Projeto busca a revitalização do alho entre agricultores familiares do Piauí
Projeto busca a revitalização do alho entre agricultores familiares do Piauí
Agricultores familiares de municípios pertencentes ao Vale do Guariba, ao Vale do Canindé e ao Território dos Cocais estão sendo beneficiados por um projeto que pretende resgatar e fortalecer a produção de alho no estado do Piauí a partir da adoção de técnicas de manejo e de tecnologias que permitam ao produtor melhorar a qualidade da semente e, assim, garantir lavouras mais sadias e produtivas.
Para promover as mudanças necessárias no perfil agrícola dessas localidades, especificamente nas cidades de Sussuapara, Ipiranga e Pedro II, foram realizados diagnósticos para identificar os gargalos tecnológicos da cultura e, em 2016, foi iniciada a implantação de um plano para revitalização do alho no estado, uma ação conjunta entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e a Associação Piauiense dos Produtores de Alho (APPA).
“Alguns municípios do estado eram tradicionais produtores de alho, mas a entrada no mercado piauiense do alho plantado na Bahia – que tinha melhor qualidade devido à tecnologia do alho-semente livre de vírus, somada à degenerescência dos materiais locais pelo acúmulo de viroses ao longo de várias safras, resultaram na queda da produção, da qualidade e do preço do alho produzido no estado”, contextualiza Lenita Haber, analista de Transferência de Tecnologia da Embrapa Hortaliças.
De acordo com o produtor rural José Airton Carvalho Dantas, presidente da Associação Piauiense dos Produtores de Alho (APPA), desde meados da década de 90 já não se fazia mais a comercialização de alho pelos produtores das comunidades ribeirinhas – que cultivavam no leito do rio quando as águas baixavam na época mais seca. “Nós estávamos plantando somente para consumo próprio e, ainda assim, era um alho muito deteriorado, com muitos dentes pequenos e sem qualidade”, relata.
Para reverter esse quadro, a equipe de técnicos e pesquisadores que havia contribuído para a recuperação do cultivo de alho na região oeste da Bahia vem desenvolvendo um trabalho semelhante no Piauí para introduzir a produção de alho-semente livre de vírus (ALV), uma tecnologia baseada em um processo de limpeza clonal, isto é, uma técnica de cultura de tecidos em laboratório para eliminação de vírus e outros microrganismos presentes na planta que ocasionam baixa produtividade e perda na qualidade.
Após esse trabalho da pesquisa, na hora de ir para o campo, o agricultor é orientado a multiplicar o alho-semente livre de vírus sob a proteção de um telado especial à prova de pulgões, insetos transmissores de vírus. “Tendo esse cuidado, sempre haverá bulbilhos sadios para gerar novas sementes e conduzir a lavoura comercial”, explica o pesquisador Francisco Vilela.
Além das sementes sadias para assegurar a qualidade e a produtividade dos plantios, a equipe sugeriu a instalação do plantio em roças e não mais em leito de rios e também está realizando estudos para identificar o melhor sistema de produção para a cultura nas condições de clima e solo das regiões abrangidas pelo projeto. Algumas propriedades de agricultores familiares e áreas disponibilizadas pela Escola Família Agrícola (EFA) dos municípios receberam Unidades de Referência Tecnológica que avaliam fatores como época de plantio, espaçamento entre plantas, manejo de irrigação, preparo de solo e adubação, vernalização, entre outros.
“Foram instaladas também Unidades de Validação para testar, por três anos consecutivos, as cultivares de alho mais adaptadas, com melhor desempenho produtivo e maior valor de mercado”, acrescenta Lenita. A proposta desse conjunto de análises é verificar o potencial de outras localidades do Piauí com condições favoráveis à produção de alho para que o estado possa se tornar autossuficiente no atendimento ao consumo interno com capacidade de exportar possíveis excedentes de produção para estados vizinhos.
“Mais do que a identidade cultural que o alho representa para as comunidades, o resgate dessa espécie oferece uma melhoria de renda para o pequeno produtor, não somente porque as novas práticas e tecnologias estão rendendo bulbos maiores, com melhor classificação comercial, mas também porque estamos processando pastas e molhos para agregar valor ao produto”, conta Dantas ao ressaltar que cerca de 40 produtores de 12 cidades diferentes estão envolvidos no projeto e, cada dia mais, aparece novos interessados.
Tal como aconteceu com o alho produzido na Bahia, a expectativa da equipe do projeto é que o incremento à produção e à qualidade do alho nessas regiões do Piauí faça surgir novas demandas por revitalização da cultura em estados adjacentes, o que seria vantajoso para o Brasil que depende de importação de alho de países como Argentina e China. “Os produtores chineses, no geral, tem base familiar e cultivam até 1,5 hectares. Aqui nós temos potencial para oferecer um alho com qualidade superior, em termos de sabor e vida útil, e contribuir para minimizar a dependência externa”, pondera Lenita. Nesse sentido, programas de capacitação de técnicos e agricultores são essenciais para irradiar os resultados das pesquisas e da adoção de tecnologias para outras regiões do País.
Paula Rodrigues (MTB 61.403/SP)
Embrapa Hortaliças
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