Um pesquisador movido pela inquietação
Um pesquisador movido pela inquietação
Inventar é o que tem feito Washington Luiz de Barros Melo desde que decidiu, precocemente, o rumo que daria a sua vida profissional. Aos dez anos, ouviu um pároco holandês dizer, na casa da família, que tinha um amigo − também padre − que era físico. A palavra inquietou o menino e foi o suficiente para determinar o que ele investigaria anos mais tarde, usando os conceitos da física − dentro e fora dos laboratórios de pesquisa.
Da infância em Bonito, em Pernambuco, à adolescência em Caruaru e depois em Olinda, foram muitas as invenções, exercitadas, quase como um sacerdócio, nas férias escolares, quando tinha mais tempo para pôr as ideias em prática.
Já apaixonado pelas ciências exatas e humanas e ainda embalado pelas séries Perdidos no Espaço e Jornada nas Estrelas e pela coleção de livros Os Cientistas − doada por um professor aposentado −, o futuro pesquisador fez do quarto e do quintal da casa oficinas para criar hélice de avião com folha de goiabeira, anemômetro para saber a velocidade do vento que passava na janela, gerador elétrico, bateria, entre tantos outros.
Mas os experimentos produzidos na adolescência, quase sempre na tentativa de gerar energia, ganharam outros contornos nas pesquisas desenvolvidas pelo doutor em física no Laboratório de Fototérmica da Embrapa Instrumentação. Agora, ao invés de tentar usar um capacitor variável para reproduzir o efeito do raio ou inventar um aquecedor solar usando um farol de uma Rural Jeep Willys do seu pai, Washington se debruça em inventos com aplicação mais prática, sempre que possível, reutilizando como insumo materiais descartáveis.
De férias, em casa, a pia da cozinha se transformou em bancada de laboratório. Washington queria criar um aparelho que pudesse irrigar pequenas áreas automaticamente usando apenas a luz do sol. Mas também precisava ser uma tecnologia de baixo custo e tão simples, que qualquer pessoa pudesse montar com facilidade. Sua mais recente invenção, o Irrigador Solar, baseou-se em um princípio da termodinâmica, a de que o ar se expande quando aquecido.
Para isso, lançou mão de uma garrafa PET, uma bexiga preta e um pedaço de mangueira de equipo hospitalar para testar o conceito do experimento. Ele colocou a bexiga preta dentro da garrafa, encheu-a e, depois de amarrá-la para o ar não escapar, a soltou.
Em seguida, colocou água até a metade da garrafa e, por último, a mangueira de equipo hospitalar, com uma ponta para fora, que passou por um orifício feito na tampa. "Ao ser exposta à luz solar, a bexiga deveria absorver o calor, e, ao ser aquecida, se expandir dentro da garrafa e expulsar a água pela mangueira de equipo hospitalar", conta.
Provado que dessa forma a invenção funcionaria, Washington, ao retornar das férias e já no laboratório, desenvolveu o primeiro protótipo do Irrigador Solar. Desde sua apresentação na 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 2015, na Universidade Federal de São Carlos, a tecnologia tem atraído a atenção de diversos segmentos, de produtores rurais a estudantes, de várias regiões do Brasil, justamente pela simplicidade.
Na versão atual, o físico usou quatro garrafas, além de tubos de equipo hospitalar. Sobre uma garrafa com água é emborcada uma outra de material rígido pintada de preto. O sol, ao incidir sobre a garrafa escura, aquece o ar em seu interior que, ao se expandir, empurra a água do recipiente de baixo e a expulsa pela mangueira fina até gotejar na plantação.
Fazem parte do invento outros dois depósitos de água, sendo um deles uma garrafa rígida que tem a função de sugar a água, que se encontra armazenada no segundo depósito, e que, por sua vez, pode ser outra garrafa, bombona ou tonel. A água de dentro da garrafa rígida segue para aquela que está conectada à garrafa pintada de preto. As garrafas são interligadas por tubos de equipo hospitalar. Mas o pesquisador já utilizou até capas de fios elétricos, depois de retirar os fios de cobre de dentro.
Washington lembra que são muitas as vantagens do irrigador caseiro. "É um sistema automático sem fotocélulas e que não demanda eletricidade, pois depende somente da luz solar, tornando sua operação extremamente econômica. Ele promove igualmente uma economia de água, pois utiliza o método de gotejamento para irrigar, o que evita o desperdício do recurso", afirma.
Outra vantagem é que a tecnologia pode ser construída com objetos que seriam jogados no lixo, como garrafas e recipientes de plástico, metal ou vidro. "Dessa forma, se daria um destino mais nobre a esses materiais", afirma o pesquisador. A versatilidade do equipamento também é grande. A intensidade do gotejamento pode ser regulada por meio da altura do gotejador, e o produtor pode colocar nutrientes ou outros insumos na água do reservatório para otimizar a irrigação.
A tecnologia, para a qual foi solicitado pedido de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em 2014, pode ajudar de pequenos produtores a jardineiros a manter seus canteiros irrigados automaticamente pelo método de gotejamento. •
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Pesquisador cria irrigador solar automático com garrafas usadas
Joana Silva
Embrapa Instrumentação
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