Nova ferramenta avalia a qualidade do plantio direto em lavouras com pivô central
Nova ferramenta avalia a qualidade do plantio direto em lavouras com pivô central
Photo: iStock
O propósito é que o produtor use o IQPi e possa desenvolver um processo de melhoria contínua no sistema produtivo com eficiência no uso da água
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Uma nova tecnologia vai ajudar produtores e técnicos a avaliar a qualidade do sistema de plantio direto irrigado. O Índice de Qualidade Participativo do Plantio Direto para Condições de Irrigação por Pivô Central (IQPi) foi desenvolvido pela Rede de Pesquisa SoloVivo, no âmbito do convênio Embrapa-Itaipu Binacional.
“O sistema plantio direto (SPD) é uma prática agrícola conservacionista consolidada no Brasil e representa uma das principais tecnologias de produção sustentável no campo. Para que suas vantagens sejam observadas é importante utilizar o adequado manejo das culturas e do solo, especialmente em condições irrigadas”, afirma Marcelo Boechat Morandi, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente (SP).
Já a agricultura irrigada é capaz de aumentar a produtividade de duas a três vezes em relação às lavouras de sequeiro; ela ainda reduz o custo unitário de produção e otimiza a utilização do solo durante todo o ano, com até três ciclos de culturas agrícolas no mesmo local.
Portanto, o emprego do SPD com irrigação é a união da sustentabilidade com produtividade capaz de promover impactos importantes à agricultura brasileira. Por isso, a importância de técnicas para averiguar a sua qualidade, como propõe o IQPi.
Índice contribui para a melhoria contínua do sistema produtivo
“A aplicação do IQPi é simples e rápida, permitindo uma autoavaliação pelo produtor ou técnico da assistência rural. É um teste de perguntas e respostas cujo resultado origina métricas de qualificação, com atribuição de notas de excelente a muito ruim, que caracterizam a condição do manejo das glebas na propriedade”, explica Priscila de Oliveira, pesquisadora da Embrapa e uma das autoras do Índice.
O uso da ferramenta requer somente cálculos básicos de adição e multiplicação. Mas há necessidade de o produtor ter um registro histórico da gleba a ser avaliada e saber quais espécies foram cultivadas nos últimos três anos, com os respectivos meses de semeadura e colheita. Além de outros registros para o mesmo período, como evidências de erosão, transbordamento nos terraços e outros.
“O IQPi possui nove indicadores, dos quais apenas os que avaliam o manejo da irrigação requerem um pouco mais de conhecimento técnico para serem eficientes na melhoria do uso do recurso hídrico e para a conservação do solo. São contemplados parâmetros da irrigação, como balanço hídrico e manutenção periódica do pivô central”, detalha Alba Leonor, cientista da Embrapa Solos (RJ) e também autora do Indicador.
O propósito é que o produtor use o IQPi ao longo do tempo, de forma que desenvolva um processo de melhoria contínua no sistema produtivo com eficiência no uso da água pela identificação de pontos críticos no manejo. A avaliação pode ser estendida a toda a propriedade rural, sendo considerada até mesmo no âmbito de uma microbacia hidrográfica se, nas áreas de sua influência hídrica, os produtores adotarem esse mesmo instrumento de gestão.
“O hábito de avaliar a condução do sistema plantio direto (foto à direita), especialmente o irrigado, traz um ganho enorme para a agricultura nacional. Fazendo uso do IQPi, o produtor incorpora um importante benefício: a administração das glebas ou dos talhões da propriedade, podendo, a partir daí, tomar as decisões mais acertadas em relação ao manejo adotado”, ressalta o pesquisador da Embrapa Luis Carlos Hernani, desenvolvedor do IQPi.
Onde encontrar o IQPi
Os produtores e técnicos interessados podem acessar a ferramenta na internet e responder ao questionário do Anexo 1, calculando a pontuação conforme a Equação 1 e conferindo em qual classe de manejo se encontra. A partir disso, podem ser avaliadas, de preferência sempre com um técnico, as notas individuais dos indicadores que merecem ser melhoradas, ou seja, aquelas cujos valores ficaram abaixo do crítico, por exemplo. Assim, novas ações corretivas ou preventivas podem ser tomadas para a melhoria do manejo do SPD irrigado. Organizações coletivas podem fazer bom uso das questões agrupadas no Anexo 2.
A apropriação da ferramenta por técnicos e produtores rurais contribui para a implementação da meta “Gestão Integrada de Recursos Hídricos (GIRH)”, do sexto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, de 2015: “Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos”.
A origem
Vale lembrar que o IQPi é uma adaptação do Índice de Qualidade Participativo do Plantio Direto (IQP), desenvolvido para as condições de sequeiro da Bacia Paraná III, em 2011, por equipe comandada por Glaucio Roloff, professor titular aposentado da Universidade Federal de Integração Latino-Americana (Unila).
A ferramenta foi desenvolvida na região de Paranapanema (SP) com apoio da Associação do Sudoeste Paulista de Irrigantes e Plantio na Palha (Aspipp) e da Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação (FEBRAPDP). E pode ser expandida para regiões semelhantes que utilizam o mesmo conjunto de práticas e técnicas em culturas em sistema de plantio direto para condições de irrigação.
Além de Priscila, Alba e Luis Carlos também são criadores do IQPi os pesquisadores Silvio Roberto de Lucena Tavares (Embrapa Solos) e Ricardo Ralisch, da Universidade Estadual de Londrina e membro da FEBRAPDP.
Brasil: 30 milhões de hectares para irrigar
Calcula-se que no território brasileiro 29 milhões de hectares são aptos ao uso da agricultura irrigada. Estima-se que em 2015 o Brasil atingiu a marca de 6,95 milhões de hectares irrigados e a expectativa é que haja incremento de três milhões de hectares (40% de aumento), alcançando em dez anos cerca de dez milhões de hectares irrigados. Atualmente, do total da água captada para fins de irrigação, não mais que 50% são efetivamente utilizados pelas plantas, em razão de três fatores principais: pouca utilização de critérios técnicos para manejo da água na maioria das áreas irrigadas; informações escassas e incompletas de parâmetros climáticos e da água disponível no solo para fins de manejo e reposição; e baixa eficiência de uso e aplicação da água nos sistemas irrigados.
Foto: Divulgacão Embrapa
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