Produção de mudas de hortaliças exige manejo especializado
Produção de mudas de hortaliças exige manejo especializado
Produzir mudas de hortaliças com qualidade pode parecer tarefa complicada quando não se levam em conta alguns fatores que, de início, são considerados de menor importância, mas certamente afetarão o desenvolvimento das plantas adultas após o transplantio e, consequentemente, a colheita das partes comestíveis. Isso acontece quando o agricultor resiste em adotar algumas recomendações técnicas alegando um possível aumento do custo de produção ou, ainda, falta de mão de obra especializada e falta de infraestrutura, já que é preciso um espaço destinado exclusivamente à produção de mudas. Pode ser que o agricultor não esteja receptivo a esse tipo de mudança pelo simples fato de adotar um sistema de produção que julgue adequado, mas que, na verdade, já não é mais utilizado. Por outro lado, há agricultores iniciantes na atividade que, por desconhecimento, realmente necessitam desse tipo de orientação.
O fato é que existe uma compensação, ou seja, se o agricultor caprichar na produção de mudas, a chance de se obter plantas mais sadias e colheitas mais fartas será bem maior. Nesse sentido, vale a pena discutirmos alguns dos fatores envolvidos na produção de mudas de hortaliças.
Nas últimas décadas, a atividade de produção de mudas de hortaliças vem evoluindo de forma significativa devido ao avanço da tecnologia, que introduz novos insumos e práticas de manejo. Isso tem impulsionado o setor a ponto de profissionalizar alguns produtores que se tornam fornecedores de mudas para aqueles produtores que conduzem sua atividade sem desenvolver esta fase da produção. As novas tecnologias são frutos da parceria de empresas de pesquisa agropecuária, instituições de ensino, agências de extensão rural e produtores. Essa soma de esforços tem dado certo e, hoje, existem produtores de mudas com grandes produções de alta qualidade.
Quanto ao substrato, no passado, a vulnerabilidade fitossanitária, aliada ao sistema de produção em sementeiras rústicas em locais inadequados, comprometia muito a produção. Os problemas começavam já na germinação das sementes e na emergência das plântulas, com estandes desuniformes e mudas de pouca qualidade. Com o passar do tempo, os substratos ficaram mais estáveis em sua composição e apareceram no mercado várias marcas à base de casca de pinus, turfa, casca de arroz carbonizada, composto orgânico, entre outros ingredientes. Atualmente, existe uma tendência para os substratos inertes suplementados com soluções nutritivas, como é o caso da fibra de coco e da espuma fenólica.
Com relação às sementes, com exceção às produzidas pelo próprio agricultor que, por tradição, mantém alguns materiais, é inaceitável a aquisição de sementes que não sejam de fontes idôneas. Pelo fato de se investir um pouco mais nessa produção, sementes de baixa qualidade, que não garantam um bom estande de mudas e, principalmente, plantas sadias no campo, devem ser evitadas. Hoje, no mercado, muitas empresas produzem, beneficiam e embalam sementes de alta qualidade genética, física e fisiológica, com a aplicação de avançadas tecnologias como tratamentos osmóticos e revestimentos.
Como último fator a ser discutido, temos os recipientes, com uma evolução bem interessante ao longo do tempo. Produtores mais antigos costumavam fazer suas sementeiras em canteiros onde as sementes eram jogadas a lanço. Depois era feito um desbaste do excesso de plantas e, no momento do transplante para o canteiro definitivo, apenas as mais vigorosas eram escolhidas. Sabemos que esse sistema, naturalmente, foi sendo abolido e, com o passar do tempo, apareceram as bandejas de células, individualizando as mudas e trazendo uma série de vantagens como possibilidade de classificação das mudas, sistemas radiculares melhor desenvolvidos sem entrelaçamentos com mudas vizinhas e volume ideal de substrato para cada espécie. Atualmente, existe no mercado o predomínio de bandejas de células de isopor e de plástico de polietileno, com uma tendência forte para materiais biodegradáveis, que permitirão o transplante das mudas sem a necessidade de se retirar o recipiente.
Conforme visto, o setor tem sofrido grandes mudanças, para melhor. Com isso, quem lucra são os produtores e agricultores que podem estruturar sua produção em mudas com garantia de qualidade, tanto genética como sanitária. Isso significa produção e produtividade no campo e, consequentemente, uma atividade que pode agregar muito na diversificação das propriedades.
Marçal Henrique Amici Jorge (
Engenheiro Agrônomo - Pesquisador)
Embrapa hortaliças
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