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Pesquisadores criam método para calcular impactos de mudanças de uso da terra no Brasil
Cientistas acabam de desenvolver a primeira ferramenta capaz de estimar de forma consistente os impactos provocados por mudança de uso da terra (LUC, na sigla em inglês) para todo o território brasileiro. Criado em parceira entre Embrapa e o instituto KTH, da Suécia, o BRLUC é um método capaz de estimar taxas de emissão de gás carbônico (CO2) associadas aos 64 cultivos disponíveis na base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Pesquisadores acreditam que o método deve se tornar fonte fundamental para estudos nacionais de pegada de carbono e avaliação de ciclo de vida (ACV). Informações sobre mudança do uso da terra são obrigatórias nesses trabalhos, porém seu cálculo é bastante complexo. Além disso, essas mudanças costumam representar considerável parcela de emissões de gases de efeito estufa em países em desenvolvimento. Esse é o caso do Brasil. Isso aumenta a importância de um meio que forneça estimativas confiáveis e que considerem as condições brasileiras.
Existem várias metodologias e estimativas internacionais de LUC para o Brasil, mas geralmente utilizam dados e premissas globais e de baixa representatividade da dinâmica da agricultura brasileira. Muitas não consideram, por exemplo, a existência de mais de uma safra por ano e a enorme heterogeneidade do território nacional. Com isso, é comum que os resultados sejam muito distantes da realidade e deixem de expressar os avanços de sustentabilidade implementados no País.
Conforme Renan Novaes, analista da Embrapa Meio Ambiente (SP) e um dos criadores do BRLUC, a metodologia foi desenvolvida seguindo a lógica do pensamento de ciclo de vida e está baseada em padrões internacionais. “Basicamente, o objetivo de métodos nessa linha é estimar quais os tipos de uso da terra (agricultura, pecuária, silvicultura ou vegetação nativa) cederam área para a expansão de um cultivo ‘X’ nos últimos 20 anos. A partir da obtenção de porcentagens de quanto cada uso da terra cedeu, calculam-se as emissões ou sequestros de CO2 que ocorreram devido a essa mudança e atribui-se essa alteração no balanço de CO2 ao produto X”, detalha.
Novaes explica que cada uso da terra possui um estoque de carbono diferente e conforme o padrão de mudança de uso, o cultivo analisado apresenta um valor de emissão ou sequestro de CO2 por hectare. Esse número é então utilizado para compor a pegada de carbono dos produtos agrícolas. “O método BRLUC permite essa estimativa de acordo com padrões internacionais, porém considerando as particularidades do Brasil e utiliza bases de dados oficiais e mais detalhadas”, destaca o especialista.
Além disso, a ferramenta incorpora especificidades da agricultura tropical e lida com a escassez de informações sobre transições históricas de uso da terra para cada cultivo. Essas informações ou não estão disponíveis ou estão muito recortadas no espaço e no tempo. “Para contornar isso, desenvolvemos cenários de emissões mínimas e máximas nos últimos 20 anos para cada cultivo. Nossos resultados mostram que essa variação pode ser muito grande e ter impactos enormes nos resultados e a maioria dos standards internacionais não leva isso em conta”, explica Novaes.
O método, de Renan Novaes, Ricardo Pazianotto e Marilia Folegatti-Matsuura, da Embrapa Meio Ambiente, Miguel Brandão, do KTH (Suécia), Bruno Alves, da Embrapa Agrobiologia (RJ), e de Andre May, da Embrapa Milho e Sorgo (MG), acabou de ser publicado na Global Change Biology.
Também estão disponíveis para download gratuito em página do site da Embrapa um script de computador que permite que qualquer interessado rode ou customize o método e uma planilha para consulta de todos os resultados para qualquer cultivo ou estado.
Alguns resultados foram apresentados recentemente em seminário voltado para especialistas da área. Os dados já estão sendo demandados por diversas instituições que desenvolvem estudos de pegada de carbono e ACV. “Como o cálculo desse fator é complexo, os especialistas têm de dispender muito tempo para obter esses números. O método facilitará muito esse trabalho,” afirma Novaes.
Para Matheus Fernandes, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o método apresentado é de enorme importância para a comunidade, pois está alinhado às principais diretrizes internacionais que tratam do tema e, ao mesmo tempo, trabalha com base de dados nacional. “Ao considerar as características do País, o BRLUC trará um resultado mais fiel à realidade brasileira e aumentará a confiabilidade dos diagnósticos gerados por meio desse método,” acredita Fernandes. “Há algumas questões a serem melhoradas, porém é o primeiro passo para a consolidação de um método regionalizado”, considera o especialista.
Otavio Cavalett, do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol, também conheceu esse método e o considera resultado do esforço de importantes profissionais brasileiros da área ambiental. “A ferramenta será importante não só para internalizar discussões mundiais acerca dos impactos climáticos oriundos das mudanças diretas e indiretas no uso do terra, como também propor alterações metodológicas importantes para melhor representar as especificidades dessa dinâmica dos usos da terra na agricultura brasileira”, afirma Cavalett.
Cristina Tordin (MTb 28499/SP)
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