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Uso de herbicidas no manejo de adubos verdes reduz macrofauna do solo
O uso de herbicidas pode reduzir a quantidade de organismos do solo em mais de 50%. É o que observa um estudo realizado na região serrana fluminense. O resultado surpreendeu pesquisadores, uma vez que essa fauna tem papel importante na manutenção da fertilidade e da qualidade do solo. “Sabíamos que os herbicidas afetam os organismos do solo, mas não imaginávamos que fosse tanto assim”, relata a pesquisadora da Embrapa Agrobiologia (RJ) Adriana Aquino, que participou do estudo. “Trabalhamos com a classificação taxonômica bastante elevada, nível de ordens. Por isso, ver uma diminuição de mais da metade das ordens de organismos do solo significa um universo de inúmeras espécies. Realmente não esperávamos isso”, afirma.
A consequência da diminuição dessa macrofauna é negativa para o meio ambiente, pois esses organismos são responsáveis por processos-chave para a sustentabilidade, como a decomposição, fundamental para a ciclagem dos nutrientes e a restauração da fertilidade natural do terreno. “Alguns, como minhocas, cupins, larvas e formigas, por exemplo, influenciam na própria estrutura do solo, formando túneis e galerias, e são chamados de engenheiros do solo, pois ajudam também na sua descompactação”, explica a bióloga Tayana Scheiffer, doutoranda na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que também atuou nos trabalhos.
A pesquisa avaliou a diversidade e a abundância da fauna invertebrada do solo em áreas em que foram utilizados os adubos verdes tremoço branco e aveia preta, sozinhos ou consorciados, com e sem herbicida. Os resultados do trabalho serão apresentados na Conferência Internacional de Pesquisa para o Desenvolvimento Sustentável em Regiões Montanhosas, durante o Mountains 2018, neste mês de dezembro, em Nova Friburgo (RJ).
Impacto depende de adubo
Scheiffer explica que o percentual de redução na fauna do solo pelo uso de herbicidas varia de acordo com o tipo de adubo verde utilizado. “Quando se trata da fauna da superfície do solo para vegetação espontânea, o produto reduziu em mais de 60% os organismos quando foram usados tremoço e consórcio de tremoço com aveia preta, mas não houve uma redução significativa quando se usou aveia preta sozinha”, aponta. Para a fauna que vive abaixo da superfície do solo, a influência do herbicida foi bastante significativa nos três casos – aveia, tremoço e consórcio. “Na aplicação sobre o tremoço, especificamente, o número de organismos por metro quadrado foi reduzido em dez vezes e o número de grupos caiu pela metade”, destaca.
Adriana Aquino lembra, no entanto, que a tarefa de reduzir o uso de herbicidas na região não é tão simples. “Sabemos que a preocupação ambiental não sensibiliza tanto os agricultores quanto a questão econômica. Portanto, é preciso destacar a função desses organismos do solo e fazer um trabalho de mobilização para melhorar a percepção dos produtores”, sugere. Scheiffer acrescenta um argumento financeiro a ser apresentado aos produtores, de que “com a diminuição da abundância e da diversidade dos organismos, o agricultor se torna mais dependente dos fertilizantes químicos, que são caros e poluentes”.
Por isso, os cientistas recomendam que os produtores se atentem às boas práticas de manejo, para que os benefícios dos adubos verdes sejam obtidos sem prejudicar o solo. “Uma opção é o uso de triturador acoplado ao trator. Isso deve ser feito no momento de máxima produção vegetativa, quando tem início o período reprodutivo das plantas, de modo a evitar que ocorra a rebrota e a germinação, com o tombamento das plantas antes de produzirem sementes”, explica o pesquisador da Embrapa Agrobiologia Renato Linhares de Assis, que também participou do estudo.
Trabalho iniciado após deslizamentos em 2011
A pesquisa foi motivada inicialmente pela necessidade de descobrir uma forma de melhorar a qualidade dos solos levando em conta práticas conservacionistas, como o uso de adubos verdes, capazes de reverter o quadro de degradação verificado após as fortes chuvas de 2011. Scheiffer diz que os agricultores mostraram boa receptividade na utilização de plantas de cobertura e alguns até já empregavam a aveia preta. No entanto, a bióloga conta que eles geralmente enfrentam dificuldade no manejo da planta sem o uso de herbicidas, o que acaba afetando a biota do solo e os processos ecológicos.
Tendo isso em vista, a equipe buscou informações sobre o uso dos adubos verdes na região e as consequências da utilização de produtos químicos na cobertura do solo. “Avaliamos a influência do herbicida sobre a taxa de decomposição das palhadas do tremoço branco e da aveia preta, além da diversidade e abundância da fauna invertebrada do solo, que está diretamente ligada à qualidade e à fertilidade dos terrenos”, detalha a bióloga.
Adubos verdes melhoram a produtividade do solo
O uso de adubos verdes em regiões montanhosas é recomendado para aumentar a produtividade do solo, além de contribuir para minimizar as perdas por erosão, devido à declividade acentuada das lavouras. Em Nova Friburgo (RJ), onde está situado o Núcleo de Pesquisa e Treinamento para Agricultores (NPTA) – ligado à Embrapa Agrobiologia, à Embrapa Solos e à Embrapa Agroindústria de Alimentos –, um dos adubos verdes mais estudados é a aveia preta. “Trata-se de uma gramínea que aporta grande quantidade de massa e tem uma palhada com decomposição mais lenta, o que é interessante para a manutenção da cobertura do solo por mais tempo. Além disso, suas raízes atuam como uma espécie de rede, segurando o solo e minimizando as perdas”, explica Scheiffer.
Ela explica as qualidades do tremoço branco: “Por ser uma planta da família das leguminosas, ele é vantajoso por realizar a fixação biológica do nitrogênio”. Após sua decomposição, o nitrogênio retorna ao solo, ficando disponível para as culturas plantadas na sequência. “No entanto, sua decomposição é mais rápida do que a das gramíneas, o que não é interessante quando se pretende manter um solo coberto”, pondera.
Os estudos conduzidos pela bióloga em Nova Friburgo mostraram que o consórcio de aveia e tremoço é vantajoso, por usufruir tanto das características das gramíneas, que produzem grande quantidade de massa, quanto das leguminosas, que fazem o aporte de nitrogênio para o solo.
Como foi feita a pesquisaDesenvolvido de 2014 a 2016 na área do Centro Educacional Familiar de Formação por Alternância Rei Alberto I, na área rural do município de Nova Friburgo, o estudo envolveu quatro experimentos de campo distintos: um com cobertura de aveia preta, outro com tremoço branco, um terceiro com um consórcio entre essas duas plantas e um último em que se deixou a vegetação espontânea crescer. Cento e vinte dias após a semeadura das plantas de cobertura, foi avaliada a quantidade de massa fresca e seca que aportava por metro quadrado, bem como a quantidade de nutrientes. Isso demonstrou a produtividade das plantas. Em seguida, quando a aveia estava na fase de grão leitoso e o tremoço em floração, as plantas foram manejadas. Para reproduzir a forma de manejo utilizada por agricultores da região, aplicou-se o herbicida glifosato em metade do experimento. Na outra metade, as plantas foram roçadas. Quando as palhadas estavam depositadas sobre o solo, a equipe avaliou a decomposição das plantas ao longo do tempo por meio de um método chamado litter bags – espécie de bolsas contendo as palhadas, que ficam em contato direto com o solo e têm uma malha que permite a entrada dos invertebrados. A macrofauna de invertebrados, por sua vez, foi amostrada 90 dias após o manejo das plantas de cobertura, nas profundidades de 10, 20 e 30 centímetros, sendo que os indivíduos de cada amostra foram contados e identificados em grandes grupos taxonômicos. Por fim, os invertebrados da superfície foram analisados por meio de armadilhas de queda (pitfall traps). Foram calculados os índices ecológicos de abundância, densidade de indivíduos e frequência relativa de cada grupo. |
Liliane Bello (MTb 01799/GO)
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