16/02/16 |   Agroindústria  Estudos socioeconômicos e ambientais  Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Artigo: Desempenho da vitivinicultura brasileira em 2015

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Por Loiva Maria Ribeiro de Mello, pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho.

A vitivinicultura brasileira, embora presente em vários estados e regiões brasileiras, se concentra em poucas regiões. É especialmente importante para o Rio Grande do Sul, na serra gaúcha, onde quase a totalidade da produção se destina à agroindústria do suco e do vinho e essencialmente produzida por pequenos agricultores de agricultura familiar. Na produção de uvas de mesa, a cultura se destaca no Vale do São Francisco (Pernambuco e Bahia) e em São Paulo, gerando renda para milhares de famílias. Nos últimos anos, com a implementação das Indicações Geográficas no Brasil, a viticultura tem contribuído fortemente para o desenvolvimento dos territórios envolvidos, promovendo a agregação de valor aos produtos e a valorização de seus respectivos fatores naturais e culturais.

Para analisar o desempenho da viticultura brasileira foram usadas fontes de dados secundários. Os dados de área e produção de uvas foram disponibilizados pelo IBGE e os dados de importações e exportações disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC. Para a produção e comercialização dos produtos elaborados foram usados os dados disponibilizados pelo Ibravin/Uvibra, referentes ao Rio Grande do Sul, que respondem a cerca de 90% da produção nacional, pois não se dispõe de estatísticas do país. De certa forma o Rio Grande do Sul pode ser usado como referência para o país, pela elevada representatividade na produção de suco de uvas e vinhos. Os dados de comercialização de suco, vinhos e derivados disponíveis referem-se aos meses de janeiro a novembro de 2015 razão pela qual foram estimados pelo autor para o mês de dezembro.

 

Produção de uvas

 

Em 2015 foram produzidas 1.499.353 t de uvas no Brasil (Tabela 1), com aumento de 4,41% em relação ao ano de 2014. Ocorreu redução de produção nos estados da Bahia, São Paulo e Paraná. Nesses estados, além de fatores climáticos terem afetado a produtividade, também ocorreu redução de área. Na Bahia a redução da produção foi de 0,13%, em São Paulo o recuo foi de 3,22% e no Paraná a produção de uva diminuiu 1,12%.

No Rio Grande do Sul, maior estado produtor de uvas, ocorreu aumento de 7,85% na produção em 2015. Em Santa Catarina ocorreu acréscimo de 4,66% na produção, em Minas Gerais o acréscimo foi de 9,15% e em Pernambuco ocorreu um leve incremento de 0,25%.

Tabela 1. Produção de uvas no Brasil, em toneladas.

Estado\Ano

2013*

2014**

2015***

Ceará

664

573

940

Pernambuco

228.727

236.767

237.367

Bahia

52.808

77.504

77.401

Minas Gerais

12.734

11.557

12.615

São Paulo

172.868

146.790

142.063

Paraná

79.052

80.910

80.000

Santa Catarina

53.153

66.106

69.189

Rio Grande do Sul

808.267

812.537

876.286

Goiás

4.581

3.330

3.492

Brasil

1.412.854

1.436.074

1.499.353

*Dados capturados em 23.01.2014. ** Dados capturados em 13.01.2015 *** Dados capturados em 12.01.2016

A produção de uvas destinadas ao processamento (vinho, suco e derivados) foi de 781.412 milhões de quilos de uvas, em 2015, representando 52,12% da produção nacional. O restante da produção (47,88%) foi destinado ao consumo in natura (Tabela 2). A quantidade de uvas processadas para elaboração de vinhos e suco apresentou aumento de 16,03% em 2015, comparativamente ao ano de 2014.

Tabela 2. Produção de uvas para processamento e para consumo in natura, no Brasil, em toneladas.

Discriminação/ano

2013

2014

2015

Processamento

679.793

673.422

781.412

Consumo in natura

733.061

762.652

717.941

Total

1.412.854

1.436.074

1.499.353

Fonte: Dados estimados por Loiva Maria Ribeiro de Mello - Embrapa Uva e Vinho, considerando os dados oficiais de uva para processamento do RS, e uma estimativa para os demais estados brasileiros.

 

Área plantada

A área ocupada com vinhedos diminuiu em 2015, seguindo uma tendência iniciada em 2013, com redução de 1,83% na área plantada (Tabela 3). A maior redução da área ocorreu no estado do Paraná, 13,98 %. Ainda na Região Sul, os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina apresentaram redução da área em 0,51% e 0,98%, respectivamente. No Nordeste, a área cultivada com videiras permaneceu praticamente a mesma de 2014, a da Bahia foi levemente reduzida em 0,10%.

O estado de São Paulo que já apresentou redução de 12,79% na área plantada em 2014, em 2015 sofreu nova redução de 5,86%. No entanto, o estado de Minas Gerais apresentou aumento de 10,91% na área plantada com vinhedos.

Em alguns locais, a especulação imobiliária está contribuindo para redução da área vitícola, em outros os problemas climáticos associados à falta de mão-de-obra tem desestimulado o crescimento da vitivinicultura.

 

Tabela 3. Área plantada de videiras no Brasil, em hectares.

Estado\Ano

2013*

2014**

2015***

Ceará

50

25

38

Pernambuco

6.817

6.833

6.833

Bahia

2.395

2.864

2.861

Minas Gerais

849

834

925

São Paulo

9.526

8.308

7.821

Paraná

5.824

5.580

4.800

Santa Catarina

4.474

4.989

4.940

Rio Grande do Sul

51.450

51.005

50.743

Goiás

222

138

133

Brasil

81.607

80.576

79.094

*Dados capturados em 23.01.2014. ** Dados capturados em 13.01.2015 *** Dados capturados em 12.01.2016

 

Produção de Vinhos, suco e derivados

A produção de vinhos, suco e derivados do Rio Grande do Sul foi de 583.015 milhões de litros, em 2015, 15,38% superior à verificada em 2014 (Tabela 4).

Os vinhos finos, que são elaborados com uva Vitis vinifera L, apresentaram redução de produção de 3,42%. Os três tipos de vinhos finos sofreram redução na produção, sendo que os vinhos tintos foram reduzidos em 2,69%, os brancos diminuíram 2,46% e os rosados sofreram queda de 29,94%.

Os vinhos de mesa, elaborados com uvas americanas e híbridas, mostraram aumento de 7,21% na sua produção, com alta de 7,63% para os tintos e de 5,66% para os brancos.

O suco de uva apresentou incremento de produção de 9,63%, sendo o maior aumento de suco de uva integral (20,54%). A produção de suco concentrado aumentou em 6,79%. Cabe destacar também o aumento de produção de mosto simples em 75,24%. Este pode ser usado tanto para vinificação quanto para a elaboração de suco e outros derivados.

O segmento de suco tem sido uma alternativa para a sustentabilidade da vitivinicultura gaúcha pois tem absorvido uma boa parte da produção de uvas americanas e híbridas que tradicionalmente eram absorvidas pelos vinhos de mesa.

Tabela 4. Produção de vinhos, suco e derivados do Rio Grande do Sul, em litros.

PRODUÇÃO

2013

2014

2015

Vinho de mesa

196.904.222

196.173.123

210.308.560

Tinto

163.111.797

157.776.363

169.811.472

Branco

32.066.403

37.438.069

39.557.250

Rosado

1.726.022

958.691

939.838

Vinho Fino

46.956.931

38.464.314

37.148.982

Tinto

23.156.458

17.208.996

16.745.896

Branco

23.080.750

20.054.804

19.561.966

Rosado

719.723

1.200.514

841.120

Suco de uva integral

33.673.396

43.331.223

52.233.155

Suco concentrado*

156.031.970

166.961.570

178.306.565

Mosto Simples

58.517.506

57.585.195

100.911.592

Outros derivados **

2.909.520

2.801.715

4.106.899

TOTAL

494.993.545

505.317.140

583.015.753

*Transformados em litros de suco simples.

Fontes: União Brasileira de Vitivinicultura – Uvibra, Instituto Brasileiro do Vinho – Ibravin

Elaboração: Loiva Maria Ribeiro de Mello - Embrapa Uva e Vinho

 

Comercialização de Vinhos, suco e derivados

Apesar da crise econômica e do baixo desempenho da economia brasileira, a quantidade de suco e vinhos comercializados pelo Rio Grande do Sul, em 2015, apresentou acréscimo de 4,52% (Tabela 5).

Os vinhos de mesa apresentaram aumento de 1,81% na quantidade comercializada, sendo que os vinhos de mesa tintos, que são os de maior volume, tiveram acréscimo de 2,56%, os vinhos de mesa rosados aumentaram em 0,77% e os vinhos branco de mesa sofreram redução de 3,09%.

Na categoria vinhos finos, o aumento na comercialização foi de 3,89%, em 2015, em relação ao ano anterior. Os vinhos finos tintos apresentaram crescimento de 5,57%, os vinhos finos rosados apresentaram aumento de 2,43% enquanto que os vinhos brancos foram reduzidos em 1,13% na quantidade comercializada em 2015.

Os vinhos espumantes, continuaram sua trajetória crescente, com aumento de 16,64%, em 2015, sendo que, os espumantes moscatéis obtiveram aumento de 22,48%, e os espumantes finos apresentaram crescimento de 14,51% nas vendas desse ano.

A comercialização de suco de uva continuou crescendo em 2015, com aumento de 5,80%, atendendo a crescente demanda que tem se verificado nos últimos anos. O suco de uva integral, pronto para consumo, apresentou aumento de 31,10% na comercialização nesse ano e o suco concentrado apresentou redução de 5,5%.

 

Tabela 5. Comercialização de vinhos e de suco de uva provenientes do Rio Grande do Sul, em litros.

Produtos\Anos

2013

2014

2015*

Vinho de Mesa¹

221.590.810

206.404.427

210.147.593

Tinto

188.033.494

178.250.072

182.807.550

Rosado

1.777.648

1.419.855

1.430.767

Branco

31.779.668

26.734.500

25.909.276

Vinho Fino²

27.912.934

20.424.983

21.218.965

Tinto

19.121.750

15.354.938

16.210.163

Rosado

214.269

164.219

168.203

Branco

8.576.915

4.905.826

4.850.599

Vinho Frisante

1.764.851

1.893.469

1.963.096

Espumantes

12.194.973

12.602.610

14.431.193

Espumante Moscatel

3.783.531

4.588.465

5.620.169

Suco de Uva Integral

72.216.872

88.013.377

115.389.024

Suco de Uva Concentrado³

191.849.570

196.799.675

185.967.593

TOTAL

531.313.541

530.727.006

554.737.634

 

*dados estimados pelo autor com base na comercialização até novembro; ¹elaborado com uvas americanas e híbridas; ²corte de vinho de mesa e vinho de viníferas; ²elaborado a partir de cultivares Vitis vinífera L; 3valores convertidos em suco simples;

Fonte: UVIBRA e IBRAVIN

Elaboração: Loiva Maria Ribeiro de Mello - Embrapa Uva e Vinho

 

 

Exportações

Em 2015, as exportações brasileiras do setor vitivinícola foram de 81,81 milhões de dólares, 8,32% inferior das realizadas no ano de 2014 (Tabela 6). Na pauta das exportações do setor vitivinícola brasileiro, somente a uva apresentou incremento, sendo 21,30% na quantidade exportada e 8,26% no valor obtido. As exportações de uva de mesa haviam diminuído nos últimos anos (34,35%, em 2014). Os demais itens apresentaram queda acentuada, tanto em quantidade como em valor. O suco de uvas sofreu redução de 47,30% em quantidade exportada e 54,41% no valor obtido pelas exportações. Os vinhos, incluindo de mesa e finos, apresentaram queda de 46,04% na quantidade e 60,84% no valor das exportações e os espumantes decresceram 67,94% em quantidade e 66,25% em valor.


 

Importações

O valor das importações brasileiras dos produtos da vitivinicultura em 2015, apresentaram redução de 14,25%, comparativamente ao ano 2014 (Tabela 6). As importações de uvas frescas foram reduzidas em 5,76% na quantidade e 19,85% no valor, ou seja, foram cotadas a preços inferiores aos de 2014. As importações de uvas passas foram maiores em quantidade, 4,68%, no entanto apresentaram redução no valor da compra em 23,48%. As importações de vinhos cresceram na quantidade em 1,01% e sofreram redução de 10,78% no valor. Para os espumantes houve redução na quantidade e no valor de 4,92% e 4,08%, respectivamente.

 

Balanço

Em 2015, o país apresentou déficit de 300.798 milhões de dólares, 14,25% inferior ao verificado em 2014. Tanto as importações quanto as exportações apresentaram redução de valores, mas o preço médio obtido pelo produto nacional foi superior aos pagos pela uva importada. O preço médio obtido pelas exportações de uvas caiu de U$ 2,36/Kg para U$ 2,10/ Kg, da mesma forma que o preço médio pago pelas importações de uvas diminuíram de U$ 1,85/Kg para U$ 1,57/Kg. No caso dos vinhos e espumantes, o preço médio pago pela importação foi superior ao recebido pela exportação, da mesma forma que o ano de 2014. Entretanto, os preços médios pago e recebido sofreram redução. O vinho foi importado em 2014 ao preço médio de U$ 3,77/L, passando para U$ 3,33/L em 2015. O vinho brasileiro foi exportado por U$ 3,21/L e U$ 2,33/L, em 2014 e 2015 respectivamente. O país pagou em média U$ 7,93/L e U$ 8,01/L o espumante, enquanto vendeu ao mercado internacional ao preço de U$ 4,66/L e U$4,91/L, para os anos de 2014 e 2015, respectivamente.

 

Tabela 6. Balanço das exportações e importações de uvas, suco de uvas, vinhos e derivados: valores em US$ 1.000,00 (FOB) – BRASIL – 2012/2014.

Discriminação

2013

 

2014

 

2015

 

 

Quantidade

Valor

Quantidade

Valor

Quantidade

Valor

Exportações

 

 

 

 

 

 

Uvas frescas (t)

43.181

102.995

28.348

66.791

34.385

72.307

Suco de uva (t)

4.212

12.428

4.953

12.866

2.610

5.866

Vinhos (1.000 L))

9.149

22.745

2.324

7.473

1.254

2.926

Espumantes (1000 L)

215

929

452

2.109

145

712

Total

 

139.097

 

89.239

 

81.811

 

 

 

 

 

 

 

Importações

 

 

 

 

 

 

Uvas frescas (t)

32.631

59.581

33.761

62.338

31.818

49.965

Uvas passas (t)

23.414

53.285

23.723

53.062

24.834

40.603

Vinhos (1.000 L)

67.954

255.566

76.910

290.253

77.685

258.978

Espumantes (1000 L)

4.269

34.652

4.317

34.261

4.105

32.862

Suco de uva (t)

1.064

754

88

91

175

201

Total

 

403.838

 

440.005

 

382.609

Balanço

 

(264.741)

 

(350.766)

 

(300.798)

Fonte: MDIC

Elaboração: Loiva Maria Ribeiro de Mello - Embrapa Uva e Vinho

 

 

Considerações finais

 

  • Ocorreu um leve aumento na produção de uvas no Brasil, com redução de produção em alguns estados e acréscimo em outros. O volume de uva processada apresentou aumento enquanto a uva in natura teve seu volume reduzido.

  • O mercado dos vinhos nacionais apresentou um bom desempenho em 2015 com destaque para os espumantes.

  • O suco de uvas integral apresentou excelente desempenho enquanto o suco concentrado apresentou retração nas vendas.

  • A elevação da taxa de câmbio não impulsionou as exportações e tão pouco inibiu as importações, contudo, houve redução dos preços médios de importação e de exportação de uvas, suco e vinhos.

Embrapa Uva e Vinho

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