29/01/24 |   Segurança alimentar, nutrição e saúde  Convivência com a Seca

Projeto GuardeÁgua busca soberania alimentar e nutricional para agricultores do Semiárido alagoano

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Foto: Fernando Gregio

Fernando Gregio - Projeto busca aprimorar sistemas de manejo da água, solo e cultivos para aumentar a sustentabilidade de agroecossistemas que contam com barragem subterrânea no Semiárido alagoano

Projeto busca aprimorar sistemas de manejo da água, solo e cultivos para aumentar a sustentabilidade de agroecossistemas que contam com barragem subterrânea no Semiárido alagoano

O projeto GuardeÁgua, liderado pela Embrapa Solos (RJ), está sendo desenvolvido nos territórios do Agreste, Médio e Alto Sertão de Alagoas, em localidades com agricultores e agricultoras que são referência na adoção da tecnologia social barragem subterrânea. Eles serão multiplicadores irradiadores das inovações tecnológicas desenvolvidas em suas comunidades.

Maria Sonia Lopes da Silva, pesquisadora da Embrapa Solos e líder do projeto, explica que o GuardeÁgua é um projeto de inovação social, codesenvolvido com agricultores e voltado para eles, buscando aprimorar sistemas de manejo da água, solo e cultivos para aumentar a sustentabilidade de agroecossistemas que contam com barragem subterrânea no Semiárido alagoano. O objetivo principal, segundo ela, é fortalecer a reprodução social, econômica e ecológica das famílias agricultoras de áreas de escassez de água de chuva.

“Esperamos contribuir com o bem-viver das famílias por meio do uso adequado do solo e da água e da diversificação do espaço rural, resultando em um conjunto de funções socioeconômicas e ambientais, como a soberania alimentar e nutricional, a provisão de serviços ecossistêmicos e o papel dos agricultores como guardiões da água, essencial à segurança hídrica”, revela a cientista.

O projeto possui duas soluções para inovação de desenvolvimento técnico. Uma delas consta de sistemas de produção agroecológica de múltiplos cultivos para áreas de barragem subterrânea, baseados na interculturalidade, visando à segurança hídrica e à soberania e segurança alimentar e nutricional de famílias agricultoras do Semiárido alagoano. A outra solução será uma plataforma digital para identificação de áreas apropriadas à construção de barragem subterrânea e recomendações de manejo das áreas de plantio.

“O aplicativo utilizará recursos do dispositivo móvel, como por exemplo o GPS, e variáveis locais de geologia, solo, clima e relevo, para estimar o potencial de uma área para a implantação de barragem subterrânea, seu dimensionamento, materiais necessários e o passo a passo de sua construção. Esse aplicativo também fornecerá indicações de práticas de manejo do solo, da água e de cultivos apropriados para a área da barragem subterrânea dimensionada”, explica o pesquisador Luís de França da Silva Neto.

Parceiros do GuardeÁgua

O GuardeÁgua teve início em julho de 2023 com uma oficina no campus de Santana do Ipanema (AL) do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), que reuniu os parceiros do projeto: famílias agricultoras e representantes do Ifal, Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), Faeal/Senar e Articulação Semiárido Brasileiro/ASA Alagoas (ITViva, Aagra, Cactus e Cdecma), além da Embrapa.    

Luana Torres, superintendente do Senar Alagoas, salienta a importância da iniciativa envolvendo diversos parceiros para a disseminação de informação qualificada sobre a tecnologia social. “Muitos produtores veem a barragem subterrânea e estranham por que não enxergam a água ali. Eles precisam entender como essa tecnologia realmente funciona. Captar a água no período chuvoso, para que no período da estiagem essa água esteja ali, dentro do solo, tornando aquela área produtiva, com o solo mais fértil. O projeto vem para trazer conscientização e ganhos sociais por meio de parcerias entre Senar, Sebrae, Embrapa e outras instituições, a exemplo do que foi o projeto ZonBarragem, sem o qual não teríamos a condição de saber os lugares mais adequados para construção das barragens subterrâneas.”

“Essas capacitações sobre as barragens subterrâneas são de suma importância para o Semiárido nordestino. Falta um complemento na capacitação não somente dos agricultores, mas da assistência técnica. Muitos beneficiados não sabem como manejar as culturas e a questão hídrica. Usar a água em excesso também pode prejudicar as plantas e o solo. Esse projeto vem para auxiliar esses agricultores”, comenta Reginaldo Silva, secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Inhapi (AL) e presidente do Comitê do Sertão do São Francisco.

Para Eliene Bezerra Pereira, coordenadora de projetos do Cactus, o GuardeÁgua chegou num momento necessário. “Nós que trabalhamos com tecnologias de convivência com a seca, muitas vezes implementamos os projetos para instalação dessas tecnologias, mas depois não conseguimos a assistência técnica. Esse projeto irá fortalecer as tecnologias já implantadas nas propriedades, com capacitação e informação que vão gerando no agricultor uma maior autonomia para ampliar suas atividades e utilizar melhor a água.”

Fernando Vieira, técnico do Senar, diz que o aplicativo que será desenvolvido no âmbito do projeto para a indicação de áreas aptas à construção de barragens subterrâneas, irá facilitar as ações de assistência técnica desenvolvidas em Alagoas. “Hoje temos vários critérios, como o tipo de solo, topografia e vegetação, que são determinantes para sabermos os melhores locais para construção das barragens subterrâneas, ou até para indicar se já existe água em determinado subsolo. Já fiz barragem subterrânea com um produtor do Alto Sertão que passou a vida toda carregando água de longe, e havia água a cerca de 20 metros da casa dele, numa área com espécies como quixabeira, mulungu, craibeira. As próprias plantas ajudam o solo a segurar aquela quantidade de água. Com o aplicativo GuardeÁgua, teremos maior segurança e rapidez na identificação de áreas potenciais e na indicação do seu manejo”, explica.

Foto: Fernando Gregio

“O ideal é que, assim que a barragem subterrânea seja construída, seja feita também a análise do solo por um técnico. Se o agricultor gosta de plantar hortaliças, a assistência vai estudar se dá para plantar hortaliças naquela área. Se gosta de frutíferas, será que o solo está preparado? Eu acho que esse tipo de orientação é muito importante, unir o técnico e o agricultor”, opina a agricultora Maria do Amparo, do Sítio Mororó, município de Senador Rui Palmeira (AL).

Na mesma linha, a agricultora e presidente da Associação de Areia Branca, do município de Olho d'Água das Flores (AL), Maria Auxiliadora, acredita que além da criação de um aplicativo para os agricultores que pretendem construir uma barragem subterrânea em seu sítio, é necessária uma ferramenta que una os agricultores e os técnicos do Senar e de outras instituições parceiras para orientar sobre as culturas mais adequadas para plantio ao redor da barragem subterrânea.

Início das missões de campo

Três atividades de campo foram realizadas no segundo semestre de 2023. Em setembro, em propriedades rurais com barragens subterrâneas, localizadas em Santana do Ipanema, Senador Rui Palmeira e São José da Tapera, as pesquisadoras da Embrapa Solos Elaine Fidalgo e Marysol Schuler trabalharam com avaliação e monitoramento comunitário de serviços ecossistêmicos, além de segurança alimentar/nutricional e segurança hídrica de comunidades rurais.

Em outubro, em Santana do Ipanema, os pesquisadores Gustavo Vasques, Silvio Tavares, Flavio Adriano Marques e Manoel Neto (Embrapa Solos), e Thales Pantaleão e Augusto Santos (Ifal), deram início às ações das atividades “Uso de sensores proximais em campo para locação, modelagem 3D e cálculo de parâmetros físico-hídricos” e ”Manejo Sustentável da água para irrigação” em áreas de barragens subterrâneas.

O projeto também desenvolveu, em novembro, atividades no Alto Sertão, nos municípios de Mata Grande, Inhapi e Água Branca; no Médio Sertão, nas cidades de Senador Rui Palmeira e Olho d'Água das Flores; e na bacia leiteira do estado, em Batalha, Major Izidoro, Estrela e Cacimbinhas. Os pesquisadores Manoel Batista de Oliveira Neto e Maria Sonia Lopes da Silva, que atuam na UEP Recife da Embrapa Solos, foram a campo para conduzir atividades de caracterização geoambiental de agroecossistemas e de gestão do uso e manejo do solo, da água e da diversidade de cultivos.

"Também realizamos em 2023, no âmbito do GuardeÁGua, um curso para técnicos e agricultores sobre construção de barragem subterrânea e uma capacitação sobre tecnologias sociais hídricas", complementa Maria Sonia.

 

Oficina com agricultores avaliou a saúde da terra

A Embrapa Solos, por meio da sua Unidade de Execução de Pesquisa e Desenvolvimento de Recife (UEP Recife), Embrapa Caprinos e Ovinos, Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) realizaram a oficina Saúde da Terra, em São José da Tapera (AL), em 7 de dezembro.

Durante o evento, organizado no âmbito do projeto GuardeÁgua, foram feitas avaliações da saúde da terra a partir de indicadores de qualidade construídos com as famílias agricultoras, utilizando o método da Cromatografia Circular de Pfeiffer (CCP). Esse método consiste na análise qualitativa integrada das características físicas, químicas e biológicas do solo, permitindo a técnicos e agricultores perceber as carências e qualidades da terra.

A oficina foi realizada no Sítio Bananeiras, em São José da Tapera, Médio Sertão de Alagoas. As famílias agricultoras levaram amostras de solos de seus agroecossistemas e avaliaram a saúde das suas terras a partir dos cromas produzidos. Foram promovidas reflexões sobre a construção de indicadores de qualidade, e um protótipo do gráfico conhecido como Teia de Aranha foi construído.

"Nesta oficina, debatemos que o solo, além de servir como um substrato para enraizamento e fonte de nutrientes para as plantas, tem a função de regular, armazenar e filtrar a água. E que também a capacidade do solo de armazenar carbono é fundamental para a mitigação das mudanças climáticas. Foi um processo de conscientização sobre a importância da saúde da terra para sistemas agrícolas sustentáveis e resilientes", explica Antônio Marques Carneiro, mestrando de Ecologia e Conservação da UEPB.

A oficina foi ministrada pelo professor Simão Lindoso de Souza, do campus de Campina Grande da UEPB. "Foi avaliando a saúde das suas terras que as 20 famílias que integram o projeto GuardeÁgua refletiram sobre a importância do solo para agricultura e para o sistema alimentar. Em conjunto com as famílias, os representantes da Embrapa e os técnicos e técnicas de assistência técnica, conseguimos fazer uma avaliação bem elaborada e participativa. As pessoas envolvidas fizeram perguntas e sugestões muito interessantes. Pudemos perceber que as famílias estão interessadas em como manejar e avaliar a saúde das suas terras. O método da Cromatografia Circular de Pfeiffer é uma tecnologia social que dá autonomia às famílias agricultoras", avalia.

"O foco dessa oficina foi a construção coletiva do conhecimento sobre a saúde da terra. Por meio da troca de conhecimento, as famílias agricultoras puderam descobrir novos conceitos e formas de se avaliar a qualidade da sua terra, cada um compartilhando a sua compreensão sobre o tema, respondendo aos questionamentos de outros agricultores e outras agricultoras, permitindo que as famílias pudessem colaborar entre si", complementa Francisco Éden Paiva Fernandes, analista da Embrapa Caprinos e Ovinos.

 

Fotos: Antônio Marques Carneiro e Maria Sonia da Silva

 

Fernando Gregio (MTb 42.280/SP)
Embrapa Solos

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