Turismo de base comunitária do Nordeste é destaque na Ruraltur MS
Turismo de base comunitária do Nordeste é destaque na Ruraltur MS
Cinco experiências de turismo de base comunitária do Nordeste chamaram a atenção dos visitantes que passaram pelo estande da Embrapa durante a 19ª Ruraltur, feira nacional de turismo realizada de 12 a 14 de dezembro, em Campo Grande (MS). Mulheres de comunidades de Alagoas, Sergipe e Pernambuco tiveram a oportunidade de contar um pouco da sua história, apresentar vivências turísticas oferecidas nesses estados e mostrar seus produtos agroalimentares e artesanais.
Os sabores únicos de alimentos regionais, como os caldinhos de aratu e marisquinho, as queijadinhas, os bricelets, os beijus e os doces, geleias e licores de jabuticaba, mangaba e caju atraíram o interesse do público vindo de todas as regiões do País. Uma representante de cada comunidade pôde compartilhar seus saberes e sabores com expositores e visitantes da feira, ampliando suas redes de relacionamentos.
As experiências integram o projeto de inovação social Paisagens Alimentares, conduzido pela Embrapa Alimentos e Territórios, com apoio da Lab Turismo e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O objetivo é fortalecer e valorizar conhecimentos e práticas tradicionais, além de estimular o desenvolvimento de negócios e promover a geração de renda e a melhoria da qualidade de vida das comunidades, aliadas ao turismo sustentável e à preservação da biodiversidade.
A tutora em Administração e turismóloga Rosa Meire Alves Silva visitou o estande e provou algumas das iguarias. “Eu achei o máximo, o tanto de produtos que elas conseguiram criar a partir de um alimento só e, assim, a variedade grande e sabores diferentes”, contou. Ela, que já conhece alguns municípios em Sergipe, disse ter ficado encantada com tudo o que experimentou. “Fiquei com mais vontade de voltar lá [no Nordeste] para conhecer tudo que elas mostraram”, afirmou.
Outra turismóloga que visitou a Ruraltur para se atualizar e conhecer as novidades foi Alana Marques. Ela aproveitou para provar o caldinho de aratu, servido pela marisqueira Viviane Maria do Nascimento Wanderley, de Barra do Sirinhaém, em Pernambuco. “Maravilhoso, tem gostinho de praia!”, elogiou. “E parabéns pela atitude e à Embrapa por trazer essas mulheres. É uma nova oportunidade, o turismo de base comunitária é muito importante para o desenvolvimento local”, ressaltou.
Conheça as experiências demonstradas
Caminho das Marisqueiras: saberes e sabores tradicionais de Sirinhaém (PE)
Viviane Wanderley convidou os visitantes da feira para uma imersão no povoado, quando os turistas percorrem uma trilha no mangue, conhecem o dia a dia das marisqueiras e vivenciam as práticas culturais e ambientais da coleta de mariscos, como aratu, ostra, marisquinho e sururu. Ao final da experiência, são oferecidos caldinhos preparados com os mariscos coletados pelos próprios turistas, numa experiência única e sustentável, além de almoço no restaurante da comunidade.
Da Caatinga aos cânions: experiências no Complexo Arqueológico Nova Esperança
A trilha exposta pela agricultora e presidente da Associação Pegadas da Caatinga, Ana Paula Ferreira da Silva, é focada numa imersão na cultura e na natureza do sertão nordestino. Passando pelos sítios arqueológicos de Olho D'Água do Casado (AL) até a navegação no Rio São Francisco, o passeio explora as belezas do território, valoriza a cultura local - inspirada nas suas pinturas rupestres -, além de propiciar um almoço típico no restaurante agroecológico.
Sabores e saberes na Coopcam: produção agroalimentar, agroecologia e identidades
Numa área rural de Palmeira dos Índios (AL), região da Serra das Pias, os cooperados da Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa (Coopcam) recebem os visitantes, que podem conhecer a produção agroecológica e o trabalho de conservação e proteção da terra. A atividade demonstrada pela agricultora Salete Barbosa percorre áreas de produção e agrofloresta, proporcionando a colheita de frutas típicas, como manga e jabuticaba, mesclada com o relato das histórias e cantorias locais. O almoço oferecido é preparado, principalmente, com alimentos da biodiversidade local.
Catadoras de mangaba: saberes e sabores no povoado Pontal de Indiaroba (SE)
Uma experiência que combina gastronomia e cultura num ambiente de belas paisagens tropicais foi apresentada por Alícia Santana Salvador (abaixo, à dir.), presidente da Associação das Catadoras de Mangaba de Indiaroba (Ascamai). A fruta, patrimônio cultural imaterial e um símbolo de Sergipe, é a base de produtos como geleias, licores, doces e biscoitos, que puderam ser degustados na Ruraltur. Com seus saberes e fazeres, as mulheres da comunidade vêm transformando conhecimentos ancestrais em vivências memoráveis aos visitantes.
Beijus, queijadas e bricelets: sabores da cidade mãe de Sergipe
Um verdadeiro tesouro gastronômico e cultural que mantém viva a tradição culinária de São Cristóvão (SE) destaca-se na experiência demonstrada por Vânia Dias Correia Fontes (acima, à esq.). Ela trouxe uma amostra dessas iguarias, como os beijus, as queijadinhas e os bricelets, que encantaram pessoas de todo o Brasil, produzidas pelas beijuzeiras e doceiras da cidade sergipana, a quarta mais antiga do País. Na visita ao local, é possível conhecer as histórias locais e aprender variadas receitas, transmitidas de geração a geração por séculos.
Lideranças que inspiram o turismo rural
Além de compartilhar suas histórias no estande da Embrapa, lideranças de duas comunidades foram convidadas para fazer palestras, ao lado de outros relevantes expoentes do turismo sustentável. No painel O Papel das Lideranças para o Desenvolvimento do Turismo Rural, a diretora da Coopcam, Salete Barbosa, contou como a vivência foi planejada, com apoio de órgãos como o Sebrae, a Embrapa e empresas locais, por exemplo.
Ela destacou a importância do envolvimento das pessoas da comunidade na construção da experiência, de forma colaborativa, enfatizando como as ações estão contribuindo para a valorização dos agricultores familiares e o empoderamento das pessoas que estão naquela região. Vários agricultores da cooperativa já estão sendo capacitados para receberem os visitantes, oferecendo seus produtos agroecológicos para consumo, como as geleias e o fermentado de jabuticaba, chamado de “vinho” pelos produtores.
Sustentabilidade no Turismo Rural foi o tema de outro painel, que contou com a participação da presidente da Associação Pegadas na Caatinga, Ana Paula Ferreira da Silva. Ela falou sobre os desafios enfrentados pela comunidade do Assentamento Nova Esperança atualmente e no início do projeto, ressaltando as várias oficinas de capacitação em educação ambiental, patrimônio cultural e economia criativa, feitas pela Embrapa, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e o Sebrae.
O turismo de base ecológica e sustentável exercitado incentiva o cuidado com a biodiversidade da caatinga, por meio de ações de educação ambiental e patrimonial. São 47 sítios arqueológicos no Assentamento. O trabalho busca também potencializar o empoderamento das mulheres na economia criativa, valorizando o artesanato local.
A comunidade oferece passeios por trilhas arqueológicas e pelos Cânions Dourados do rio São Francisco, refeições com produtos da agricultura familiar e peças de artesanato produzidas pelos moradores. O turista pode ainda fazer uma experiência numa oficina de pintura rupestre e levar pra casa a peça que produziu. As atividades são finalizadas com a contemplação do pôr do sol visto dos cânions. “É tudo pensando na consciência ambiental, na preservação e no amor ao próximo”, reforçou.
“Levar as experiências do projeto Paisagens Alimentares para a feira foi muito importante para dar visibilidade às iniciativas dessas mulheres que estão começando as suas atividades no turismo de base comunitária. Além disso, vivenciar o ambiente de uma feira especializada no turismo rural estimula o grupo e fortalece a motivação para seguir no projeto que iniciará a sua etapa de capacitações a partir de janeiro de 2024”, contou Aluísio Goulart, analista da Embrapa Alimentos e Territórios e coordenador do projeto.
Nadir Rodrigues (MTb 26.948/SP)
Embrapa Alimentos e Territórios
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