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17/12/18 |   Agricultura familiar  ILPF  Convivência com a Seca

Sistemas integrados garantem produção sustentável na Caatinga

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Foto: Rafael Tonucci

Rafael Tonucci - Em Ibaretama (CE), o sistema ILPF garante reserva de alimento para rebanho

Em Ibaretama (CE), o sistema ILPF garante reserva de alimento para rebanho

Além de aumentar renda do produtor, sistemas integrados podem combater desertificação no semiárido

Produtores do Semiárido encontraram no sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e nos sistemas agroflorestais um jeito eficiente de diversificar as atividades de suas propriedades. Com isso, conseguiram aumentar o faturamento da atividade, sem impactar o meio ambiente, adotando manejo mais sustentável. Com a ILPF é possível ainda recuperar áreas degradadas e combater a desertificação. 

Na comunidade Sítio Areias, em Sobral (CE), desde 2012 alguns produtores já experimentam com sucesso a prática de sistemas de produção agroflorestais, com a criação de bovinos, caprinos, ovinos e suínos; a lavoura de milho e feijão; a produção agrícola de verduras e ervas medicinais.

Madeira garante renda na seca
Segundo o zootecnista Rafael Tonucci, pesquisador da área de Forragicultura e Pastagens da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE) o sistema permite integrar a produção vegetal, animal e florestal na propriedade. Em anos de seca muito intensa, quando a lavoura produz pouco é possível obter renda com o corte e comercialização da madeira.

Na região de Sobral, a Embrapa desenvolve experimentos em áreas pequenas, com menos de dois hectares, combinando o cultivo de espécies de mata nativa com culturas agrícolas e gramíneas para formação de pasto, possibilitando a diversificação da produção.

“São exemplos de como o sistema ILPF pode ser viável no âmbito da agricultura familiar”, diz Tonucci. Em Ibaretama, município do Sertão Central do Ceará, por exemplo, em duas áreas de um hectare cada, foi registrada uma produção de 25 a 30 toneladas de matéria verde, suficiente para garantir alimento para o rebanho (silagem) para um período de dois anos. “Para isso, foi preciso apenas conhecer os princípios desses sistemas e adequá-los à realidade daquele local”, enfatiza o pesquisador.

Alguns agricultores estão obtendo produtividades maiores em suas lavouras mudando apenas uma prática baseada no uso do fogo para uma produção ambientalmente sustentável. “No meu quintal tudo dá. Já colhi abacaxi, verdura, tomate, pimentão. E já doei sacolas de verduras para a escola da cidade”, conta a agricultora Regina de Sousa.

ILPF recupera solos degradados
No experimento em Ibaretama, estão sendo usadas duas áreas cedidas por um produtor rural. Em uma delas, de 1,5 hectare, foram plantadas linhas de sabiá (árvore da Caatinga) para composição de floresta, além de feijão caupi, milheto, sorgo e girassol. Os resultados do plantio foram usados de forma diversificada: o feijão foi aproveitado para colheita, sorgo e girassol foram usados para silagem aos animais, o milheto serviu para compor a cobertura vegetal do solo (condição importante em áreas de solos menos férteis).

“Em uma área de solo pobre, onde não se produzia nada, conseguimos plantar floresta com sucesso, usando essas técnicas para recuperação de solo degradado, e já temos forragem disponibilizada para os animais na estação seca”, explica Rafael Tonucci. Em outra área, de um hectare, além do sorgo e milheto, foram introduzidas plantas leguminosas (leucena e gliricídea), entre outras espécies nativas, e também o capim Massai, na expectativa de compor pasto para os animais nos próximos anos. 

Sistemas em base comunitária
Outra prática adotada por produtores da região é a de adequação dos sistemas de produção locais a uma perspectiva de base agroecológica, o chamado redesenho para compor sistemas agroflorestais. Na comunidade Sítio Areias, em Sobral, a Embrapa incentivou este trabalho em base comunitária: os produtores locais integram suas áreas de criação de animais para produção e lavoura às áreas de uso sustentável da caatinga nativa, inclusive com o intercâmbio de forragem ou esterco entre os agricultores.

Segundo o zootecnista Éden Fernandes, analista da Área de Transferência de Tecnologia da Embrapa Caprinos e Ovinos, estas trocas são outro benefício para comunidades de agricultores familiares. “O produtor que optou por um componente mais agrícola acaba cedendo a forragem para outro produtor que já tem um sistema de natureza pastoril. “Ele colhe o milho por exemplo, para sua alimentação e cede a palhada como forragem para outro agricultor que cria caprinos ou bovinos. Esse outro produtor também faz a partilha, devolvendo leite produzido em sua propriedade”, detalha. 

Busca da sustentabilidade
Uma das perspectivas das pesquisas em sistemas de produção integrados no semiárido brasileiro é contribuir para a sustentabilidade da produção agropecuária, em seus diversos aspectos. “As vantagens deste tipo de sistema para aquela região são de natureza biológica e socioeconômica. Biológica porque tem componentes diferentes no sistema, explorando luz, água e nutrientes, além da conservação do solo e da água. Nas questões socioeconômicas, temos a oportunidade do retorno de renda e a diversificação dos bens e serviços gerados”, destaca Fernandes.

Em sistemas dessa natureza, há diversas possibilidades para uso das árvores, desde sua utilização como um fator contribuinte para preservação do solo e como sombra para o bem-estar dos animais até a exploração da madeira de algumas espécies para incremento da renda dos agricultores.

“No Semiárido, é possível manter sempre a cobertura vegetal, mantendo assim, um pouco de água no solo. Além disso, as árvores também servem de barreira para um outro problema sério nesta região: a erosão eólica (provocada pelos ventos)”, acrescenta o pesquisador Rafael Tonucci.

Outra perspectiva é de que os experimentos mostrem a viabilidade de um arranjo espacial que, ao combinar lavoura, pecuária e florestas, otimizando e intensificando o uso das áreas produtivas, permita a futura introdução de máquinas agrícolas. 

Sistemas de produção integrados 
Os sistemas de integração envolvem a produção de grãos, fibras, madeira, energia, leite ou carne na mesma área, em plantios em rotação, consorciação ou sucessão. O sistema funciona basicamente com o plantio, durante o verão, de culturas agrícolas anuais (arroz, feijão, milho, soja ou sorgo) e de árvores, associado a espécies forrageiras (braquiária ou panicum). Existem várias possibilidades de combinação entre os componentes agrícola, pecuário e florestal, considerando espaço e tempo disponível, resultando em diferentes sistemas integrados, como lavoura-pecuária-floresta (ILPF), lavoura-pecuária (ILP), silvipastoril (SSP) ou agroflorestais (SAF).

Adoção de ILPF no Nordeste brasileiro
Uma pesquisa realizada em 2016 pela empresa Kleffman Group, por solicitação da Rede ILPF [parceria público-privada formada por Embrapa, Cocamar, Bradesco, John Deere, Soesp e Syngenta, com objetivo de acelerar adoção das tecnologias de integração no país] apresentou alguns dados sobre a realidade dos sistemas de integração na região Nordeste. Dos 493 produtores rurais entrevistados (com bovinocultura como atividade predominante), 60% já conhece o conceito de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, embora a adoção do sistema na região ainda seja de 41% - alguns dos estados apresentam índices de adoção acima dessa média, como é o caso de Alagoas (51%) e Sergipe (44%).

Um fator positivo mostrado neste levantamento é que entre os produtores entrevistados que já adotam sistemas ILPF, 78% dizem estar satisfeitos ou muito satisfeitos. Os maiores índices de aprovação estão no Rio Grande do Norte (89%), Bahia (87%) e Ceará (85%). Entre aqueles que já adotam este tipo de sistema ou pretende adotar no futuro, as motivações apontadas com maior frequência pela pesquisa são: promover recuperação de pastagens, reduzir o impacto ambiental e fazer rotação de culturas agrícolas.

Adilson Nóbrega (MTB/CE 01269 JP)
Embrapa Caprinos e Ovinos

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