Conhecimento pode ampliar a adoção dos sistemas integrados
Conhecimento pode ampliar a adoção dos sistemas integrados
O segundo dia do II Congresso Mundial sobre Sistemas de ILPF (05/05) levantou a discussão sobre os fatores limitantes para ampliar a adoção de sistemas de produção integrados, desde o ensino, a extensão e a construção de indicadores socioeconômicos no Brasil. A difusão de conhecimentos através da formação de recursos humanos foi destaque nas palestras do painel “Temas Atuais em ILPF”.
Atualmente, existem 201 faculdades de agronomia no País. Em apenas 13% das faculdades existe uma disciplina de sistemas integrados. Na pós-graduação, o número sobe para 23%. A maior concentração de cursos de pós-graduação com linhas de pesquisa em sistemas integrados está na Região Sul, que conta com 9 programas de pós-graduação voltados à formação de recursos humanos associados ao tema. Nos últimos dez anos, 84% das teses sobre sistemas integrados defendidas no Brasil foram nas universidades da Região Sul.
O cenário foi apresentado pelo pesquisador Paulo Carvalho, da UFRGS, destacando a dificuldade de ampliar o alcance de conhecimentos sobre sistemas integrados sem a formação de profissionais com a visão holística da produção agropecuária. “Enfrentamos a tendência à especialização, com profissionais menos focados em processos. Isso tem gerado uma uniformização na paisagem agrícola”, avalia Carvalho, lembrando que a formação de recursos humanos em sistemas integrados exige uma visão sistêmica, com múltiplas habilidades e capacidade de agir em situações mais complexas da produção agropecuária.
“Conseguir preparar um profissional capaz de atender sozinho a produção de grãos, de animais e de árvores ainda é um desafio. Exige a desconstrução da especialização para criar um conceito de sistema que sai da universidade para a propriedade, num planejamento de longo prazo na integração das atividades rurais”, diz Carvalho.
A carência de recursos humanos em sistemas integrados no mercado abre espaço para o empreendedorismo. De acordo com Davi Teixeira dos Santos, criador da SIA (Serviço de Inteligência em Agronegócios) a demanda por profissionais para atuar em Integração Lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é crescente. A empresa já atende mais de 2 mil propriedades rurais em 8 estados brasileiros e começa a atuar também no Uruguai. Hoje são 80 colaboradores na SIA e a expectativa é de crescimento. Segundo Davi, a empresa foi criada com o objetivo de levar a ciência para o campo, facilitando a aplicação do conhecimento científico. “Empreender no campo é fazer algo além de produzir e gerar riqueza. É enxergar o futuro e promover as mudanças”, define Davi.
Indicadores socioeconômicos de ILPF
No Brasil, apenas 3,2% da área com atividade agrícola utiliza sistemas de Integração Lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Um dos principais motivos de resistência do produtor na adoção dos sistemas integrados é a falta de informações sobre resultados econômicos e métricas balizadoras nas diferentes regiões. Assim como nas universidades e institutos de pesquisa, a Embrapa trabalha na construção destes indicadores para ajudar na tomada de decisão do produtor.
O economista Júlio Cesar dos Reis, da Embrapa Agrossilvipastoril, avaliou o retorno econômico do ILPF durante dez anos no norte do Mato Grosso. No conjunto dos anos, o investimento em sistemas integrados foi mais positivo: para cada US$ 1,00 (um dólar) investido no sistema ILPF, retornou US$ 1,78 para a propriedade. “Quando avaliamos o ano de 2020, os números começaram a mudar, já que a lavoura de larga escala tende a apresentar retorno maior quando as cotações das commodities estão em alta”, explicou Reis, evidenciando a lucratividade da soja e da pecuária sobre o ILPF.
Contudo, segundo ele, os sistemas especializados têm uma variação maior de retorno econômico, enquanto a integração é mais competitiva a longo prazo, além de minimizar os riscos na produção: “Dificilmente todas as atividades sofrerão queda na lucratividade ao mesmo tempo, então a diversidade dos sistemas integrados permite maior segurança ao produtor”, explica o economista, que conclui: “Precisamos superar a avaliação dos componentes isolados e ajudar o produtor a ver a perspectiva de um sistema mais complexo que vai além de um ano agrícola”.
II CONGRESSO MUNDIAL SOBRE SISTEMAS DE ILPF
World Congress on Integrated Crop-Livestock-Forestry Systems – WCCLF
Dias 4 e 5 de maio de 2021
Joseani Antunes (MTb 9693/RS)
Embrapa Trigo
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