um controle rígido da qualidade dos procedimentos realizados nos laboratórios e das análises dos alimentos utilizados para nutrição animal. "Participar de Ensaio de Proficiência garante a qualidade de análises de rotina e fornece informações para que o laboratório possa detectar resultados com desempenhos insatisfatórios e aplicar ações corretivas ou preventivas, alcançando um percentual mínimo de acertos para atingir níveis de desempenho satisfatórios", ressalta Souza. Segundo ele, os resultados de análises são ferramentas que auxiliam a tomada de decisão nos mais diversos sistemas de produção e erros podem acarretar prejuízos para toda a cadeia produtiva.
Para a pesquisadora Regina Grizotto, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), o Ensaio de Proficiência para Laboratórios colabora para melhorar o desempenho dos laboratórios e propicia mais confiança nos resultados. Todas as instituições participantes dos ensaios se beneficiam da qualidade dos resultados gerados.
Preparo complexo
O preparo e a caracterização dos materiais de referência também são procedimentos complexos. Esse é um dos motivos que faz com que o preço final seja alto e, muitas vezes, inviabilize seu uso. Para o seu desenvolvimento é feita uma pesquisa para conhecer a necessidade dos laboratórios, em função da demanda de análises. Depois é escolhido o fornecedor, que pode ser a própria unidade produtora do material ou adquirido comercialmente. Normalmente é necessário um volume grande, para que o trabalho valha a pena.
O material passa por diferentes tratamentos, como secagem e moagem, e é misturado em equipamentos adequados, para ficar homogêneo. Segundo Ana Rita, isso é feito para garantir que qualquer porção seja representativa da amostra total, porque as análises são realizadas com quantidades muito pequenas. Avalia-se o tamanho das partículas e, então, o material é embalado em frascos, previamente limpos e descontaminados.
Também são feitos testes para conhecer a resistência à umidade, a diferentes temperaturas (observada durante o transporte para os laboratórios) e ao tempo (prazo de validade). A homogeneidade é analisada para verificar se todos os constituintes apresentam resultados semelhantes entre os frascos e de um único frasco, para avaliar a homogeneidade da amostra. Passada essa fase, vários laboratórios colaboradores recebem o produto e testam sua eficácia com repetições predefinidas (normalmente de seis a dez). Análises estatísticas são utilizadas para avaliar os resultados fornecidos pelos diferentes laboratórios, considerando as incertezas que podem ocorrer no processo. Tudo é documentado e só então os materiais de referência são disponibilizados aos interessados.
"Todo esse processo demanda tempo, dedicação e cuidado na realização das diferentes etapas. Normalmente são utilizados moinhos e homogeneizadores de alto custo, além de equipamentos de ponta, normalmente não encontrados em um único laboratório", destaca a pesquisadora da Embrapa. Ela ressalta ainda que a produção de materiais de referência é um trabalho executado em equipe, que agrega competência dos envolvidos e comprometimento, tanto em relação à qualidade dos resultados quanto ao cumprimento dos prazos, para que sejam produzidos para atender às diferentes necessidades.
Para Ana Rita, o desafio é produzir materiais que atendam às necessidades dos laboratórios e que sejam estáveis, ou seja, que durem um tempo que compense todo investimento envolvido, e sejam homogêneos, garantindo resultados confiáveis.
Outra preocupação dos pesquisadores envolvidos no desenvolvimento de materiais de referência é formar alunos na área metrológica, aptos a inserir os conceitos de qualidade nos laboratórios que venham a atuar.
Materiais de Referência
A avaliação dos teores de contaminantes na área agropecuária, como em solo e plantas, permite verificar se existe algum risco de incorporação de elementos tóxicos na cadeia alimentar, de uma forma geral.
No caso dos primeiros materiais de referência produzidos em 2013, de braquiária e de suplemento mineral, cerca de 30 instituições públicas e privadas receberam as amostras. Os materiais de referência são disponibilizados gratuitamente a interessados. A solicitação deve ser feita online no endereço.
Os dois novos materiais também estão à disposição dos laboratórios. Base para a produção agrícola, a demanda por análises de solo é grande. O material produzido se destina principalmente a laboratórios que executam análises ambientais, uma vez que apresenta teores conhecidos de contaminantes e macro e micronutrientes presentes no solo. Já o de fígado bovino possibilita aos laboratórios que executam análises em alimentos, tais como carnes, avaliar a qualidade dos resultados obtidos e, se necessário, executar ações reparadoras imediatas.
Gisele Rosso (MTb 3091/PR)
Embrapa Pecuária Sudeste
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