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Congresso Brasileiro de Olericultura discutiu a transformação digital no setor de hortaliças
Estudantes e profissionais de ensino, pesquisa, assistência técnica e extensão rural reuniram-se, nesta semana, em Campinas (SP), para discutir os desafios e as oportunidades para a transformação digital na cadeia produtiva de hortaliças. O assunto foi tema central do 57º Congresso Brasileiro de Olericultura (CBO), evento promovido pela Associação Brasileira de Horticultura (ABH) e realizado na sede do Instituto Agronômico (IAC/APTA).
O setor é um dos mais importantes no País. De acordo com o presidente da ABH e chefe-geral da Embrapa Hortaliças, Warley Nascimento, a produção de tomate, batata e cebola, somada, correspondeu a 31 bilhões de reais do Valor Bruto da Produção agropecuária em 2023. “Representa mais do que a cadeia do arroz e do feijão, os dois principais alimentos básicos da população. Em termos econômicos, é também uma cadeia de altíssimo valor, gerando renda para a agricultura familiar e responsável por cerca de 3 a 4 milhões de empregos diretos. E, claro, uma cadeia que fornece alimentos da mais alta qualidade”, ressaltou durante a abertura oficial do congresso, no último dia 6.
A Embrapa foi uma das instituições realizadoras do evento. O diretor-executivo de Governança e Gestão, Alderi de Araújo, representou a presidência da Empresa na solenidade e destacou a importância de avançar na adoção de tecnologias digitais para aumentar a produtividade, reduzir custos e melhorar a sustentabilidade também na produção de hortaliças, um setor fundamental para a economia e segurança alimentar no Brasil. “Estamos num momento em que agricultura enfrenta desafios sem precedentes e a necessidade de aumentar a produção para alimentar uma população cada dia mais crescente, a pressão por sustentabilidade e pela inclusão digital de pequenos e médios produtores são questões que exigem soluções inovadoras e colaborativas”, afirmou.
A Embrapa tem investido no desenvolvimento de tecnologias para modernizar e tornar mais eficiente a produção agropecuária a partir da aplicação de ferramentas como inteligência artificial, aprendizado de máquina, automação, blockchain e internet das coisas, entre outras. Para o chefe-geral da Embrapa Agricultura Digital, Stanley Oliveira, estas tecnologias habilitadoras são utilizadas, hoje, de forma combinada para que seja possível resolver problemas complexos do agro. No entanto, elas só atingem seu valor quando respondem às necessidades reais e se tornam aliadas do agricultor.
Durante palestra magna na abertura do congresso, ele falou sobre a importância de olhar a jornada do produtor rural, desde as etapas de planejamento, as operações no campo e o pós-colheita, para, ao fim, torná-la mais leve. “A tecnologia pela tecnologia não faz a transformação digital, é por isso que muitas vezes as primeiras perguntas dos agricultores é o que eu ganho com a implantação dessa tecnologia na minha propriedade, se há redução de custos na produção, se é possível melhorar o planejamento. Quando a tecnologia não responde a essas perguntas, ela começa a ficar de lado e não é adotada”, explicou.
Ele citou exemplos de iniciativas de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Embrapa e parceiros, como a aplicação de ferramentas para contagem de frutos, medição de biomassa, detecção de falhas nas lavouras, otimização da pulverização, classificação de doenças em plantas e monitoramento de animas no campo. Para seguir avançando na oferta destas soluções, segundo Oliveira, é preciso um esforço interdisciplinar e multinstitucional. Ele destacou a importância do compartilhamento de dados, informações e modelos, a necessidade de capacitação, a redução de custos de acesso à tecnologia e a ampliação da conectividade no campo, para que a transformação digital alcance todos, grandes, médios e pequenos produtores, democratizando a tecnologia.
Painéis temáticos
Ao longo de quatro dias, o 57º CBO contemplou dez painéis temáticos apresentados por especialistas de diversas instituições, a exemplo da Embrapa, IAC, Instituto Biológico e Ibrahort, entre outros. A programação no primeiro dia do evento foi inaugurada com a palestra do pesquisador Jayme Barbedo, da Embrapa Agricultura Digital, que abordou o uso de inteligência artificial para o diagnóstico de doenças em hortaliças. Com dez anos acumulados nos estudos de inteligência artificial (IA), Barbedo considera o momento em que vivemos como um ponto de inflexão, em que as decisões que serão tomadas nesta seara poderão resultar em benefícios ou prejuízos no futuro. Para isso, o pesquisador aponta a necessidade de serem criadas comissões para que todos os produtores tenham acesso a essas tecnologias, e isso envolve esforços de todos os atores da cadeia da agricultura.
O governo precisa formular políticas públicas e estabelecer uma legislação que favoreça essa adoção no campo. A extensão rural, por sua vez, teria atuação relevante na disseminação destas tecnologias e no convencimento dos produtores para adotá-las. “Eles têm que se adaptar a essa nova realidade de aprender quais são as boas e as más tecnologias e passar isso para os produtores”, completou. Segundo ele, as companhias poderiam dispor modelos de negócios que possam fazer com que essas tecnologias sejam gratuitas para os produtores, por meio da negociação da cobertura desses custos por outros atores da cadeia. As universidades teriam papel importante no letramento digital das gerações mais velhas em ferramentas com IA. “A IA veio para ficar. Este é um ponto de inflexão, é um momento de todos fazerem sua parte para chegarmos a algo que beneficie a todos”, disse.
Também da Embrapa Agricultura Digital, Martha Bambini e Cássia Mendes participaram de duas mesas redondas, sobre o empreendedorismo no setor hortícola, envolvendo hubs de inovação, parques científicos e tecnológicos e programas para aceleração de startups, e também sobre a governança de agrodados e regulação no setor hortícola. Anderson Alves, supervisor da área de negócios da Unidade, também foi moderador do painel sobre os avanços tecnológicos e digitais na comercialização de hortaliças, que tratou, por exemplo, da rastreabilidade na cadeia.
A Embrapa Hortaliças marcou presença entre os painelistas com a participação dos pesquisadores Ítalo Guedes e Valter Rodrigues: Guedes como moderador da mesa-redonda “Cultivo Indoor de hortaliças – desafios e oportunidades e uso de iluminação artificial no cultivo de hortaliças folhosas”, dentro da temática “Avanços Tecnológicos em Olericultura”; e Rodrigues na apresentação da palestra “Melhoramento genético de cebola”, que integra o painel “Melhoramento genético de olerícolas: oportunidades e desafios”. O evento teve ainda a palestra do pesquisador José Antonio Azevedo Espindola, da Embrapa Agrobiologia, sobre as contribuições da pesquisa para sistemas orgânicos ou agroecológicos de produção de hortaliças.
Exposição
A Embrapa também levou para o público presente no Congresso Brasileiro de Olericultura a demonstração de algumas tecnologias para o setor. A Embrapa Territorial apresentou a Organoteca, um repositório de materiais da Embrapa congregados com o intuito de apoiar o produtor rural na gestão da produção orgânica. Fruto de uma parceria com a Orgânicos Sul e Minas e a Cooperativa Orgânica Agroflorestal Comuna da Terra, o ambiente digital reúne tecnologias, publicações técnicas, vídeos, cartilhas e programas de rádio com foco na produção orgânica. Os temas abrangem diversas áreas, desde gestão e produção vegetal até solos e tecnologias sociais. Com foco nos produtores rurais de orgânicos e, também, nos extensionistas rurais, a Organoteca pode ser acessada gratuitamente aqui.
Já a Embrapa Hortaliças levou para o evento cultivares de pimenta (BRS Biguatinga e BRS Araçari) e de batata-doce (BRS Cotinga e BRS Anembé). A Unidade também apresentou a cultivar de tomate grape BRS Zamir, desenvolvida em parceria com a Agrocinco. O produto também utiliza rastreabilidade a partir do Sibraar (Sistema Brasileiro de Agrorrastreabilidade), que foi desenvolvido pela Embrapa Agricultura Digital. Baseada na tecnologia digital blockchain, a ferramenta permite o acesso a informações sobre a qualidade e a procedência dos produtos a partir de um QR Code estampado na embalagem. O sistema de rastreabilidade pode ser customizado para aplicação em diversas cadeias produtivas, além de hortaliças, tendo sido lançado pela primeira vez para a produção de açúcar mascavo e demerara.
Solenidade de abertura A abertura oficial do 57º CBO aconteceu na noite do dia 6 de agosto e contou com a presença do subsecretário de Agricultura Orlando Melo de Castro, representando o secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Guilherme Piai. O subsecretário ressaltou a importância de investir em conectividade para possibilitar que as tecnologias digitais cheguem para todos, inclusive para apoiar o trabalho da extensão rural. A solenidade teve ainda a presença do diretor geral do IAC, Marcos Landell, do diretor do Departamento de Extensão Rural da CATI, Alexandre Grassi, da presidente do congresso e diretora do Centro de Horticultura do IAC, Eliane Gomes Fabri, do diretor-executivo de Governança e Gestão da Embrapa, Alderi de Araújo e do presidente da ABH e chefe-geral da Embrapa Hortaliças, Warley Nascimento. A abertura também foi marcada pelo lançamento do prêmio “Hiroshi Nagai”, concedido a três pesquisadores de destaque na área de olericultura: Antonio Ismael Inácio Cardoso e Arthur Bernardes Cecilio Filho, da Unesp, e Paulo Trani, do IAC. O 57º Congresso Brasileiro de Olericultura é uma realização do IAC, APTA Regional, Embrapa, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq/USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A Embrapa esteve representada na Comissão Executiva, responsável pela organização do evento, com o analista Marcelo Mikio Hanashiro, da Embrapa Hortaliças, e a pesquisadora Cristiaini Kano, da Embrapa Territorial. |
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